Running: it's basically just right, left, right, left, yeah? I mean, we've been doing it for two million years, so it's kind of arrogant to assume that I've got something to say that hasn't been said and performed better a long time ago. But the cool thing about running, as I've discovered, is that something bizarre happens in this activity all the time. Case in point: A couple months ago, if you saw the New York City Marathon, I guarantee you, you saw something that no one has ever seen before.
Correr: resume-se a direita, esquerda, direita, esquerda, não é? Andamos a fazê-lo há dois milhões de anos, por isso é um pouco arrogante presumir que tenho alguma coisa a dizer que não tenha sido dito e feito melhor, já há muito tempo. Mas descobri o que correr tem de interessante. Acontece um coisa estranha nesta atividade a toda a hora. O caso em questão: Há uns meses, se viram a Maratona de Nova Iorque, eu garanto que viram uma coisa que ninguém tinha visto antes.
An Ethiopian woman named Derartu Tulu turns up at the starting line. She's 37 years old. She hasn't won a marathon of any kind in eight years, and a few months previously, she had almost died in childbirth. Derartu Tulu was ready to hang it up and retire from the sport, but she decided she'd go for broke and try for one last big payday in the marquee event, the New York City Marathon. Except -- bad news for Derartu Tulu -- some other people had the same idea, including the Olympic gold medalist, and Paula Radcliffe, who is a monster, the fastest woman marathoner in history by far. Only 10 minutes off the men's world record, Paula Radcliffe is essentially unbeatable. That's her competition.
Aparece na linha de partida uma mulher etíope chamada Derartu Tulu Tem 37 anos, não ganha qualquer tipo de maratona há 8 anos, e uns meses antes, quase morreu durante o parto. Derartu Tulu estava preparada para arrumar as botas e retirar-se do desporto, mas decidiu arriscar tudo e tentar ganhar um último grande prémio no popular evento, a Maratona de Nova Iorque. Só que — infelizmente para Derartu Tulu — outras pessoas tiveram a mesma ideia, incluindo a campeã olímpica e Paula Radcliffe, que é um fenómeno, de longe a maratonista mais rápida da história. Apenas a 10 minutos do recorde mundial masculino, Paula Radcliffe, praticamente, é invencível. É contra elas que compete.
The gun goes off, and -- I mean, she's not even an underdog; she's, like, under the underdogs. But the under-underdog hangs tough, and 22 miles into a 26-mile race, there is Derartu Tulu, up there with the lead pack. Now, this is when something really bizarre happens. Paula Radcliffe, the one person who is sure to snatch the big paycheck from Derartu Tulu's under-underdog hands, suddenly grabs her leg and starts to fall back. So we all know what to do in this situation, right? You give her a quick crack in the teeth with your elbow and blaze for the finish line. Derartu Tulu ruins the script. Instead of taking off, she falls back and she grabs Paula Radcliffe, and says, "Come on. Come with us. You can do it." So Paula Radcliffe, unfortunately, does it. She catches up with the lead pack and is pushing toward the finish line. But then she falls back again. The second time, Derartu Tulu grabs her and tries to pull her. And Paula Radcliffe, at that point, says, "I'm done. Go." So that's a fantastic story, and we all know how it ends. She loses the check, but she goes home with something bigger and more important. Except Derartu Tulu ruins the script again. Instead of losing, she blazes past the lead pack and wins. Wins the New York City Marathon, goes home with a big fat check.
