[This talk contains graphic language and descriptions of sexual violence Viewer discretion is advised]
[Linguagem adulta e descrição de violência sexual] [Aconselhamos a discrição do espectador]
Tom Stranger: In 1996, when I was 18 years old, I had the golden opportunity to go on an international exchange program. Ironically I'm an Australian who prefers proper icy cold weather, so I was both excited and tearful when I got on a plane to Iceland, after just having farewelled my parents and brothers goodbye. I was welcomed into the home of a beautiful Icelandic family who took me hiking, and helped me get a grasp of the melodic Icelandic language. I struggled a bit with the initial period of homesickness. I snowboarded after school, and I slept a lot. Two hours of chemistry class in a language that you don't yet fully understand can be a pretty good sedative.
Tom Stranger: Em 1996, quando eu tinha 18 anos, tive a oportunidade de ouro de entrar em um programa de intercâmbio. Ironicamente, sou um australiano que prefere um tempo gélido, então eu estava empolgado e triste, quando entrei num avião para a Islândia, logo após ter me despedido de meus pais e irmãos. Fui acolhido na casa de uma linda família islandesa que me levou para caminhadas e me ajudou a compreender a melódica língua islandesa. No início, sofri um pouco com saudades de casa. Eu praticava "snowboard" depois da escola e dormia muito. Duas horas de aula de química, em uma língua que você não entende completamente, pode ser um ótimo sedativo.
(Laughter)
(Risos)
My teacher recommended I try out for the school play, just to get me a bit more socially active. It turns out I didn't end up being part of the play, but through it I met Thordis. We shared a lovely teenage romance, and we'd meet at lunchtimes to just hold hands and walk around old downtown Reykjavík. I met her welcoming family, and she met my friends. We'd been in a budding relationship for a bit over a month when our school's Christmas Ball was held.
Meu professor me sugeriu tentar o teatro da escola, só pra me tornar mais sociável. No final acabei não fazendo parte da peça, mas através dela conheci Thordis. Vivemos um adorável romance juvenil, nos encontrávamos na hora do almoço para andarmos de mãos dadas e passear pelo velho centro de Reykjavík. Eu conheci sua família acolhedora, e ela conheceu meus amigos. Estávamos em uma relação crescente há pouco mais de um mês, quando se realizou o baile de Natal da nossa escola.
Thordis Elva: I was 16 and in love for the first time. Going together to the Christmas dance was a public confirmation of our relationship, and I felt like the luckiest girl in the world. No longer a child, but a young woman. High on my newfound maturity, I felt it was only natural to try drinking rum for the first time that night, too. That was a bad idea. I became very ill, drifting in and out of consciousness in between spasms of convulsive vomiting. The security guards wanted to call me an ambulance, but Tom acted as my knight in shining armor, and told them he'd take me home.
Thordis Elva: Eu tinha 16 anos e estava apaixonada pela primeira vez. Ir juntos para o baile de Natal era a oficialização da nossa relação, e eu me sentia a garota mais sortuda do mundo. Não era mais uma garotinha, mas uma jovem mulher. No auge da minha nova maturidade, senti que seria natural experimentar rum pela primeira vez naquela noite também. Isso foi uma má ideia. Fiquei muito mal, com perdas de consciência entre espasmos de vômito convulsivo. Os seguranças queriam chamar uma ambulância para mim, mas Tom agiu como o meu cavaleiro de armadura reluzente, e disse a eles que me levaria para casa.
It was like a fairy tale, his strong arms around me, laying me in the safety of my bed. But the gratitude that I felt towards him soon turned to horror as he proceeded to take off my clothes and get on top of me. My head had cleared up, but my body was still too weak to fight back, and the pain was blinding. I thought I'd be severed in two. In order to stay sane, I silently counted the seconds on my alarm clock. And ever since that night, I've known that there are 7,200 seconds in two hours.
