Many people face the news each morning with trepidation and dread. Every day, we read of shootings, inequality, pollution, dictatorship, war and the spread of nuclear weapons. These are some of the reasons that 2016 was called the "Worst. Year. Ever." Until 2017 claimed that record --
Muitas pessoas encaram as notícias todas as manhãs com nervosismo e receio. Todos os dias, lemos notícias sobre tiroteios, desigualdade, poluição, ditaduras, guerra e propagação de armas nucleares. Estas são algumas das razões por que se chamou a 2016 o "Pior Ano de Sempre." Até que 2017 reivindicou o título
(Laughter)
(Risos)
and left many people longing for earlier decades, when the world seemed safer, cleaner and more equal.
e deixou muita gente com saudades das décadas anteriores, quando o mundo parecia mais seguro, mais limpo e mais igual.
But is this a sensible way to understand the human condition in the 21st century? As Franklin Pierce Adams pointed out, "Nothing is more responsible for the good old days than a bad memory."
Mas será que esta é uma maneira sensata de compreender a condição humana no século XXI? Como disse Franklin Pierce Adams: "Nada é tão responsável pelos bons tempos de outrora "do que uma memória ruim."
(Laughter)
(Risos)
You can always fool yourself into seeing a decline if you compare bleeding headlines of the present with rose-tinted images of the past. What does the trajectory of the world look like when we measure well-being over time using a constant yardstick?
Podemos sempre iludir-nos e enxergar um declínio se compararmos os cabeçalhos sanguinolentos do presente com imagens do passado vistas por lentes cor-de-rosa. Como parecerá a trajetória do mundo se medirmos o bem-estar através dos tempos
Let's compare the most recent data on the present
com os mesmos critérios?
with the same measures 30 years ago. Last year, Americans killed each other at a rate of 5.3 per hundred thousand, had seven percent of their citizens in poverty and emitted 21 million tons of particulate matter and four million tons of sulfur dioxide. But 30 years ago, the homicide rate was 8.5 per hundred thousand, poverty rate was 12 percent and we emitted 35 million tons of particulate matter and 20 million tons of sulfur dioxide.
Vamos comparar os dados mais recentes do presente com os números de há 30 anos. No ano passado, os norte-americanos mataram-se uns aos outros a uma taxa de 3,5 por cada 100 000, tinham 7% dos seus cidadãos na pobreza e emitiram 21 milhões de toneladas de material particulado e quatro milhões de toneladas de dióxido de enxofre. Mas há 30 anos, a taxa de homicídio era de 8,5 por cada 100 000, a taxa de pobreza era 12% e emitimos 35 milhões de toneladas de material particulado e 20 milhões de toneladas de dióxido de enxofre.
What about the world as a whole? Last year, the world had 12 ongoing wars, 60 autocracies, 10 percent of the world population in extreme poverty and more than 10,000 nuclear weapons. But 30 years ago, there were 23 wars, 85 autocracies, 37 percent of the world population in extreme poverty and more than 60,000 nuclear weapons. True, last year was a terrible year for terrorism in Western Europe, with 238 deaths, but 1988 was worse with 440 deaths.
E quanto ao mundo como um todo? No ano passado, o mundo teve 12 guerras em curso, 60 autocracias, 10% da população mundial em extrema pobreza e mais de 10 mil armas nucleares. Mas há 30 anos, havia 23 guerras, 85 autocracias, 37% da população mundial em extrema pobreza e mais de 60 000 armas nucleares. Sim, o ano passado foi terrível para o terrorismo na Europa ocidental, com 238 mortes, mas 1988 foi pior com 440 mortes.
What's going on? Was 1988 a particularly bad year? Or are these improvements a sign that the world, for all its struggles, gets better over time? Might we even invoke the admittedly old-fashioned notion of progress? To do so is to court a certain amount of derision, because I have found that intellectuals hate progress.
O que está a acontecer? Será que 1988 foi um ano especialmente mau? Ou estas melhorias são um sinal de que o mundo, apesar das dificuldades, melhora com o tempo? Podemos mesmo invocar o conceito ultrapassado de progresso? Fazer isso é atrair um certo desdém, pois descobri que os intelectuais odeiam o progresso.
