["Rebecca Newberger Goldstein"] ["Steven Pinker"] ["The Long Reach of Reason"] Cabbie: Twenty-two dollars. Steven Pinker: Okay. Rebecca Newberger Goldstein: Reason appears to have fallen on hard times: Popular culture plumbs new depths of dumbth and political discourse has become a race to the bottom. We're living in an era of scientific creationism, 9/11 conspiracy theories, psychic hotlines, and a resurgence of religious fundamentalism. People who think too well are often accused of elitism, and even in the academy, there are attacks on logocentrism, the crime of letting logic dominate our thinking.
Rebecca Newberger Goldstein Steven Pinker O Longo Alcance da Razão Taxista: 22 dólares. Steven Pinker: Ok. Rebecca N.Goldstein: Parece que a razão enfrenta tempos difíceis. A cultura popular revela novas manifestações de estupidez e o discurso político transformou-se numa corrida para o fundo. Vivemos numa era de criacionismo científico, teorias da conspiração sobre o 11 de setembro, chamadas de valor acrescentado para videntes, e o ressurgimento do fundamentalismo religioso. Pessoas que pensam demasiado bem são com frequência acusadas de elitismo, e mesmo no mundo académico, há ataques ao logocentrismo, o crime de deixar a lógica dominar o nosso pensamento.
SP: But is this necessarily a bad thing? Perhaps reason is overrated. Many pundits have argued that a good heart and steadfast moral clarity are superior to triangulations of overeducated policy wonks, like the best and brightest and that dragged us into the quagmire of Vietnam. And wasn't it reason that gave us the means to despoil the planet and threaten our species with weapons of mass destruction? In this way of thinking, it's character and conscience, not cold-hearted calculation, that will save us. Besides, a human being is not a brain on a stick. My fellow psychologists have shown that we're led by our bodies and our emotions and use our puny powers of reason merely to rationalize our gut feelings after the fact.
SP: Mas isso é necessariamente mau? Talvez a razão seja sobrevalorizada. Muitos analistas defendem que um bom coração e uma firme clareza moral são superiores às triangulações de "especialistas" políticos demasiado instruídos, como os melhores e mais inteligentes que nos arrastaram para o pântano do Vietname. E não foi a razão que nos deu os meios para despojar o planeta e ameaçar a nossa espécie, com armas de destruição maciça? Segundo essa forma de pensar, será o carácter e a consciência, e não o cálculo insensível, que nos salvará. Além disso, um ser humano não é um cérebro espetado num pau. Os meus colegas psicólogos demonstraram que somos levados pelos nossos corpos e pelas nossas emoções e usamos os nossos pobres poderes da razão apenas para racionalizar os nossos sentimentos de culpa depois dos factos.
RNG: How could a reasoned argument logically entail the ineffectiveness of reasoned arguments? Look, you're trying to persuade us of reason's impotence. You're not threatening us or bribing us, suggesting that we resolve the issue with a show of hands or a beauty contest. By the very act of trying to reason us into your position, you're conceding reason's potency. Reason isn't up for grabs here. It can't be. You show up for that debate and you've already lost it.
RNG: Como é que, segundo a lógica, um argumento sensato pode implicar a ineficácia de argumentos sensatos? Olhe, você está a tentar convencer-nos da impotência da razão. Não está a ameaçar-nos nem a subornar-nos, sugerindo que resolvamos a questão com um golpe de mãos ou um concurso de beleza. Com esse ato de tentar que concordemos com a sua posição, está a reconhecer potencial à razão. A razão não está aqui em discussão. Não pode estar. Você apareceu neste debate e já o perdeu.
SP: But can reason lead us in directions that are good or decent or moral? After all, you pointed out that reason is just a means to an end, and the end depends on the reasoner's passions. Reason can lay out a road map to peace and harmony if the reasoner wants peace and harmony, but it can also lay out a road map to conflict and strife if the reasoner delights in conflict and strife. Can reason force the reasoner to want less cruelty and waste?
SP: Mas será que a razão nos leva para direções que são boas ou decentes ou morais? Afinal, você assinalou que a razão é apenas um meio para atingir um fim, e o fim depende das paixões de quem raciocina. A razão pode traçar um caminho para a paz e para a harmonia, se quem raciocina quiser a paz e a harmonia, mas também pode traçar um caminho para o conflito e a luta se quem raciocina gostar do conflito e da luta. Será que a razão pode forçar quem raciocina a querer menos crueldade e desperdício?