A arma dispara e ela nem sequer é marginal, está à margem dos marginais. Mas a marginal aguenta-se, dá luta. Aos 36 km de uma corrida de 42 km, Derartu Tulu está no pelotão da frente. É agora que acontece uma coisa muito estranha. Paula Radcliffe, a única pessoa convencida que vai tirar o cheque das mãos da marginal Derartu Tulu, subitamente agarra-se à perna e começa a perder terreno. Todos sabemos o que fazer nesta situação. É dar-lhe de uma cotovelada nos dentes e disparar na direção da linha de chegada. Derartu Tulu dá cabo do guião. Em vez de ganhar distância, fica para trás, agarra em Paula Radcliffe e diz: "Anda. Vem connosco. Tu consegues." Então Paula Radcliffe, infelizmente, consegue. Alcança o pelotão da frente e aproxima-se da meta. Mas depois perde terreno de novo. Pela segunda vez Derartu Tulu tenta puxar por ela. E Paula Radcliffe neste momento diz: "Estou feita. Vai." Esta é uma história fantástica e todos sabemos como acaba. Ela perde o cheque, mas vai para casa com uma coisa maior e mais importante. Só que Derartu Tulu estraga o guião de novo. Em vez de perder, ela passa, fulminante, pelo pelotão e ganha, ganha a Maratona de Nova Iorque, vai para casa com um belo e gordo cheque.
It's a heartwarming story, but if you drill a little bit deeper, you've got to sort of wonder about what exactly was going on there. When you have two outliers in one organism, it's not a coincidence. When you have someone who is more competitive and more compassionate than anybody else in the race, again, it's not a coincidence. You show me a creature with webbed feet and gills; somehow water's involved.
É uma história que aquece o coração, mas se escavarmos um pouco mais fundo, temos de nos perguntar o que se passou ali exatamente. Quando temos dois dados atípicos num organismo, não é uma coincidência. Quando temos uma pessoa que é mais competitiva e mais compassiva do que toda a gente na corrida, não é coincidência. Mostrem-me uma criatura com membranas interdigitais e guelras. Há água envolvida. Alguém com aquele tipo de coração.
Someone with that kind of heart, there's some kind of connection there. And the answer to it, I think, can be found down in the Copper Canyons of Mexico, where there's a reclusive tribe, called the Tarahumara Indians. Now, the Tarahumara are remarkable for three things. Number one is: they have been living essentially unchanged for the past 400 years. When the conquistadors arrived in North America you had two choices: you either fight back and engage or you could take off. The Mayans and Aztecs engaged, which is why there are very few Mayans and Aztecs. The Tarahumara had a different strategy. They took off and hid in this labyrinthine, networking, spider-webbing system of canyons called the Copper Canyons. And there they've remained since the 1600s, essentially the same way they've always been.
Há ali algum tipo de ligação. E a resposta, penso eu, pode ser encontrada na Garganta de Cobre no México, onde há uma tribo, uma tribo isolada, os índios Tarahumara. Os Tarahumara são notáveis por causa de três coisas. Em primeiro lugar, vivem essencialmente sem alterações há 400 anos. Quando os conquistadores chegaram à América do Norte, havia duas possibilidades: ou se ficava para lutar ou se fugia. Os maias e os aztecas ficaram e é por isso que há muito poucos maias e aztecas. Os Tarahumara tiveram uma estratégia diferente. Fugiram e esconderam-se numa rede labiríntica, um sistema de gargantas rochosas chamado Garganta de Cobre e lá permaneceram desde a década de 1600, praticamente da mesma forma de sempre.
The second thing remarkable about the Tarahumara is: deep into old age -- 70 to 80 years old -- these guys aren't running marathons; they're running mega-marathons. They're not doing 26 miles, they're doing 100, 150 miles at a time, and apparently without injury, without problems.
A segunda coisa notável acerca dos Tarahumara é que, até idade avançada — 70 ou 80 anos — estes tipos não correm maratonas, correm megamaratonas Eles não fazem 42 quilómetros, fazem 150 a 250 km de cada vez, e aparentemente sem lesões, sem problemas.
The last thing that's remarkable about the Tarahumara is: all the things we're going to be talking about today, all the things we're trying to use all of our technology and brain power to solve -- things like heart disease and cholesterol and cancer; crime, warfare and violence; clinical depression -- all this stuff -- the Tarahumara don't know what you're talking about. They are free from all of these modern ailments.