(Laughter)
(Risos)
(Applause)
(Aplausos)
And intellectuals who call themselves progressive really hate progress.
Os intelectuais que se consideram progressistas odeiam mesmo o progresso.
(Laughter)
(Risos)
Now, it's not that they hate the fruits of progress, mind you. Most academics and pundits would rather have their surgery with anesthesia than without it. It's the idea of progress that rankles the chattering class. If you believe that humans can improve their lot, I have been told, that means that you have a blind faith and a quasi-religious belief in the outmoded superstition and the false promise of the myth of the onward march of inexorable progress. You are a cheerleader for vulgar American can-doism, with the rah-rah spirit of boardroom ideology, Silicon Valley and the Chamber of Commerce. You are a practitioner of Whig history, a naive optimist, a Pollyanna and, of course, a Pangloss, alluding to the Voltaire character who declared, "All is for the best in the best of all possible worlds."
Não é que eles odeiem os frutos do progresso, entenda-se. A maioria dos académicos e eruditos preferem fazer uma cirurgia com anestesia do que sem ela. É a ideia de progresso que irrita a classe palavrosa. Disseram-me que, se acreditarmos que os seres humanos podem melhorar a sua sorte, isso significa que temos uma fé cega e uma crença quase religiosa na superstição antiquada e na falsa promessa do mito da marcha contínua do progresso inexorável. Seremos fanáticos pelo vulgar conceito norte-americano de que somos capazes de tudo, com o espírito desportivo da ideologia de salão, de Sillicon Valley e da Câmara de Comércio. Seremos praticantes da história Whig, otimistas ingénuos, uma Pollyana e, claro, um Pangloss, uma referência ao personagem de Voltaire que declarou: "Tudo corre bem no melhor dos mundos possíveis."
Well, Professor Pangloss, as it happens, was a pessimist. A true optimist believes there can be much better worlds than the one we have today. But all of this is irrelevant, because the question of whether progress has taken place is not a matter of faith or having an optimistic temperament or seeing the glass as half full. It's a testable hypothesis. For all their differences, people largely agree on what goes into human well-being: life, health, sustenance, prosperity, peace, freedom, safety, knowledge, leisure, happiness. All of these things can be measured. If they have improved over time, that, I submit, is progress.
Bem, afinal de contas, o professor Pangloss era pessimista. Um verdadeiro otimista acredita que há mundos melhores do que o que temos hoje. Mas tudo isso é irrelevante, pois a questão de haver ou não progresso não é uma questão de fé nem de possuir um temperamento otimista ou ver o copo meio cheio. É uma hipótese testável. Apesar das diferenças, as pessoas concordam, em grande medida, com o que influencia o bem-estar humano: vida, saúde, alimento, prosperidade, paz, liberdade, segurança, conhecimento, lazer, felicidade. Todas estas coisas são mensuráveis. Se elas melhoraram com o tempo, acredito que isso é progresso.
Let's go to the data, beginning with the most precious thing of all, life. For most of human history, life expectancy at birth was around 30. Today, worldwide, it is more than 70, and in the developed parts of the world, more than 80. 250 years ago, in the richest countries of the world, a third of the children did not live to see their fifth birthday, before the risk was brought down a hundredfold. Today, that fate befalls less than six percent of children in the poorest countries of the world. Famine is one of the Four Horsemen of the Apocalypse. It could bring devastation to any part of the world. Today, famine has been banished to the most remote and war-ravaged regions. 200 years ago, 90 percent of the world's population subsisted in extreme poverty. Today, fewer than 10 percent of people do. For most of human history, the powerful states and empires were pretty much always at war with each other, and peace was a mere interlude between wars. Today, they are never at war with each other. The last great power war pitted the United States against China 65 years ago. More recently, wars of all kinds have become fewer and less deadly. The annual rate of war has fallen from about 22 per hundred thousand per year in the early '50s to 1.2 today. Democracy has suffered obvious setbacks in Venezuela, in Russia, in Turkey and is threatened by the rise of authoritarian populism in Eastern Europe and the United States. Yet the world has never been more democratic than it has been in the past decade, with two-thirds of the world's people living in democracies. Homicide rates plunge whenever anarchy and the code of vendetta are replaced by the rule of law. It happened when feudal Europe was brought under the control of centralized kingdoms, so that today a Western European has 1/35th the chance of being murdered compared to his medieval ancestors. It happened again in colonial New England, in the American Wild West when the sheriffs moved to town, and in Mexico.
