I am a palliative care physician and I would like to talk to you today about health care. I'd like to talk to you about the health and care of the most vulnerable population in our country -- those people dealing with the most complex serious health issues. I'd like to talk to you about economics as well. And the intersection of these two should scare the hell out of you -- it scares the hell out of me.
Sou médico de cuidados paliativos e gostaria de vos falar hoje sobre cuidados de saúde. Gostaria de vos falar sobre a saúde e os cuidados da população mais vulnerável no nosso país, aquelas pessoas que sofrem com problemas de saúde mais sérios e complexos. Gostaria de falar-vos também sobre economia. E a intersecção destas duas devia assustar-vos muito. A mim assusta-me muito.
I'd also like to talk to you about palliative medicine: a paradigm of care for this population, grounded in what they value. Patient-centric care based on their values that helps this population live better and longer. It's a care model that tells the truth and engages one-on-one and meets people where they're at.
Gostaria de vos falar também sobre a medicina paliativa: um paradigma no cuidado a esta população, baseado naquilo que valorizam. Cuidados centrados no doente, baseados nos seus valores que auxiliam esta população a viver mais e melhor. É um modelo de cuidados que diz a verdade, é individualizado e vai ao encontro das pessoas, onde elas se encontram.
I'd like to start by telling the story of my very first patient. It was my first day as a physician, with the long white coat ... I stumbled into the hospital and right away there's a gentleman, Harold, 68 years old, came to the emergency department. He had had headaches for about six weeks that got worse and worse and worse and worse. Evaluation revealed he had cancer that had spread to his brain. The attending physician directed me to go share with Harold and his family the diagnosis, the prognosis and options of care.
Gostaria de começar por contar a história do meu primeiro doente. Era o meu primeiro dia como médico, com a bata branca comprida... Fui atabalhoado para o hospital e de repente, um cavalheiro, Harold, 68 anos, entrou no serviço de urgências. Sofria de dores de cabeça há seis semanas que pioravam, pioravam e pioravam. Os exames revelaram que tinha cancro, que se espalhara para o cérebro. O médico assistente indicou-me que comunicasse o diagnóstico, o prognóstico e os cuidados disponíveis a Harold e à sua família.
Five hours into my new career, I did the only thing I knew how. I walked in, sat down, took Harold's hand, took his wife's hand and just breathed.
Nas primeiras cinco horas da minha nova carreira eu fiz a única coisa que sabia. Entrei, sentei-me, peguei na mão de Harold, peguei na mão da mulher dele e apenas respirei.
He said, "It's not good news is it, sonny?"
Ele disse: "Não são boas notícias, pois não?"
I said, "No."
Eu respondi: "Não."
And so we talked and we listened and we shared. And after a while I said, "Harold, what is it that has meaning to you? What is it that you hold sacred?"
Então falámos, ouvimos e partilhámos. Após algum tempo disse: "Harold, o que é que tem significado para si?" "O que é mais sagrado para si?"
And he said, "My family."
Ao que ele respondeu: "A minha família."
I said, "What do you want to do?"
Eu disse: "O que quer fazer?"
He slapped me on the knee and said, "I want to go fishing."
Ele bateu-me no joelho e disse: "Quero ir pescar."
I said, "That, I know how to do."
Eu disse: "Isso, eu sei fazer."
Harold went fishing the next day. He died a week later.
Harold foi pescar no dia seguinte. Morreu uma semana depois.
As I've gone through my training in my career, I think back to Harold. And I think that this is a conversation that happens far too infrequently. And it's a conversation that had led us to crisis, to the biggest threat to the American way of life today, which is health care expenditures.
À medida que completava a formação na minha carreira, lembrava-me do Harold. Penso que esta é uma conversa que acontece com pouca frequência. É uma conversa que nos conduziu a uma crise, à maior ameaça para o estilo de vida americano actual, os custos dos cuidados de saúde.
So what do we know? We know that this population, the most ill, takes up 15 percent of the gross domestic product -- nearly 2.3 trillion dollars. So the sickest 15 percent take up 15 percent of the GDP. If we extrapolate this out over the next two decades with the growth of baby boomers, at this rate it is 60 percent of the GDP. Sixty percent of the gross domestic product of the United States of America -- it has very little to do with health care at that point. It has to do with a gallon of milk, with college tuition. It has to do with every thing that we value and every thing that we know presently. It has at stake the free-market economy and capitalism of the United States of America.