Foi como num conto de fadas, seus braços fortes em volta de mim, me deitando na segurança da minha cama. Mas a gratidão que sentia por ele logo se tornou horror enquanto ele tirava minhas roupas e ficava em cima de mim. Minha mente ficou lúcida, mas meu corpo ainda estava muito fraco pra lutar, e a dor era ofuscante. Eu pensei ter sido cortada em dois. Para manter a sanidade, eu silenciosamente contava os segundos no meu relógio. E desde aquela noite, eu soube que existem 7,2 mil segundos em 2 horas.
Despite limping for days and crying for weeks, this incident didn't fit my ideas about rape like I'd seen on TV. Tom wasn't an armed lunatic; he was my boyfriend. And it didn't happen in a seedy alleyway, it happened in my own bed. By the time I could identify what had happened to me as rape, he had completed his exchange program and left for Australia. So I told myself it was pointless to address what had happened. And besides, it had to have been my fault, somehow.
Apesar de ficar mancando por dias e chorando por semanas, esse incidente não se encaixava na minha ideia sobre estupros, como eu via na TV. Tom não era um lunático armado; ele era meu namorado. E não aconteceu em um beco sem saída, aconteceu na minha própria cama. Naquela época eu não pude identificar o que tinha acontecido como estupro, e ele tinha terminado o intercâmbio e partiu para a Austrália. Então eu disse a mim mesma que era inútil discutir o que tinha acontecido. E além disso, tinha que ser minha culpa de alguma forma.
I was raised in a world where girls are taught that they get raped for a reason. Their skirt was too short, their smile was too wide, their breath smelled of alcohol. And I was guilty of all of those things, so the shame had to be mine. It took me years to realize that only one thing could have stopped me from being raped that night, and it wasn't my skirt, it wasn't my smile, it wasn't my childish trust. The only thing that could've stopped me from being raped that night is the man who raped me -- had he stopped himself.
Fui criada em um mundo em que ensinam às garotas que elas são estupradas por uma razão. Sua saia estava muito curta, estavam muito sorridentes, seu hálito cheirava a álcool. E eu era culpada de todas essas coisas, então a culpa tinha que ser minha. Levei anos até perceber que só uma coisa teria evitado que eu fosse estuprada aquela noite, e não era minha saia, não era meu sorriso, nem minha confiança infantil. A única coisa que teria evitado que eu fosse estuprada naquela noite era o homem que me estuprou; se ele tivesse parado a si mesmo.
TS: I have vague memories of the next day: the after effects of drinking, a certain hollowness that I tried to stifle. Nothing more. But I didn't show up at Thordis's door. It is important to now state that I didn't see my deed for what it was. The word "rape" didn't echo around my mind as it should've, and I wasn't crucifying myself with memories of the night before. It wasn't so much a conscious refusal, it was more like any acknowledgment of reality was forbidden. My definition of my actions completely refuted any recognition of the immense trauma I caused Thordis. To be honest, I repudiated the entire act in the days afterwards and when I was committing it. I disavowed the truth by convincing myself it was sex and not rape. And this is a lie I've felt spine-bending guilt for.
TS: Tenho vagas memórias do dia seguinte: as sequelas da bebida, um certo vazio que eu tentei esconder. Nada mais. Mas eu não apareci na porta da Thordis. É importante declarar agora que eu não vi minha atitude como ela realmente era. A palavra "estupro" não ecoava na minha mente como deveria, e eu não estava me martirizando com as cenas da noite anterior. Não era uma negação consciente, era como se qualquer conhecimento da realidade fosse proibido. Minha definição das minhas ações refutou completamente qualquer reconhecimento do imenso trauma que eu causei à Thordis. Para ser honesto, eu repudiei a ação toda nos dias seguintes e quando eu a estava praticando. Eu repudiei a verdade me convencendo de que foi sexo e não estupro. E essa é uma mentira da qual sinto imensa culpa.