RNG: All on its own, the answer is no, but it doesn't take much to switch it to yes. You need two conditions: The first is that reasoners all care about their own well-being. That's one of the passions that has to be present in order for reason to go to work, and it's obviously present in all of us. We all care passionately about our own well-being. The second condition is that reasoners are members of a community of reasoners who can affect one another's well-being, can exchange messages, and comprehend each other's reasoning. And that's certainly true of our gregarious and loquatious species, well endowed with the instinct for language.
RNG: Posto desse modo, a resposta é NÃO, mas não é preciso muito para mudá-la para SIM. São precisas duas condições: A primeira é que todos os que raciocinam se preocupem com o seu bem-estar. É uma das paixões que tem que estar presente para que a razão funcione, e obviamente está presente em todos nós. Todos nós desejamos ardentemente o nosso bem-estar. A segunda condição é que os que raciocinam sejam membros duma comunidade de seres pensantes que possam afetar o bem-estar uns dos outros, possam trocar mensagens, e compreender o raciocínio uns dos outros. E certamente que isso é uma verdade da nossa espécie gregária e loquaz, muito bem dotada com o instinto para a linguagem.
SP: Well, that sounds good in theory, but has it worked that way in practice? In particular, can it explain a momentous historical development that I spoke about five years ago here at TED? Namely, we seem to be getting more humane. Centuries ago, our ancestors would burn cats alive as a form of popular entertainment. Knights waged constant war on each other by trying to kill as many of each other's peasants as possible. Governments executed people for frivolous reasons, like stealing a cabbage or criticizing the royal garden. The executions were designed to be as prolonged and as painful as possible, like crucifixion, disembowelment, breaking on the wheel. Respectable people kept slaves. For all our flaws, we have abandoned these barbaric practices.
SP: Bem, isso soa bem em teoria, mas na prática é assim que tem funcionado? Em especial, conseguirá explicar uma evolução histórica importante de que falei aqui na TED há cerca de cinco anos? Nomeadamente, parece que nos vamos tornando mais humanos. Há séculos, os nossos antepassados queimavam gatos vivos, como forma de divertimento popular. Os cavaleiros estavam permanentemente em guerra uns com os outros tentando matar o maior número possível de camponeses uns dos outros. Os governos executavam pessoas por razões frívolas, como roubar uma couve, ou criticar o jardim real. As execuções eram imaginadas para serem tão prolongadas e tão dolorosas quanto possível, como a crucificação, o estripamento, o desmembramento na roda. Pessoas respeitáveis possuíam escravos. Por muitos defeitos que tenhamos, abandonámos essas práticas bárbaras.
RNG: So, do you think it's human nature that's changed?
RNG: Então, acha que foi a natureza humana que mudou?
SP: Not exactly. I think we still harbor instincts that can erupt in violence, like greed, tribalism, revenge, dominance, sadism. But we also have instincts that can steer us away, like self-control, empathy, a sense of fairness, what Abraham Lincoln called the better angels of our nature.
SP: Não propriamente. Penso que ainda mantemos instintos que podem explodir em violência, como a cobiça, o tribalismo, a vingança, o domínio, o sadismo. Mas também temos instintos que podem afastar-nos disso, como o auto-controlo, a empatia, um sentido de justiça, aquilo a que Abraham Lincoln chamava os "melhores anjos" da nossa natureza.
RNG: So if human nature didn't change, what invigorated those better angels?
RNG: Então, se a natureza humana não mudou, o que é deu força a esses "melhores anjos"?
SP: Well, among other things, our circle of empathy expanded. Years ago, our ancestors would feel the pain only of their family and people in their village. But with the expansion of literacy and travel, people started to sympathize with wider and wider circles, the clan, the tribe, the nation, the race, and perhaps eventually, all of humanity.
SP: Bem, entre outras coisas, o nosso círculo de empatia alargou-se. Há anos, os nossos antepassados só sentiam o sofrimento da sua família e das pessoas da sua aldeia. Mas, com a expansão da literacia e das viagens, as pessoas começaram a simpatizar com círculos cada vez mais amplos, o clã, a tribo, a nação, a raça, e talvez, finalmente, toda a Humanidade.