Vamos aos dados, começando com o bem mais precioso: a vida. Durante grande parte da história da humanidade, a esperança de vida no nascimento era de 30 anos. Hoje, a nível mundial, é mais de 70 anos e nos países desenvolvidos, mais de 80 anos. Há 250 anos, nos países mais ricos do mundo, um terço das crianças não viviam até ao 5.º aniversário, até que o risco diminuiu cem vezes. Hoje, esse destino recai sobre menos de 6% das crianças nos países mais pobres do mundo. A fome é um dos quatro Cavaleiros do Apocalipse. Podia levar a devastação a qualquer parte do mundo. Hoje, a fome foi banida para as regiões mais remotas e assoladas por guerras. Há 200 anos, 90% da população mundial subsistia em extrema pobreza. Hoje, menos de 10% das pessoas vive assim. Durante muito tempo, as nações e impérios poderosos estavam sempre em guerra uns com os outros e a paz era apenas um interlúdio entre guerras. Hoje, nunca estão em guerra uns com os outros. A última grande guerra pelo poder colocou os EUA contra a China há 65 anos. Mais recentemente, as guerras tornaram-se mais raras e menos mortais. A taxa anual de guerras caiu de 22 em 100 000 por ano no inicio dos anos 50, para 1,2 hoje. A democracia sofreu óbvios retrocessos na Venezuela, na Rússia e na Turquia e está ameaçada pelo aumento do populismo autoritário no Leste Europeu e nos Estados Unidos da América. Mesmo assim, o mundo nunca foi tão democrático como nesta última década, com 2/3 da população mundial a viver em democracias. As taxas de homicídio diminuem quando a anarquia e o código da "vendetta" são substituídos pela lei. Isso aconteceu quando a Europa feudal passou para o controlo de reinos centralizados, de modo que, hoje, um europeu ocidental tem 1/35 de hipóteses de ser assassinado em comparação com os seus antepassados medievais. Voltou a acontecer na Nova Inglaterra colonial, no Far-Oeste norte-americano quando os xerifes chegaram às cidades e no México.
Indeed, we've become safer in just about every way. Over the last century, we've become 96 percent less likely to be killed in a car crash, 88 percent less likely to be mowed down on the sidewalk, 99 percent less likely to die in a plane crash, 95 percent less likely to be killed on the job, 89 percent less likely to be killed by an act of God, such as a drought, flood, wildfire, storm, volcano, landslide, earthquake or meteor strike, presumably not because God has become less angry with us but because of improvements in the resilience of our infrastructure. And what about the quintessential act of God, the projectile hurled by Zeus himself? Yes, we are 97 percent less likely to be killed by a bolt of lightning.
Sim, estamos mais seguros em quase todos os aspetos. No século passado, as hipóteses de morrer num acidente de carro diminuíram em 96%, de ser atropelado no passeio, em 88%, de morrer numa queda de avião, em 99%, de morrer no trabalho, em 95%, de morrer por um ato divino, em 89%, por exemplo, uma seca, uma cheia, um incêndio, uma tempestade, um vulcão, um deslizamento de terras, um terramoto ou um meteoro, não porque Deus esteja menos irritado connosco, mas por causa das melhorias na resistência das infraestruturas. E quanto ao mais puro ato de Deus, o projétil lançado pelo próprio Zeus? Sim, a hipótese de morrer por um raio diminuiu em 97%.
Before the 17th century, no more than 15 percent of Europeans could read or write. Europe and the United States achieved universal literacy by the middle of the 20th century, and the rest of the world is catching up. Today, more than 90 percent of the world's population under the age of 25 can read and write. In the 19th century, Westerners worked more than 60 hours per week. Today, they work fewer than 40. Thanks to the universal penetration of running water and electricity in the developed world and the widespread adoption of washing machines, vacuum cleaners, refrigerators, dishwashers, stoves and microwaves, the amount of our lives that we forfeit to housework has fallen from 60 hours a week to fewer than 15 hours a week.