Assim, o que sabemos? Sabemos que esta população, os mais doentes, usam 15% do produto interno bruto, aproximadamente 2,3 biliões de dólares. Portanto, os 15% mais doentes tomam 15% do PIB. Se extrapolarmos isto para as próximas duas décadas. com o crescimento dos <i>baby boomers</i>, a este ritmo é 60% do PIB. Sessenta por cento do PIB dos Estados Unidos da América — tem pouco a ver com cuidados de saúde neste ponto. Tem a ver com um galão de leite, com propinas universitárias. Tem tudo a ver com todas as coisas a que damos valor e tudo o que conhecemos actualmente. Coloca a economia de mercado livre e o capitalismo dos EUA em risco.
Let's forget all the statistics for a minute, forget the numbers. Let's talk about the value we get for all these dollars we spend. Well, the Dartmouth Atlas, about six years ago, looked at every dollar spent by Medicare -- generally this population. We found that those patients who have the highest per capita expenditures had the highest suffering, pain, depression. And, more often than not, they die sooner.
Vamos esquecer as estatísticas por um minuto, esquecer os números. Vamos falar do valor que recebemos por todos os dólares que gastamos. Há seis anos, a Darthmouth Atlas analisou cada dólar gasto pela Medicare — geralmente esta população. Descobrimos que os doentes com as despesas mais altas <i>per capita</i> apresentavam as maiores taxas de sofrimento e depressão. E frequentemente, morrem mais cedo.
How can this be? We live in the United States, it has the greatest health care system on the planet. We spend 10 times more on these patients than the second-leading country in the world. That doesn't make sense. But what we know is, out of the top 50 countries on the planet with organized health care systems, we rank 37th. Former Eastern Bloc countries and sub-Saharan African countries rank higher than us as far as quality and value.
Como é que isto é possível? Vivemos nos EUA, que tem o melhor sistema de cuidados de saúde do planeta. Despendemos 10 vezes mais tempo nestes doentes do que o segundo país líder no mundo. Não faz sentido. Mas o que sabemos é que, dos 50 melhores países no planeta com sistemas de saúde organizados, estamos em 37º lugar. Antigos países do Bloco Oriental e países subsaarianos estão mais bem classificados que nós em qualidade e importância,
Something I experience every day in my practice, and I'm sure, something many of you on your own journeys have experienced: more is not more. Those individuals who had more tests, more bells, more whistles, more chemotherapy, more surgery, more whatever -- the more that we do to someone, it decreases the quality of their life. And it shortens it, most often.
algo que comprovo todos os dias na minha prática, e tenho a certeza, que muitos de vós nas vossas jornadas já comprovaram: mais não é mais. Aqueles pacientes que fizeram mais testes mais campainhas, mais apitos, mais quimioterapia, mais cirurgias, tanto faz — quanto mais fazemos a alguém, mais diminuímos a sua qualidade de vida. E encurta-a, grande parte das vezes.
So what are we going to do about this? What are we doing about this? And why is this so? The grim reality, ladies and gentlemen, is that we, the health care industry -- long white-coat physicians -- are stealing from you. Stealing from you the opportunity to choose how you want to live your lives in the context of whatever disease it is. We focus on disease and pathology and surgery and pharmacology. We miss the human being. How can we treat this without understanding this? We do things to this; we need to do things for this.
Então, o que vamos fazer acerca disto? O que fazemos acerca disto? E porque é que isto acontece? A cruel realidade, senhoras e senhores, é que nós, a indústria de cuidados de saúde médicos de bata branca — estamos a roubar-vos. A roubar-vos a oportunidade de escolherem como querem viver a vossa vida, no contexto de qualquer doença. Focamo-nos na doença, na patologia, na cirurgia e na farmacologia. Negligenciamos o ser humano. Como podemos tratar isto sem entendermos isto? Fazemos coisas a isto; precisamos de fazer coisas para isto.
The triple aim of healthcare: one, improve patient experience. Two, improve the population health. Three, decrease per capita expenditure across a continuum. Our group, palliative care, in 2012, working with the sickest of the sick -- cancer, heart disease, lung disease, renal disease, dementia -- how did we improve patient experience?
Os três alvos dos cuidados de saúde: Primeiro, melhorar a experiência do doente. Segundo, melhorar a saúde da população. Terceiro, diminuir os gastos <i>per capita</i> de forma contínua. O nosso grupo, os cuidados paliativos, em 2012, trabalhando com os mais doentes — cancro, doença cardíaca, doença pulmonar, doença renal, demência — como melhoramos a experiência do doente?
"I want to be at home, Doc."
"Quero estar em casa, doutor."
"OK, we'll bring the care to you."
"Ok, levaremos os cuidados até si."