A última coisa que é notável acerca dos Tarahumara é que todas as coisas de que vamos falar hoje, todas as coisas em que estamos a tentar usar a nossa tecnologia e capacidade cerebral para resolver, coisas como doenças cardíacas, colesterol e cancro, crime, guerra, violência e depressão clínica, tudo isto, os Tarahumara não fazem ideia do que é. Eles estão isentos de todas estas doenças modernas.
So what's the connection? Again, we're talking about outliers; there's got to be some kind of cause and effect. Well, there are teams of scientists at Harvard and the University of Utah that are bending their brains and trying to figure out what the Tarahumara have known forever. They're trying to solve those same kinds of mysteries. And once again, a mystery wrapped inside of a mystery -- perhaps the key to Derartu Tulu and the Tarahumara is wrapped in three other mysteries, which go like this: Three things -- if you have the answer, come up and take the microphone, because nobody else knows the answer. If you know it, you're smarter than anybody on planet Earth.
Então qual é a ligação? Estamos a falar de dados atípicos. Tem de haver qualquer causa e efeito. Há equipas de cientistas em Harvard e na Universidade do Utah que estão a dar voltas à cabeça a tentar descobrir o que os Tarahumara sabem desde sempre. Estão a tentar resolver estes mesmos tipos de mistérios. Mais uma vez, um mistério envolto noutro mistério, talvez a chave para Derartu Tulu e para os Tarahumara ande à volta de três outros mistérios. Se alguém tem a resposta, suba e pegue no microfone, porque mais ninguém sabe a resposta. Se o souber, é mais inteligente que qualquer pessoa no planeta.
Mystery number one is this: Two million years ago, the human brain exploded in size. Australopithecus had a tiny little pea brain. Suddenly humans show up, Homo erectus, big old melon head. To have a brain of that size, you need to have a source of condensed caloric energy. In other words, early humans are eating dead animals -- no argument, that's a fact. The only problem is, the first edged weapons only appeared about 200,000 years ago.
O mistério número um é: Há dois milhões de anos o cérebro humano aumentou imenso de tamanho. O Australopiteco tinha um cérebro de ervilha. De repente aparecem os humanos — o Homo erectus — com uma grande cabeça de melão. Para um cérebro desse tamanho, é necessário ter uma fonte de energia calórica condensada. Por outras palavras, os primeiros homens andam a comer animais mortos, não há discussão, é um facto. O problema é que as primeiras armas afiadas só apareceram há uns 200 000 anos.
So somehow, for nearly two million years, we are killing animals without any weapons. Now, we're not using our strength, because we are the biggest sissies in the jungle. Every other animal is stronger than we are, they have fangs, they have claws, they have nimbleness, they have speed. We think Usain Bolt is fast. Usain Bolt can get his ass kicked by a squirrel. We're not fast. That would be an Olympic event: turn a squirrel loose, whoever catches it gets a gold medal.
Então, durante cerca de dois milhões de anos, andamos a matar animais sem quaisquer armas. Não usamos a nossa força porque somos os maiores maricas da selva. Qualquer outro animal é mais forte do que nós. Têm presas, têm garras, têm agilidade, têm velocidade. Pensamos que Usain Bolt é rápido. Usain Bolt leva uma tareia de um esquilo. Não éramos rápidos. Isso é que seria uma proeza olímpica: soltar um esquilo. Quem apanhar o esquilo, recebe uma medalha de ouro.
(Laughter)
Não temos armas, nem velocidade, nem força, nem presas, nem garras.
So no weapons, no speed, no strength, no fangs, no claws. How were we killing these animals? Mystery number one.
Como é que matávamos os animais? Mistério número um.