Antes do século XVII, só 15% dos europeus sabia ler e escrever. A Europa e os EUA atingiram a alfabetização universal em meados do século XX, e o resto do mundo está quase lá. Hoje, mais de 90% da população mundial com menos de 25 anos sabe ler e escrever. No século XIX, os ocidentais trabalhavam mais de 60 horas por semana. Hoje, trabalham menos de 40 horas. Graças à distribuição mundial de água corrente e eletricidade, no mundo desenvolvido e à adoção maciça de máquinas de lavar, aspiradores, frigoríficos, máquinas de lavar loiça, fogões e micro-ondas, o tempo da nossa vida que dedicamos ao trabalho doméstico passou de 60 horas semanais para menos de 15 horas semanais.
Do all of these gains in health, wealth, safety, knowledge and leisure make us any happier? The answer is yes. In 86 percent of the world's countries, happiness has increased in recent decades.
Será que todos esses ganhos em saúde, riqueza, segurança, conhecimento e lazer nos torna mais felizes? A resposta é sim. Em 86% dos países do mundo, a felicidade aumentou nas últimas décadas.
Well, I hope to have convinced you that progress is not a matter of faith or optimism, but is a fact of human history, indeed the greatest fact in human history. And how has this fact been covered in the news?
Bom, espero ter-vos convencido de que o progresso não é uma questão de fé ou otimismo, mas sim um facto da história humana, na verdade, o maior facto da história humana. Como é que esse facto aparece nas notícias?
(Laughter)
(Risos)
A tabulation of positive and negative emotion words in news stories has shown that during the decades in which humanity has gotten healthier, wealthier, wiser, safer and happier, the "New York Times" has become increasingly morose and the world's broadcasts too have gotten steadily glummer.
Uma tabela de palavras emocionais positivas e negativas nas notícias mostrou que durante as décadas em que a humanidade se tornou mais saudável, mais rica, mais sábia, mais segura e mais feliz, o New York Times tornou-se cada vez mais rabugento e as transmissões mundiais também se tornaram cada vez mais soturnas.
Why don't people appreciate progress? Part of the answer comes from our cognitive psychology. We estimate risk using a mental shortcut called the "availability heuristic." The easier it is to recall something from memory, the more probable we judge it to be. The other part of the answer comes from the nature of journalism, captured in this satirical headline from "The Onion," "CNN Holds Morning Meeting to Decide What Viewers Should Panic About For Rest of Day."
Porque é que as pessoas não apreciam o progresso? Parte da resposta vem da nossa psicologia cognitiva. Avaliamos os riscos através de um atalho mental, a "heurística de disponibilidade". Quanto mais fácil é recordar algo da memória, mais provável julgamos que ela é. A outra parte da resposta vem da natureza do jornalismo, captada no cabeçalho satírico do 'The Onion": "A CNN reúne esta manhã para decidir qual o motivo de pânico "para os leitores para o resto do dia".
(Laughter)
(Risos)
(Applause)
(Aplausos)
News is about stuff that happens, not stuff that doesn't happen. You never see a journalist who says, "I'm reporting live from a country that has been at peace for 40 years," or a city that has not been attacked by terrorists. Also, bad things can happen quickly, but good things aren't built in a day. The papers could have run the headline, "137,000 people escaped from extreme poverty yesterday" every day for the last 25 years. That's one and a quarter billion people leaving poverty behind, but you never read about it. Also, the news capitalizes on our morbid interest in what can go wrong, captured in the programming policy, "If it bleeds, it leads." Well, if you combine our cognitive biases with the nature of news, you can see why the world has been coming to an end for a very long time indeed.
As notícias são sobre o que acontece, e não sobre aquilo que não acontece. Nunca vemos um jornalista a dizer: "Estou a falar ao vivo de um país que está em paz há 40 anos." ou de uma cidade que não foi atacada por terroristas. Além disso, as coisas más acontecem rapidamente, mas as coisas boas não acontecem de um dia para o outro. Os jornais podiam ter publicado um título: "Ontem, 137 000 pessoas saíram da pobreza extrema" todos os dias nos últimos 25 anos. São 1250 milhões de pessoas que saíram da pobreza mas nunca lemos nada sobre isso. As notícias também ganham com o nosso interesse mórbido no que pode correr mal, captado na política da programação: "Se sangra, comanda." Se juntarmos os nossos preconceitos cognitivos à natureza das notícias, vemos porque é que o mundo está a chegar ao fim já há muito tempo.