I broke up with Thordis a couple of days later, and then saw her a number of times during the remainder of my year in Iceland, feeling a sharp stab of heavyheartedness each time. Deep down, I knew I'd done something immeasurably wrong. But without planning it, I sunk the memories deep, and then I tied a rock to them.
Terminei com a Thordis alguns dias depois, e então a vi algumas vezes durante o resto do meu ano na Islândia, sentindo uma punhalada no coração toda vez que a via. Lá no fundo, eu sabia que tinha feito algo imensuravelmente errado. Mas sem planejar, afoguei as memórias e coloquei uma pedra em cima delas.
What followed is a nine-year period that can best be titled as "Denial and Running." When I got a chance to identify the real torment that I caused, I didn't stand still long enough to do so. Whether it be via distraction, substance use, thrill-seeking or the scrupulous policing of my inner speak, I refused to be static and silent.
Seguiu-se um período de nove anos que pode ser intitulado de "Negação e Fuga". Quando eu tinha uma chance de identificar o tormento real que tinha causado, não ficava parado tempo suficiente para fazê-lo. Seja por meio da distração, uso de drogas, busca por adrenalina, ou o policiamento escrupuloso da minha fala interior, eu me recusei a estar parado e calado.
And with this noise, I also drew heavily upon other parts of my life to construct a picture of who I was. I was a surfer, a social science student, a friend to good people, a loved brother and son, an outdoor recreation guide, and eventually, a youth worker. I gripped tight to the simple notion that I wasn't a bad person. I didn't think I had this in my bones. I thought I was made up of something else. In my nurtured upbringing, my loving extended family and role models, people close to me were warm and genuine in their respect shown towards women. It took me a long time to stare down this dark corner of myself, and to ask it questions.
E com esse ruído, também me apoiei em outras partes da minha vida para construir uma imagem de quem eu era. Eu era um surfista, um estudante de ciência social, um bom amigo, um irmão e filho amado, um guia de atividades ao ar livre, e, por fim, um jovem trabalhador. Eu me agarrei fortemente à simples noção de que eu não era uma má pessoa. Eu não pensava que tinha isso dentro de mim. Achava que eu era feito de outra coisa. Na minha formação, minha família amorosa e exemplos a seguir, as pessoas mais próximas eram gentis e autênticas com o respeito demonstrado às mulheres. Levou um longo tempo pra que eu olhasse esse lado sombrio de mim mesmo, e questioná-lo.
TE: Nine years after the Christmas dance, I was 25 years old, and headed straight for a nervous breakdown. My self-worth was buried under a soul-crushing load of silence that isolated me from everyone that I cared about, and I was consumed with misplaced hatred and anger that I took out on myself.
TE: Nove anos após o baile de Natal, eu tinha 25 anos, e tive um colapso nervoso. Meu amor-próprio estava enterrado sob um silêncio esmagador que me isolou de todos com quem eu me importava, e eu era consumida com ódio e raiva fora de controle que eu descontava em mim mesma.
One day, I stormed out of the door in tears after a fight with a loved one, and I wandered into a café, where I asked the waitress for a pen. I always had a notebook with me, claiming that it was to jot down ideas in moments of inspiration, but the truth was that I needed to be constantly fidgeting, because in moments of stillness, I found myself counting seconds again. But that day, I watched in wonder as the words streamed out of my pen, forming the most pivotal letter I've ever written, addressed to Tom. Along with an account of the violence that he subjected me to, the words, "I want to find forgiveness" stared back at me, surprising nobody more than myself. But deep down I realized that this was my way out of my suffering, because regardless of whether or not he deserved my forgiveness, I deserved peace. My era of shame was over.