Mystery number two: Women have been in the Olympics for quite some time now, but one thing that's remarkable about all women sprinters: they all suck; they're terrible. There's not a fast woman on the planet and there never has been. The fastest woman to ever run a mile did it in 4:15. I could throw a rock and hit a high-school boy who can run faster than 4:15. For some reason, you guys are just really slow. But --
Mistério número dois: As mulheres estão nas Olimpíadas já há algum tempo, mas há uma coisa notável em todas as velocistas. não prestam, são todas péssimas. Não há uma mulher rápida no planeta e nunca houve. O tempo mais rápido de uma mulher nos 1500m foi de 4,15. Se atirar uma pedra ao ar consigo acertar num rapazito que corre em menos de 4,15. Por alguma razão vocês são mesmo lentas. (Risos)
(Laughter)
Mas ao chegar à maratona de que estávamos a falar
But, you get to the marathon we were just talking about -- you've only been allowed to run the marathon for 20 years, because prior to the 1980s, medical science said if a woman tried to run 26 miles -- does anyone know what would happen if you tried to run 26 miles? Why you were banned from the marathon before the 1980s?
— só vos deixaram correr a maratona desde há 20 anos. porque, antes dos anos 80, a ciência médica dizia que, se uma mulher tentasse correr 42 km... Alguém sabe o que aconteceria, se tentassem correr 42 km? Porque é que foram banidas da maratona antes dos anos 80? O útero dela ficaria despedaçado.
Audience Member: Her uterus would be torn.
Christopher McDougall: Her uterus would be torn, yes. Torn reproductive organs. The uterus would literally fall out of the body.
Ficaria com os órgãos reprodutivos despedaçados. O útero cairia, literalmente. cairia para fora do corpo.
(Laughter)
Eu já fui a muitas maratonas,
Now, I've been to a lot of marathons, and I've yet to see any ...
e ainda estou para ver isso. (Risos)
(Laughter)
Passaram-se 20 anos desde que se permitiu que as mulheres corressem a maratona.
So it's only been 20 years that women have been allowed to run the marathon. In that very short learning curve, you've gone from broken organs up to the fact that you're only 10 minutes off the male world record.
Nessa curva de aprendizagem muito curta, vocês passaram dos órgãos despedaçados para estarem apenas a 10 minutos do recorde mundial masculino.
Then you go beyond 26 miles, into the distance that medical science also told us would be fatal to humans -- remember Pheidippides died when he ran 26 miles -- you get to 50 and 100 miles, and suddenly, it's a different game. You take a runner like Ann Trason or Nikki Kimball or Jenn Shelton, put them in a race of 50 or 100 miles against anybody in the world, and it's a coin toss who's going to win. I'll give you an example. A couple years ago, Emily Baer signed up for a race called the Hardrock 100, which tells you all you need to know about the race. They give you 48 hours to finish this race. Well, Emily Baer -- 500 runners -- she finishes in eighth place, in the top 10, even though she stopped at all the aid stations to breastfeed her baby during the race.
A seguir foram mais longe que os 42 km, até à distância que a ciência médica dizia ser fatal para os humanos — Fidípides morreu ao correr 42 km — temos os 80 e os 150 km. De repente, mudam as regras do jogo. Pegamos numa atleta como Ann Trason, Nikki Kimball ou Jenn Shelton. Elas correm 80 ou 150 km contra qualquer pessoa no mundo e atiramos uma moeda ao ar para ver quem ganha. Dou-vos um exemplo. Há uns dois anos, Emily Baer inscreveu-se na corrida Hardrock 100 [milhas] que vos diz o que precisam de saber sobre a corrida. Dão-vos 48 horas para acabar esta corrida. Entre 500 atletas, Emily Baer termina em oitavo lugar, no top 10. Apesar de parar em todas os postos de apoio, para amamentar o bebé durante a corrida,
(Laughter)
venceu 492 pessoas.