Let me address some questions about progress that no doubt have occurred to many of you. First, isn't it good to be pessimistic to safeguard against complacency, to rake the muck, to speak truth to power? Well, not exactly. It's good to be accurate. Of course we should be aware of suffering and danger wherever they occur, but we should also be aware of how they can be reduced, because there are dangers to indiscriminate pessimism. One of them is fatalism. If all our efforts at improving the world have been in vain, why throw good money after bad? The poor will always be with you. And since the world will end soon -- if climate change doesn't kill us all, then runaway artificial intelligence will -- a natural response is to enjoy life while we can, eat, drink and be merry, for tomorrow we die.
Vou abordar algumas questões sobre o progresso que, sem dúvida, já ocorreram a alguns de vocês. Um, será bom ser-se pessimista para se resguardar da complacência, expor a roupa suja, e enfrentar os poderosos? Bom, não exatamente. É bom ser-se correto. Claro que devemos ter consciência do sofrimento e do perigo ocorram onde ocorrerem, mas também devemos estar cientes de como podem ser reduzidos, pois há perigo no pessimismo indiscriminado. Um deles é o fatalismo. Se todos os esforços para melhorar o mundo foram em vão, porquê continuar a gastar dinheiro nisso? Sempre haverá pobres. E já que o mundo vai acabar em breve — se a alteração climática não nos matar, a inteligência artificial descontrolada o fará — a resposta natural é aproveitar a vida enquanto podemos, comer, beber e sermos felizes, pois vamos morrer amanhã.
The other danger of thoughtless pessimism is radicalism. If our institutions are all failing and beyond hope for reform, a natural response is to seek to smash the machine, drain the swamp, burn the empire to the ground, on the hope that whatever rises out of the ashes is bound to be better than what we have now.
O outro perigo do pessimismo descuidado é o radicalismo. Se todas as instituições estão a ruir e não há esperança de reforma, a resposta natural é querer destruir a máquina, drenar o pântano, reduzir o império a cinzas, na esperança de que o que surgir das cinzas seja melhor do que o que temos agora.
Well, if there is such a thing as progress, what causes it? Progress is not some mystical force or dialectic lifting us ever higher. It's not a mysterious arc of history bending toward justice. It's the result of human efforts governed by an idea, an idea that we associate with the 18th century Enlightenment, namely that if we apply reason and science that enhance human well-being, we can gradually succeed. Is progress inevitable? Of course not. Progress does not mean that everything becomes better for everyone everywhere all the time. That would be a miracle, and progress is not a miracle but problem-solving. Problems are inevitable and solutions create new problems which have to be solved in their turn. The unsolved problems facing the world today are gargantuan, including the risks of climate change and nuclear war, but we must see them as problems to be solved, not apocalypses in waiting, and aggressively pursue solutions like Deep Decarbonization for climate change and Global Zero for nuclear war.
Bom, se o progresso realmente existe, qual é sua causa? O progresso não é uma força mística ou dialética que está sempre a elevar-nos. Não é um arco histórico misterioso que se dirige para a justiça. É o resultado dos esforços humanos dominados por uma ideia, uma ideia que associamos com o Iluminismo do século XVIII, ou seja, se aplicarmos a razão e a ciência para melhorar o bem-estar humano, podemos ter sucesso, pouco a pouco. O progresso é inevitável? Claro que não. Progresso não significa que tudo vai melhorar para toda a gente, em todos os locais, o tempo todo. Isso seria um milagre e o progresso não é um milagre é a solução de problemas. Os problemas são inevitáveis e as soluções criam novos problemas que, por sua vez, têm de ser resolvidos. Os problemas não resolvidos, que hoje assolam o mundo, são gigantescos, incluindo os riscos da alteração climática e da guerra nuclear, mas temos que os ver como problemas a solucionar, e não como um apocalipse anunciado, e correr agressivamente atrás de soluções como o projeto Deep Decarbonization para a alteração climática e o Global Zero para a guerra nuclear.