Um dia, eu saí correndo pela porta em lágrimas depois de uma discussão com alguém que gostava, e entrei em um café, onde pedi uma caneta à garçonete. Eu sempre tinha um caderno comigo, dizendo que era para anotar ideias em momentos de inspiração, mas a verdade era que eu precisava estar constantemente inquieta, porque em momentos de imobilidade, me pegava contado os segundos de novo. Mas naquele dia, vi com admiração as palavras saírem da minha caneta, formando a carta mais significativa que eu já havia escrito, endereçada ao Tom. Junto com o relato da violência a que ele me submetera, as palavras "eu quero encontrar perdão" olhavam de volta pra mim, surpreendendo ninguém mais que eu mesma. Mas lá no fundo eu percebi que essa era a saída para o meu sofrimento, porque independentemente de ele merecer ou não meu perdão, eu merecia paz. Minha era de vergonha havia acabado.
Before sending the letter, I prepared myself for all kinds of negative responses, or what I found likeliest: no response whatsoever. The only outcome that I didn't prepare myself for was the one that I then got -- a typed confession from Tom, full of disarming regret. As it turns out, he, too, had been imprisoned by silence. And this marked the start of an eight-year-long correspondence that God knows was never easy, but always honest. I relieved myself of the burdens that I'd wrongfully shouldered, and he, in turn, wholeheartedly owned up to what he'd done. Our written exchanges became a platform to dissect the consequences of that night, and they were everything from gut-wrenching to healing beyond words.
Antes de mandar a carta, eu me preparei para todo tipo de resposta negativa, ou, o que eu achava mais provável, nenhuma resposta. O único resultado para o qual eu não estava preparada era o que eu recebi: uma confissão escrita por Tom, cheia de remorsos. Acabou que ele também tinha sido aprisionado pelo silêncio. E isso marcou o começo de oito anos de correspondência que Deus sabe, nunca foi fácil, mas sempre honesta. Eu me livrei do peso que eu tinha erroneamente suportado, e ele, em troca, assumiu totalmente o que havia feito. As cartas que trocamos viraram uma plataforma para dissecar as consequências daquela noite, e foram tudo, de algo medonho à cura além das palavras.
And yet, it didn't bring about closure for me. Perhaps because the email format didn't feel personal enough, perhaps because it's easy to be brave when you're hiding behind a computer screen on the other side of the planet. But we'd begun a dialogue that I felt was necessary to explore to its fullest. So, after eight years of writing, and nearly 16 years after that dire night, I mustered the courage to propose a wild idea: that we'd meet up in person and face our past once and for all.
E ainda assim, isso não trouxe um encerramento para mim. Talvez porque e-mails não parecem suficientemente pessoais, talvez porque seja mais fácil ser corajoso quando se está escondido atrás de uma tela de computador do outro lado do mundo. Mas tínhamos começado um diálogo que eu sentia ser necessário explorar ao máximo. Então, após oito anos de escrita, e aproximadamente 16 anos após aquela noite terrível, eu uni forças para propor uma ideia selvagem: que nos encontrássemos pessoalmente para enfrentar nosso passado de uma vez por todas.
TS: Iceland and Australia are geographically like this. In the middle of the two is South Africa. We decided upon the city of Cape Town, and there we met for one week. The city itself proved to be a stunningly powerful environment to focus on reconciliation and forgiveness. Nowhere else has healing and rapprochement been tested like it has in South Africa. As a nation, South Africa sought to sit within the truth of its past, and to listen to the details of its history. Knowing this only magnified the effect that Cape Town had on us.
TS: Islândia e Austrália são geograficamente assim. No meio das duas fica a África do Sul. Nós optamos pela cidade de Cape Town, e lá nos encontramos por uma semana. A cidade mostrou ser um ambiente poderoso e deslumbrante para enfatizar a reconciliação e o perdão. Em nenhum outro lugar a cura e a reaproximação foram testados como na África do Sul. Como uma nação, a África do Sul buscou entrar na verdade do seu passado, e ouvir aos detalhes de sua história. Saber disso apenas ampliou o efeito que Cape Town teve sobre nós.