And yet, she beat 492 other people. The last mystery: Why is it that women get stronger as distances get longer? The third mystery is this: At the University of Utah, they started tracking finishing times for people running the marathon. What they found is that if you start running the marathon at age 19, you'll get progressively faster, year by year, until you reach your peak at age 27. And then after that, you succumb to the rigors of time. And you'll get slower and slower, until eventually you're back to running the same speed you were at age 19. So about seven, eight years to reach your peak, and then gradually you fall off your peak, until you go back to the starting point. You'd think it might take eight years to go back to the same speed, maybe 10 years -- no, it's 45 years. 64-year-old men and women are running as fast as they were at age 19. Now, I defy you to come up with any other physical activity -- and please don't say golf -- something that's actually hard --
O último mistério: Porque é que as mulheres ficam mais fortes à medida que as distâncias aumentam? O terceiro mistério é este: Na Universidade de Utah, começaram a registar os tempos das pessoas que correm a maratona. Descobriram que, quem começa a correr a maratona aos 19 anos, fica progressivamente mais rápido, ano após ano, até atingir o auge aos 27 anos. Depois disso, sucumbe-se aos rigores do tempo. Fica-se cada vez mais lento, até voltar a correr à mesma velocidade que aos 19 anos. Portanto, cerca de sete, oito anos para atingir o auge, e depois gradualmente vai-se caindo, até voltar ao ponto de partida. Seria de esperar que demorasse oito anos para voltar à mesma velocidade, talvez 10 anos — não, são 45 anos. Homens e mulheres de 60 anos estão a correr tão depressa como aos 19 anos. Desafio-vos a mostrarem-me outra atividade física — por favor não digam golfe — uma coisa realmente difícil,
(Laughter)
em que os idosos têm um desempenho
where geriatrics are performing as well as they did as teenagers.
tão bom como quando eram adolescentes.
So you have these three mysteries. Is there one piece in the puzzle which might wrap all these things up? You've got to be careful anytime someone looks back in prehistory and tries to give you a global answer because, it being prehistory, you can say whatever the hell you want and get away with it. But I'll submit this to you: If you put one piece in the middle of this jigsaw puzzle, suddenly it all starts to form a coherent picture. If you're wondering why the Tarahumara don't fight and don't die of heart disease, why a poor Ethiopian woman named Derartu Tulu can be the most compassionate and yet the most competitive, and why we somehow were able to find food without weapons, perhaps it's because humans, as much as we like to think of ourselves as masters of the universe, actually evolved as nothing more than a pack of hunting dogs.
Assim, temos estes três mistérios. Há alguma peça do "puzzle" que possa ligar todas estas coisas? É preciso muito cuidado, sempre que olhamos para a pré-história e tentamos dar uma resposta global, porque, tratando-se de pré-história, podemos dizer o que quisermos, sem quaisquer consequências. Mas pensem nisto: Se pusermos uma peça no meio deste "puzzle", começa tudo a formar uma imagem coerente. Se perguntarmos porque é que os Tarahumara não lutam e não morrem de doenças cardíacas, porque é que uma pobre mulher etíope chamada Derartu Tulu pode ser a mais compassiva e, no entanto, a mais competitiva, e porque é que conseguimos arranjar comida sem armas, talvez seja apenas porque os seres humanos, por muito que gostemos de pensar em nós mesmos como senhores do universo, evoluíram como uma matilha de cães de caça.
Maybe we evolved as a hunting pack animal. Because the one advantage we have in the wilderness -- again, it's not our fangs, our claws or our speed -- the only thing we do really well is sweat. We're really good at being sweaty and smelly. Better than any other mammal on Earth, we can sweat really well. But the advantage of that little bit of social discomfort is the fact that, when it comes to running under hot heat for long distances, we're superb -- the best on the planet. You take a horse on a hot day, and after about five or six miles, that horse has a choice: it's either going to breathe or it's going to cool off. But it ain't doing both. We can. So what if we evolved as hunting pack animals? What if the only natural advantage we had in the world was the fact that we could get together as a group, go out there on that African savanna, pick out an antelope, go out as a pack, and run that thing to death? That's all we could do. We could run really far on a hot day.