Finally, does the Enlightenment go against human nature? This is an acute question for me, because I'm a prominent advocate of the existence of human nature, with all its shortcomings and perversities. In my book "The Blank Slate," I argued that the human prospect is more tragic than utopian and that we are not stardust, we are not golden and there's no way we are getting back to the garden.
Afinal, o Iluminismo vai contra a natureza humana? Essa é uma questão significativa para mim, pois sou um ativo defensor da existência da natureza humana, com todas as suas limitações e perversidades. No meu livro "The Blank Slate", argumentei que a perspetiva humana é mais trágica que utópica e que não somos poeira cósmica, não somos de ouro e não há forma de voltar para o jardim.
(Laughter)
(Risos)
But my worldview has lightened up in the 15 years since "The Blank Slate" was published. My acquaintance with the statistics of human progress, starting with violence but now encompassing every other aspect of our well-being, has fortified my belief that in understanding our tribulations and woes, human nature is the problem, but human nature, channeled by Enlightenment norms and institutions, is also the solution.
Mas a minha visão do mundo ficou mais leve nos 15 anos após a publicação de "The Blank Slate". A minha familiaridade com as estatísticas do progresso humano, a começar pela violência, mas agora incluindo todos os outros aspetos do nosso bem-estar, fortaleceu a minha crença de que, se entendermos as nossas atribulações e infortúnios, a natureza humana é o problema, mas a natureza humana, afunilada pelas normas e instituições do Iluminismo, também é a solução.
Admittedly, it's not easy to replicate my own data-driven epiphany with humanity at large. Some intellectuals have responded with fury to my book "Enlightenment Now," saying first how dare he claim that intellectuals hate progress, and second, how dare he claim that there has been progress.
Reconheço que não é fácil reproduzir a epifania que tive com os dados com a humanidade em geral. Alguns intelectuais reagiram com fúria ao meu livro "Enlightenment Now", dizendo primeiro: "Como é que ele ousa afirmar que os intelectuais odeiam o progresso?"
(Laughter)
e depois: "Como é que ele ousa afirmar que houve progresso?"
(Risos)
With others, the idea of progress just leaves them cold. Saving the lives of billions, eradicating disease, feeding the hungry, teaching kids to read? Boring.
Para outros, a ideia de progresso deixa-os indiferentes. Salvar a vida de milhares de milhões, erradicar doenças, alimentar os famintos, ensinar crianças a ler? Que chato!
At the same time, the most common response I have received from readers is gratitude, gratitude for changing their view of the world from a numb and helpless fatalism to something more constructive, even heroic.
Mas a resposta mais vulgar que recebi dos leitores foi gratidão, gratidão por mudar a sua visão do mundo de um fatalismo anestesiado e impotente para algo mais construtivo, até mesmo heroico.
I believe that the ideals of the Enlightenment can be cast a stirring narrative, and I hope that people with greater artistic flare and rhetorical power than I can tell it better and spread it further. It goes something like this.
Acredito que os ideais do Iluminismo podem ser uma narrativa empolgante e espero que as pessoas com maior talento artístico e maior poder de oratória do que eu possam mostrá-lo melhor e espalhá-lo mais. É mais ou menos assim:
We are born into a pitiless universe, facing steep odds against life-enabling order and in constant jeopardy of falling apart. We were shaped by a process that is ruthlessly competitive. We are made from crooked timber, vulnerable to illusions, self-centeredness and at times astounding stupidity.
Nascemos num universo impiedoso, encaramos desafios absurdos contra a ordem que permite a vida e estamos em risco constante de nos despedaçarmos. Somos modelados por um processo que é cruelmente competitivo. Somos feitos de material defeituoso, vulneráveis a ilusões, ao egoísmo e por vezes a uma estupidez estonteante.
Yet human nature has also been blessed with resources that open a space for a kind of redemption. We are endowed with the power to combine ideas recursively, to have thoughts about our thoughts. We have an instinct for language, allowing us to share the fruits of our ingenuity and experience. We are deepened with the capacity for sympathy, for pity, imagination, compassion, commiseration. These endowments have found ways to magnify their own power. The scope of language has been augmented by the written, printed and electronic word. Our circle of sympathy has been expanded by history, journalism and the narrative arts. And our puny rational faculties have been multiplied by the norms and institutions of reason, intellectual curiosity, open debate, skepticism of authority and dogma and the burden of proof to verify ideas by confronting them against reality.