Over the course of this week, we literally spoke our life stories to each other, from start to finish. And this was about analyzing our own history. We followed a strict policy of being honest, and this also came with a certain exposure, an open-chested vulnerability. There were gutting confessions, and moments where we just absolutely couldn't fathom the other person's experience. The seismic effects of sexual violence were spoken aloud and felt, face to face. At other times, though, we found a soaring clarity, and even some totally unexpected but liberating laughter. When it came down to it, we did out best to listen to each other intently. And our individual realities were aired with an unfiltered purity that couldn't do any less than lighten the soul.
Durante essa semana, literalmente contamos nossas histórias de vida um ao outro, do começo ao fim; o intuito era analisar nossa própria história. Seguimos regras rígidas de sermos honestos, e isso também trouxe uma certa exposição, e uma vulnerabilidade de coração aberto. Houve confissões pesadas, e momentos em que simplesmente não podíamos compreender a experiência do outro. O efeito sísmico da violência sexual foi falado em voz alta e sentido, face a face. Em outros momentos, no entanto, nós encontramos uma crescente transparência, e até mesmo algumas totalmente inesperadas e libertadoras gargalhadas. No fim das contas, fizemos nosso melhor para ouvir atentamente um ao outro. E nossas realidades individuais foram transmitidas com uma pureza clara que não podia fazer nada menos do que limpar a alma.
TE: Wanting to take revenge is a very human emotion -- instinctual, even. And all I wanted to do for years was to hurt Tom back as deeply as he had hurt me. But had I not found a way out of the hatred and anger, I'm not sure I'd be standing here today. That isn't to say that I didn't have my doubts along the way. When the plane bounced on that landing strip in Cape Town, I remember thinking, "Why did I not just get myself a therapist and a bottle of vodka like a normal person would do?"
TE: Querer a vingança é um sentimento muito humano, até mesmo instintivo. E tudo o que eu quis fazer, durante anos, era machucar Tom tão profundamente quanto ele tinha me machucado. Mas se eu não tivesse encontrado uma saída para o ódio e a raiva, não sei se estaria em pé aqui hoje. Isso não significa que eu não tive minhas dúvidas ao longo do caminho. Quando o avião chegou naquela pista de pouso em Cape Town, me lembro de ter pensado: "Porque eu não apenas paguei um terapeuta e peguei uma garrafa de vodka para mim como uma pessoa normal faria?"
(Laughter)
(Risos)
At times, our search for understanding in Cape Town felt like an impossible quest, and all I wanted to do was to give up and go home to my loving husband, Vidir, and our son. But despite our difficulties, this journey did result in a victorious feeling that light had triumphed over darkness, that something constructive could be built out of the ruins.
Algumas vezes, nossa busca por compreensão em Cape Town parecia uma busca impossível, e tudo o que eu queria era desistir e ir pra casa, para o meu amado marido, Vidir, e nosso filho. Mas, apesar das nossas dificuldades, essa jornada resultou em um sentimento vitorioso, de que a luz triunfou sobre as trevas, e que algo positivo podia ser construído das ruínas.
I read somewhere that you should try and be the person that you needed when you were younger. And back when I was a teenager, I would have needed to know that the shame wasn't mine, that there's hope after rape, that you can even find happiness, like I share with my husband today. Which is why I started writing feverishly upon my return from Cape Town, resulting in a book co-authored by Tom, that we hope can be of use to people from both ends of the perpetrator-survivor scale. If nothing else, it's a story that we would've needed to hear when we were younger.
Eu li em algum lugar que você deve tentar ser a pessoa de que você precisava quando era jovem. E quando eu era adolescente eu precisava saber que a vergonha não era minha, que há esperança após o estupro, que se pode até encontrar a felicidade, como a que divido com meu marido hoje. Essa é a razão de eu começar a escrever febrilmente após meu retorno de Cape Town, resultando em um livro do qual o Tom foi coautor, que esperamos possa ser útil para pessoas de ambos os lados da escala agressor-sobrevivente. No mínimo, é uma história que nós precisávamos ouvir quando éramos mais jovens.