Talvez tenhamos evoluído como um animal que caça em grupo. Porque a única vantagem que temos na Natureza — não são as presas ou as garras ou a velocidade — a única coisa que fazemos mesmo bem é suar. Somos muito bons no que toca a suar e cheirar mal. Suamos muito melhor que qualquer outro mamífero na Terra. Mas a vantagem deste pequeno desconforto social é o facto de que, quando se trata de correr debaixo de grande calor durante longas distâncias, somos esplêndidos, somos os melhores do planeta. Pegamos num cavalo num dia quente, e ao fim de 10 ou 12 km, esse cavalo tem duas hipóteses. Ou vai continuar a respirar ou vai arrefecer, mas não vai fazer as duas coisas — nós conseguimos. E se tivermos evoluído como animais que caçam em grupo? E se a única vantagem natural que tínhamos no mundo fosse podemos juntar-nos em grupo, ir para a savana africana, escolher um antílope sair como uma matilha e fazer o animal correr até ele morrer? Era só o que podíamos fazer, podíamos correr muito depressa num dia quente.
Well, if that's true, a couple other things had to be true as well. The key to being part of a hunting pack is the word "pack." If you go out by yourself and try to chase an antelope, I guarantee there will be two cadavers out in the savanna. You need a pack to pull together. You need to have those 64- and 65-year-olds who have been doing this for a long time to understand which antelope you're trying to catch. The herd explodes and it gathers back again. Those expert trackers have to be part of the pack. They can't be 10 miles behind. You need the women and the adolescents there, because the two times in your life you most benefit from animal protein is when you're a nursing mother and a developing adolescent. It makes no sense to have the antelope over there, dead, and the people who want to eat it 50 miles away. They need to be part of the pack. You need those 27-year-old studs at the peak of their powers ready to drop the kill, and you need those teenagers who are learning the whole thing involved. The pack stays together.
A ser verdade, também haveria outras coisas verdadeiras. A chave para haver um grupo de caça é a palavra "grupo." Se alguém sair sozinho e tentar perseguir um antílope, certamente vai haver dois cadáveres lá na savana. É preciso um grupo para trabalhar em conjunto. São precisas pessoas com 64, 65 anos que já fazem isto há muito tempo para perceber que antílope é que estão a tentar apanhar. A manada dispersa-se e volta a reunir-se. O grupo têm de incluir esses batedores experimentados. Não podem ficar 15 km para trás. As mulheres e os adolescentes têm que estar lá, porque a proteína animal beneficia sobretudo as mães lactantes e os adolescente em crescimento. Não faz sentido ter o antílope morto num sítio e as pessoas que o devem comer a 80 km de distância. Têm de fazer parte do grupo. São precisos os homens no auge das suas capacidades prontos para dar o golpe mortal, e os adolescentes que estão a aprender, todos envolvidos. O grupo mantém-se unido.
Another thing that has to be true: this pack cannot be materialistic. You can't be hauling all your crap around, trying to chase the antelope. You can't be a pissed-off pack. You can't be bearing grudges, like, "I'm not chasing that guy's antelope. He pissed me off. Let him go chase his own antelope." The pack has got to be able to swallow its ego, be cooperative, and pull together. What you end up with, in other words, is a culture remarkably similar to the Tarahumara, a tribe that has remained unchanged since the Stone Age. It's a really compelling argument that maybe the Tarahumara are doing exactly what all of us had done for two million years, that it's us in modern times who have sort of gone off the path.
Este grupo não pode ser muito materialista. Não se pode carregar muita tralha quando se persegue um antílope. O grupo não pode ser rancoroso, não pode haver ressentimentos. "Eu não vou atrás do antílope daquele tipo. "Ele chateou-me. Ele que vá atrás do seu antílope." O grupo tem de ser capaz de engolir o seu ego, de ser cooperante e trabalhar em conjunto. Por outras palavras, é uma cultura extraordinariamente semelhante à dos Tarahumara — uma tribo que se manteve inalterada desde a Idade da Pedra. É um argumento bastante convincente, o de que talvez os Tarahumara estejam a fazer exatamente o que todos nós fizemos durante dois milhões de anos. Fomos nós nos tempos modernos que nos desviámos desse caminho.