Mesmo assim, a natureza humana foi abençoada com recursos que abrem espaço para uma certa redenção. Somos dotados com o poder de combinar ideias repetidamente, de pensar sobre os nossos pensamentos. Temos um instinto para a linguagem, o que nos permite partilhar os frutos da criatividade e da experiência. Somos enriquecidos com a capacidade para a empatia, para a pena, a imaginação, a compaixão, a solidariedade. Estes atributos encontraram maneiras de ampliar os seus próprios poderes. O alcance da linguagem foi aumentado pelo mundo escrito, impresso e eletrónico. O nosso círculo de apoio foi expandido pela história, pelo jornalismo e pelas artes narrativas. A nossa débil capacidade de raciocínio foi multiplicada pelas regras e instituições da razão., pela curiosidade intelectual, pelo debate aberto, pelo ceticismo quanto à autoridade e ao dogma e pelo ónus da prova para verificar ideias ao confrontá-las com a realidade.
As the spiral of recursive improvement gathers momentum, we eke out victories against the forces that grind us down, not least the darker parts of our own nature. We penetrate the mysteries of the cosmos, including life and mind. We live longer, suffer less, learn more, get smarter and enjoy more small pleasures and rich experiences. Fewer of us are killed, assaulted, enslaved, exploited or oppressed by the others. From a few oases, the territories with peace and prosperity are growing and could someday encompass the globe. Much suffering remains and tremendous peril, but ideas on how to reduce them have been voiced, and an infinite number of others are yet to be conceived.
Enquanto a espiral do progresso contínuo ganha impulso, ganhamos esparsas vitórias contra as forças contrárias, que são as partes mais sombrias de nossa natureza. Penetramos nos mistérios do cosmos, incluindo a vida e a mente. Vivemos mais tempo, sofremos menos, aprendemos mais, ficamos mais inteligentes e temos mais pequenos prazeres e mais ricas experiências. Há menos assassinados, menos agredidos, menos escravizados, menos explorados ou oprimidos por outros. A partir de poucos oásis, os territórios com paz e prosperidade estão a aumentar e podem um dia abarcar o mundo todo. Ainda resta muito sofrimento e perigos tremendos, mas já se exprimiram as ideias de como reduzi-los e ainda serão concebidas uma infinidade de outras ideias.
We will never have a perfect world, and it would be dangerous to seek one. But there's no limit to the betterments we can attain if we continue to apply knowledge to enhance human flourishing. This heroic story is not just another myth. Myths are fictions, but this one is true, true to the best of our knowledge, which is the only truth we can have. As we learn more, we can show which parts of the story continue to be true and which ones false, as any of them might be and any could become.
Nunca teremos um mundo perfeito, e seria perigoso desejar isso. Mas não há limites para as melhorias que podemos atingir se continuarmos a aplicar o conhecimento para aprimorar a prosperidade humana. Essa história heroica não é apenas mais um mito. Os mitos são ficções, mas este é verdadeiro, verdadeiro até onde podemos saber, que é a única verdade que temos. À medida que vanos aprendendo, podemos mostrar quais as partes da história que continuam verdadeiras e quais são falsas, pois qualquer uma delas pode ser falsa ou tornar-se falsa.
And this story belongs not to any tribe but to all of humanity, to any sentient creature with the power of reason and the urge to persist in its being, for it requires only the convictions that life is better than death, health is better than sickness, abundance is better than want, freedom is better than coercion, happiness is better than suffering and knowledge is better than ignorance and superstition.
Esta história não pertence a uma tribo mas a toda a humanidade, a qualquer criatura consciente com poder de raciocínio e com o desejo de continuar a existir, pois isso requer apenas a convicção de que a vida é melhor que a morte, a saúde é melhor que a doença, a abundância é melhor que a necessidade, a liberdade é melhor que a coerção, a felicidade é melhor que o sofrimento, e o conhecimento é melhor que a ignorância e a superstição.
Thank you.
Obrigado.
(Applause)
(Aplausos)