Given the nature of our story, I know the words that inevitably accompany it -- victim, rapist -- and labels are a way to organize concepts, but they can also be dehumanizing in their connotations. Once someone's been deemed a victim, it's that much easier to file them away as someone damaged, dishonored, less than. And likewise, once someone has been branded a rapist, it's that much easier to call him a monster -- inhuman. But how will we understand what it is in human societies that produces violence if we refuse to recognize the humanity of those who commit it? And how --
Dada a natureza da nossa história, eu sei as palavras que inevitavelmente a acompanham: vítima, estuprador... os rótulos são maneiras de organizar conceitos, mas eles podem também ser desumanizadores em suas conotações. Uma vez que alguém é considerado vítima, é muito mais fácil encaixá-lo como alguém danificado, desonrado, inferior. Da mesma forma, quando alguém é visto como um estuprador, é muito mais fácil chamá-lo de monstro, desumano. Mas como vamos entender o que existe nas sociedades humanas, que produz a violência, se nos recusamos a reconhecer a humanidade daqueles que a cometem? E como...
(Applause)
(Aplausos)
And how can we empower survivors if we're making them feel less than? How can we discuss solutions to one of the biggest threats to the lives of women and children around the world, if the very words we use are part of the problem?
E como podemos empoderar os sobreviventes, se fazemos com que eles se sintam inferiores? Como podemos discutir soluções para uma das maiores ameaças às vidas de mulheres e crianças ao redor do mundo, se até mesmo as palavras que usamos são parte do problema?
TS: From what I've now learnt, my actions that night in 1996 were a self-centered taking. I felt deserving of Thordis's body. I've had primarily positive social influences and examples of equitable behavior around me. But on that occasion, I chose to draw upon the negative ones. The ones that see women as having less intrinsic worth, and of men having some unspoken and symbolic claim to their bodies. These influences I speak of are external to me, though. And it was only me in that room making choices, nobody else.
TS: Com o que eu aprendi agora, minhas ações naquela noite em 1996 foram uma ação egocêntrica. Eu me senti merecedor do corpo da Thordis. Eu tive influências sociais essencialmente positivas e exemplos de comportamento correto ao meu redor. Mas naquela ocasião, eu escolhi me basear nos negativos. Os que veem as mulheres com menos valor intrínseco, e homens tendo algumas exigências simbólicas e não faladas de seus corpos. Porém, essas influências de que falo, são exteriores a mim. E era somente eu naquele quarto fazendo escolhas, ninguém mais.
When you own something and really square up to your culpability, I do think a surprising thing can happen. It's what I call a paradox of ownership. I thought I'd buckle under the weight of responsibility. I thought my certificate of humanity would be burnt. Instead, I was offered to really own what I did, and found that it didn't possess the entirety of who I am. Put simply, something you've done doesn't have to constitute the sum of who you are. The noise in my head abated. The indulgent self-pity was starved of oxygen, and it was replaced with the clean air of acceptance -- an acceptance that I did hurt this wonderful person standing next to me; an acceptance that I am part of a large and shockingly everyday grouping of men who have been sexually violent toward their partners.
Quando você possui algo e realmente encara a sua culpa, acredito que algo surpreendente pode acontecer. É o que eu chamo de paradoxo da posse. Pensei que me curvaria sob o peso da responsabilidade. Pensei que meu certificado de humanidade seria queimado. Mas em vez disso, me foi oferecido realmente ser dono que eu havia feito, e descobrir que eu não possuía o todo de quem eu sou. Simplificando, algo que você fez não tem que fazer parte do que você é. O barulho na minha cabeça diminuiu. A indulgente auto-piedade estava com falta de ar, e foi substituída pelo ar puro da aceitação; a aceitação de que eu magoei essa pessoa maravilhosa que está aqui ao meu lado; a aceitação de que sou parte de um grande grupo de homens que foram sexualmente violentos com suas parceiras.