You know, we look at running as this kind of alien, foreign thing, this punishment you've got to do because you ate pizza the night before. But maybe it's something different. Maybe we're the ones who have taken this natural advantage we had and we spoiled it. How do we spoil it? Well, how do we spoil anything? We try to cash in on it. Right? We try to can it and package it and make it "better" and then sell it to people. And then what happened was, we started creating these fancy cushioned things which can make running "better," called running shoes.
Olhamos para a corrida como uma coisa estranha, alienígena, um castigo que temos de cumprir porque comemos pizza na noite anterior. Mas talvez seja outra coisa. Talvez tenhamos sido nós quem pegou nesta vantagem natural que tínhamos e a desperdiçou. Como é que a desperdiçámos? Como é que desperdiçamos uma coisa? Tentámos transformar essa vantagem em lucro, colocá-la numa embalagem, melhorá-la e vendê-la às pessoas. Começámos a criar belas coisas almofadadas, que melhoram a corrida, as chamadas sapatilhas de corrida.
The reason I get personally pissed-off about running shoes is because I bought a million of them and I kept getting hurt. And I think if anybody in here runs -- I just had a conversation with Carol. We talked for two minutes backstage, and she talked about plantar fasciitis. You talk to a runner, I guarantee within 30 seconds, the conversation turns to injury. So if humans evolved as runners, if that's our one natural advantage, then why are we so bad at it? Why do we keep getting hurt?
Fico pessoalmente irritado com as sapatilhas de corrida porque comprei um milhão delas e continuei a magoar-me. Penso que, se alguém aqui corre... Eu acabei de ter uma conversa com a Carol falámos dois minutos nos bastidores e ela falou de fascite plantar. Falem com um corredor, e garanto, passado 30 segundos, a conversa vai parar às lesões. Se os homens evoluíram como corredores, a nossa única vantagem natural, porque o fazemos tão mal e estamos sempre a magoar-nos? O curioso na corrida e nas lesões dela decorrentes
A curious thing about running and running injuries is that the running injury is new to our time. If you read folklore and mythology, any kind of myths, any kind of tall tales, running is always associated with freedom and vitality and youthfulness and eternal vigor. It's only in our lifetime that running has become associated with fear and pain. Geronimo used to say, "My only friends are my legs. I only trust my legs." That's because an Apache triathlon used to be you'd run 50 miles across the desert, engage in hand-to-hand combat, steal a bunch of horses, and slap leather for home. Geronimo was never saying, "You know something, my Achilles -- I'm tapering. I've got to take this week off." Or, "I need to cross-train. I didn't do yoga. I'm not ready."
é que elas são uma novidade do nosso tempo. Se lerem histórias populares, mitologia, qualquer tipo de mitos, de contos, correr está sempre associado à liberdade, à vitalidade, à jovialidade e ao vigor eterno. Foi só no nosso tempo que correr ficou associado ao medo e à dor. Gerónimo costumava dizer: "Os meus únicos amigos são as minhas pernas, só confio nelas." Isso era porque um triatlo apache consistia em correr 80 km pelo deserto, lutar à mão desarmada, roubar uma data de cavalos e fugir para casa. Gerónimo não dizia: "Ai, o meu tendão de Aquiles, estou com cãibras. "Preciso de tirar a semana," "Preciso de fazer exercícios diferentes. Não fiz ioga. Não estou preparado".
(Laughter)
Os seres humanos estavam sempre a correr.
Humans ran and ran all the time. We are here today. We have our digital technology. All of our science comes from the fact that our ancestors were able to do something extraordinary every day, which was just rely on their naked feet and legs to run long distances.
Nós hoje estamos aqui. Temos a nossa tecnologia digital. Toda a nossa ciência vem do facto de os nossos antepassados terem conseguido fazer um coisa extraordinária todos os dias: confiar nas suas pernas e nos seu pés nus para correr longas distâncias.