Quality of life, enhanced. Think about the human being.
Qualidade de vida, melhorada. Pensem no ser humano.
Two: population health. How did we look at this population differently, and engage with them at a different level, a deeper level, and connect to a broader sense of the human condition than my own? How do we manage this group, so that of our outpatient population, 94 percent, in 2012, never had to go to the hospital? Not because they couldn't. But they didn't have to. We brought the care to them. We maintained their value, their quality.
Segundo: saúde da população. Como é que olhamos para esta população de forma diferente, interagimos com eles, num nível diferente, um nível mais profundo, e atingimos uma percepção maior da condição humana, que não a nossa? Como é que orientamos este grupo, para que 94 % dos nossos doentes externos, em 2012, nunca tivessem que ir ao hospital? Não porque não pudessem, mas porque não tinham que ir. Nós levámos os cuidados até eles. Mantivemos os seus valores, a qualidade.
Number three: per capita expenditures. For this population, that today is 2.3 trillion dollars and in 20 years is 60 percent of the GDP, we reduced health care expenditures by nearly 70 percent. They got more of what they wanted based on their values, lived better and are living longer, for two-thirds less money.
Número três: os custos <i>per capita</i>. Para esta população, que hoje é 2,3 biliões de dólares e dentro de 20 anos, 60 % do PIB, reduzimos os custos dos cuidados de saúde em quase 70 %. Conseguiram mais do que queriam com base nos seus valores, viveram melhor e vivem mais, por um terço dos custos.
While Harold's time was limited, palliative care's is not. Palliative care is a paradigm from diagnosis through the end of life. The hours, weeks, months, years, across a continuum -- with treatment, without treatment.
Apesar do tempo de Harold ter sido limitado, os cuidados paliativos não o são. Os cuidados paliativos são um paradigma, desde o diagnóstico até ao final da vida. As horas, semanas, meses, anos, na sua continuidade, com tratamento, sem tratamento.
Meet Christine. Stage III cervical cancer, so, metastatic cancer that started in her cervix, spread throughout her body. She's in her 50s and she is living. This is not about end of life, this is about life. This is not just about the elderly, this is about people.
Apresento-vos Christine. Cancro cervical em fase III, portanto, cancro metastizado que começou no colo do útero, espalhou-se pelo corpo. Ela tem os seus 50 anos e está viva. Não se trata do fim da sua vida, trata-se da vida em si. Não se trata apenas dos idosos, trata-se de toda a gente.
This is Richard. End-stage lung disease.
Este é o Richard. Doença pulmonar terminal.
"Richard, what is it that you hold sacred?"
"Richard, o que há para si de mais sagrado?"
"My kids, my wife and my Harley."
"Os meus filhos, a minha mulher, e a minha Harley."
(Laughter)
(Risos)
"Alright! I can't drive you around on it because I can barely pedal a bicycle, but let's see what we can do."
"Bem! "Não te posso passear nela porque mal sei conduzir uma bicicleta, "mas vamos ver o que podemos fazer."
Richard came to me, and he was in rough shape. He had this little voice telling him that maybe his time was weeks to months. And then we just talked. And I listened and tried to hear -- big difference. Use these in proportion to this.
Richard veio ter comigo, estava já em péssimo estado. Tinha uma vozinha em si, dizendo-lhe que talvez só tivesse semanas ou meses. E aí apenas falámos. Eu ouvi e tentei escutar — uma grande diferença. Usem estes proporcionalmente a isto.
I said, "Alright, let's take it one day at a time," like we do in every other chapter of our life. And we have met Richard where Richard's at day-to-day. And it's a phone call or two a week, but he's thriving in the context of end-stage lung disease.
Disse-lhe: "Bem, vamos viver um dia de cada vez." Tal como fazemos com todos os outros capítulos da nossa vida. Encontrávamo-nos com Richard onde estivesse no seu dia-a-dia, É uma chamada ou duas, por semana, mas ele está a fazer progressos no contexto da doença pulmonar terminal.
Now, palliative medicine is not just for the elderly, it is not just for the middle-aged. It is for everyone.
Agora, a medicina paliativa não é só para os idosos, não é apenas para pessoas de meia-idade. É para todos.
Meet my friend Jonathan. We have the honor and pleasure of Jonathan and his father joining us here today. Jonathan is in his 20s, and I met him several years ago. He was dealing with metastatic testicular cancer, spread to his brain. He had a stroke, he had brain surgery, radiation, chemotherapy. Upon meeting him and his family, he was a couple of weeks away from a bone marrow transplant, and in listening and engaging, they said, "Help us understand -- what is cancer?"