Don't underestimate the power of words. Saying to Thordis that I raped her changed my accord with myself, as well as with her. But most importantly, the blame transferred from Thordis to me. Far too often, the responsibility is attributed to female survivors of sexual violence, and not to the males who enact it. Far too often, the denial and running leaves all parties at a great distance from the truth. There's definitely a public conversation happening now, and like a lot of people, we're heartened that there's less retreating from this difficult but important discussion. I feel a real responsibility to add our voices to it.
Não subestime o poder das palavras. Dizer a Thordis que eu a estuprei mudou meu acordo comigo mesmo, e meu acordo com ela. Mas mais importante, a culpa foi transferida da Thordis para mim. Com muita frequência, a responsabilidade é atribuída às sobreviventes da violência sexual, e não aos homens que fizeram isso. Com muita frequência, a negação e a fuga deixa ambas as partes muito distantes da verdade. Há um diálogo público ocorrendo agora, e, como um número grande de pessoas, estamos satisfeitos que haja menos recuo nessa difícil mas importante discussão. Eu sinto uma responsabilidade real de adicionar nossas vozes a ela.
TE: What we did is not a formula that we're prescribing for others. Nobody has the right to tell anyone else how to handle their deepest pain or their greatest error. Breaking your silence is never easy, and depending on where you are in the world, it can even be deadly to speak out about rape. I realize that even the most traumatic event of my life is still a testament to my privilege, because I can talk about it without getting ostracized, or even killed. But with that privilege of having a voice comes the responsibility of using it. That's the least I owe my fellow survivors who can't.
TE: O que fizemos não é uma fórmula que estamos prescrevendo aos outros. Ninguém tem o direito de dizer aos outros como lidar com sua dor mais profunda ou o seu maior erro. Quebrar o silêncio nunca é fácil, e dependendo do lugar onde vive, pode até ser mortal falar sobre estupro. Eu percebi que mesmo o evento mais traumático da minha vida ainda é uma prova do meu privilégio, porque eu posso falar sobre isso sem ser excluída, ou mesmo assassinada. Mas, com o privilégio de ter voz, vem a responsabilidade de usá-la. É o mínimo que posso fazer pelas minhas companheiras sobreviventes que não podem.
The story we've just relayed is unique, and yet it is so common with sexual violence being a global pandemic. But it doesn't have to be that way. One of the things that I found useful on my own healing journey is educating myself about sexual violence. And as a result, I've been reading, writing and speaking about this issue for over a decade now, going to conferences around the world. And in my experience, the attendees of such events are almost exclusively women. But it's about time that we stop treating sexual violence as a women's issue.
A história que acabamos de contar é única, e mesmo assim é muito comum, com a violência sexual sendo uma pandemia mundial. Mas não tem que ser desse jeito. Uma das coisas que achei ser útil, na minha jornada pela cura, foi aprender sobre violência sexual. E como resultado eu tenho lido, escrito e falado sobre esse assunto por mais de uma década, participando de conferências mundo afora. E na minha experiência, as pessoas que participam desses eventos são quase exclusivamente mulheres. É hora de parar de tratar a violência sexual como questão feminina.
(Applause)
(Aplausos)
A majority of sexual violence against women and men is perpetrated by men. And yet their voices are sorely underrepresented in this discussion. But all of us are needed here. Just imagine all the suffering we could alleviate if we dared to face this issue together.
A maior parte da violência sexual contra mulheres e homens é causada por homens. E ainda assim suas vozes são seriamente pouco representadas nessa discussão. Mas todos nós somos necessários aqui. Apenas imaginem todo o sofrimento que poderíamos aliviar se ousarmos enfrentar esse assunto juntos.
Thank you.
Obrigada.
(Applause)
(Aplausos)