So how do we get back to that again? Well, I would submit to you the first thing is: get rid of all packaging, all the sales, all the marketing. Get rid of all the stinking running shoes. Stop focusing on urban marathons, which, if you do four hours, you suck, and if you do 3:59:59, you're awesome, because you qualified for another race. We need to get back to that sense of playfulness and joyfulness and, I would say, nakedness, that has made the Tarahumara one of the healthiest and serene cultures in our time. So what's the benefit? So what? So you burn off the Häagen-Dazs from the night before.
Como é que voltamos a isso? Eu diria que a primeira coisa é livrarmo-nos de tudo o que é embalagem, vendas, marketing. Livrarmo-nos das malditas sapatilhas de corrida. Deixarmos de nos concentrar nas maratonas urbanas, em que, se fizermos quatro horas, não prestamos. Se fizermos menos um centésimo de segundo somos os maiores e qualificamo-nos para outra corrida. Precisamos de recuperar a sensação do lúdico e da alegria e, diria eu, da nudez que fez dos Tarahumara uma das culturas mais saudáveis e mais serenas do nosso tempo. Qual é o benefício? E depois? Queimamos o gelado da noite anterior.
But maybe there's another benefit there as well. Without getting too extreme about this, imagine a world where everybody could go out the door and engage in the kind of exercise that's going to make them more relaxed, more serene, more healthy, burn off stress -- where you don't come back into your office a raging maniac anymore, or go home with a lot of stress on top of you again. Maybe there's something between what we are today and what the Tarahumara have always been. I don't say let's go back to the Copper Canyons and live on corn and maize, which is the Tarahumara's preferred diet, but maybe there's somewhere in between. And if we find that thing, maybe there is a big fat Nobel Prize out there. Because if somebody could find a way to restore that natural ability that we all enjoyed for most of our existence up until the 1970s or so, the benefits -- social and physical and political and mental -- could be astounding.
Mas talvez haja também outro benefício. Sem me tornar demasiado radical, imaginem um mundo em que todas as pessoas podiam sair porta fora e envolver-se num tipo de exercício que as vais tornar mais relaxadas, mais serenas, mais saudáveis, que as faz acabar com o "stress", em que não voltamos ao escritório como maníacos raivosos, em que não voltamos a casa cheios de "stress". Talvez haja qualquer coisa entre o que somos hoje e o que os Tarahumara sempre foram. Não digo para voltarmos à Garganta de Cobre e viver de grão e de milho, que é a dieta preferida dos Tarahumara, mas talvez haja qualquer coisa intermédia. Se encontrarmos essa coisa, talvez haja um belo e grande Prémio Nobel à espera. Porque se alguém conseguisse encontrar uma maneira de recuperar aquela capacidade natural que tivemos na maior parte da nossa existência, de que desfrutámos até aos anos 70, os benefícios, sociais e físicos, políticos e mentais, poderiam ser espantosos.
What I've been seeing today is there is a growing subculture of barefoot runners, people who've gotten rid of their shoes. And what they have found uniformly is, you get rid of the shoes, you get rid of the stress, you get rid of the injuries and the ailments. And what you find is something the Tarahumara have known for a very long time: that this can be a whole lot of fun. I've experienced it personally myself. I was injured all my life; then in my early 40s, I got rid of my shoes and my running ailments have gone away, too.
O que eu tenho visto hoje é que há uma subcultura emergente de corredores descalços, pessoas que se livraram das sapatilhas. Ees descobriram, de maneira uniforme que livrar-se das sapatilhas é livrar-se do "stress", livrar-se das lesões e das enfermidades. E descobrimos uma coisa que os Tarahumara sabem há muito tempo. É que isto pode ser muito divertido. Eu tenho-o experimentado pessoalmente. Andei lesionado toda a vida e, aos 40 anos, livrei-me das sapatilhas e também das doenças ligadas à corrida.
So hopefully it's something we can all benefit from. I appreciate your listening to this story.
Esperemos que todos possamos beneficiar com isso. Agradeço-vos por terem escutado esta história.
Thanks very much.
Muito obrigado.
(Applause)
(Aplausos)