Apresento-vos o meu amigo Jonathan. Temos a honra e o prazer de termos Jonathan e o seu pai hoje, connosco. Jonathan tem os seus 20 anos, e conheci-o há vários anos. Estava a lutar com um cancro testicular metastático, que migrou para o seu cérebro. Teve um acidente vascular cerebral, passou por uma cirurgia cerebral, radiação, quimioterapia. Quando o conheci, e à sua família, ele estava a algumas semanas de um transplante de medula. Enquanto escutava e me envolvia, eles disseram: "Ajude-nos a compreender. O que é o cancro?"
How did we get this far without understanding what we're dealing with? How did we get this far without empowering somebody to know what it is they're dealing with, and then taking the next step and engaging in who they are as human beings to know if that is what we should do? Lord knows we can do any kind of thing to you. But should we?
Como chegámos a este ponto sem compreendermos com o que estamos a lidar? Como chegámos tão longe sem capacitarmos alguém em saber com o que é que estão a lidar, dando o passo seguinte, interessando-nos em quem são como seres humanos, para saber se é isto que devemos fazer. Deus sabe que podemos fazer-vos qualquer coisa. Mas será que devemos?
And don't take my word for it. All the evidence that is related to palliative care these days demonstrates with absolute certainty people live better and live longer. There was a seminal article out of the New England Journal of Medicine in 2010. A study done at Harvard by friends of mine, colleagues. End-stage lung cancer: one group with palliative care, a similar group without. The group with palliative care reported less pain, less depression. They needed fewer hospitalizations. And, ladies and gentlemen, they lived three to six months longer. If palliative care were a cancer drug, every cancer doctor on the planet would write a prescription for it. Why don't they? Again, because we goofy, long white-coat physicians are trained and of the mantra of dealing with this, not with this.
Não tomem a minha palavra por lei. Todas as provas relacionadas com os cuidados paliativos actualmente demonstram com certeza absoluta que as pessoas vivem mais e vivem melhor. Um artigo do New England Journal of Medicine, em 2010. Um estudo realizado em Harvard por amigos meus, colegas. Cancro pulmonar terminal. Um grupo em cuidados paliativos. um grupo semelhante sem esses cuidados. O grupo nos cuidados paliativos relataram menos dor, menos depressões. Necessitaram de menos hospitalizações. E, senhoras e senhores, viveram mais 3 a 6 meses que o previsto. Se os cuidados paliativos fossem um medicamento para o cancro, todos os oncologistas no planeta os receitariam. Porque não o fazem? Novamente, porque nós, os médicos de comprida bata branca, somos treinados e estamos mentalizados para lidarmos com isto e não com isto.
This is a space that we will all come to at some point. But this conversation today is not about dying, it is about living. Living based on our values, what we find sacred and how we want to write the chapters of our lives, whether it's the last or the last five. What we know, what we have proven, is that this conversation needs to happen today -- not next week, not next year. What is at stake is our lives today and the lives of us as we get older and the lives of our children and our grandchildren. Not just in that hospital room or on the couch at home, but everywhere we go and everything we see. Palliative medicine is the answer to engage with human beings, to change the journey that we will all face, and change it for the better.
É um lugar a que todos chegaremos, a certa altura. Mas hoje, esta conversa não é sobre "como morrer", mas sobre "como viver". Viver com os nosso valores, com o que nos é sagrado como queremos escrever os capítulos da nossa vida, quer seja o último ou os últimos cinco. O que sabemos, o que comprovamos, é que esta conversa precisa de acontecer hoje, não na próxima semana, não no próximo ano. Hoje, é a nossa vida em risco e a nossa vida à medida que envelhecemos e a vida dos nossos filhos e dos nossos netos. Não apenas no quarto do hospital ou no sofá em casa, mas em todo o lado a que vamos e em tudo o que vemos. A medicina paliativa é a chave para nos ligarmos aos seres humanos, para mudar a viagem que todos teremos que enfrentar, e mudá-la para melhor.
To my colleagues, to my patients, to my government, to all human beings, I ask that we stand and we shout and we demand the best care possible, so that we can live better today and ensure a better life tomorrow. We need to shift today so that we can live tomorrow.
Aos meus colegas, aos meus doentes, ao meu governo, a todos os seres humanos, peço que se levantem e gritem e exijam os melhores cuidados possíveis, para que possamos viver melhor hoje, e garantir uma vida melhor amanhã. Precisamos de mudar hoje para que possamos viver amanhã.
Thank you very much.
Muito obrigado.
(Applause)
(Aplausos)