RNG: Can hard-headed scientists really give so much credit to soft-hearted empathy?
RNG: Será que cientistas racionalistas podem dar realmente tanto crédito à empatia de coração mole?
SP: They can and do. Neurophysiologists have found neurons in the brain that respond to other people's actions the same way they respond to our own. Empathy emerges early in life, perhaps before the age of one. Books on empathy have become bestsellers, like "The Empathic Civilization" and "The Age of Empathy."
SP: Podem e dão. Neurofisiologistas descobriram neurónios no cérebro que reagem às ações de outras pessoas da mesma forma que reagem às suas. A empatia aparece cedo na vida, talvez ainda antes de um ano de idade. Livros sobre a empatia foram "best-sellers", como "The Empathic Civilization" e "The Age of Empathy".
RNG: I'm all for empathy. I mean, who isn't? But all on its own, it's a feeble instrument for making moral progress. For one thing, it's innately biased toward blood relations, babies and warm, fuzzy animals. As far as empathy is concerned, ugly outsiders can go to hell. And even our best attempts to work up sympathy for those who are unconnected with us fall miserably short, a sad truth about human nature that was pointed out by Adam Smith.
RNG: Sou a favor da empatia, quem não é? Mas, por si só, é um fraco instrumento para o progresso moral. Por um lado, é inatamente parcial a favor de relações de sangue, de bebés, e de animais fofos e peludos. No que se refere à empatia, feios desconhecidos podem ir para o diabo. E mesmo as nossas melhores tentativas de termos simpatia para com os que não estão relacionados connosco, falham miseravelmente, uma triste verdade sobre a natureza humana, que foi assinalada por Adam Smith.
Adam Smith: Let us suppose that the great empire of China was suddenly swallowed up by an earthquake, and let us consider how a man of humanity in Europe would react on receiving intelligence of this dreadful calamity. He would, I imagine, first of all express very strongly his sorrow for the misfortune of that unhappy people. He would make many melancholy reflections upon the precariousness of human life, and when all these humane sentiments had been once fairly expressed, he would pursue his business or his pleasure with the same ease and tranquility as if no such accident had happened. If he was to lose his little finger tomorrow, he would not sleep tonight, but provided he never saw them, he would snore with the most profound security over the ruin of a hundred million of his brethren.
Adam Smith: "Suponhamos que o grande império "da China era subitamente engolido por um terramoto, "e consideremos como um homem de humanidade na Europa "reagiria ao receber a informação "desta terrível calamidade. "Segundo imagino, antes de tudo ele exprimiria muito profundamente "a sua pena pela desgraça daquele infeliz povo. "Faria muitas reflexões melancólicas "sobre a precariedade da vida humana "e, depois de todos esses sentimentos humanos "terem sido devidamente expressos, "continuaria o seu trabalho ou o seu lazer "com a mesma calma e tranquilidade que teria "caso nenhum acidente tivesse ocorrido. "Se soubesse que amanhã ia perder o dedo mínimo, "não conseguiria dormir esta noite, "mas, desde que não os visse, "ressonaria com a mais profunda segurança "sobre a ruína de cem milhões dos seus irmãos".
SP: But if empathy wasn't enough to make us more humane, what else was there?
SP: Mas, se a empatia não foi suficiente para nos tornar mais humanos, então o que é que foi?
RNG: Well, you didn't mention what might be one of our most effective better angels: reason. Reason has muscle. It's reason that provides the push to widen that circle of empathy. Every one of the humanitarian developments that you mentioned originated with thinkers who gave reasons for why some practice was indefensible. They demonstrated that the way people treated some particular group of others was logically inconsistent with the way they insisted on being treated themselves.
RNG: Bem, você não referiu o que pode ser um dos nossos "melhores anjos" mais eficazes: a razão. A razão tem músculo. É a razão que proporciona o impulso para alargar esse círculo de empatia. Cada uma das evoluções humanitárias que referiu teve origem em pensadores que deram razões explicando porque certas práticas eram indefensáveis. Demonstraram que a forma como as pessoas tratavam certos grupos de outras pessoas era logicamente inconsistente com a forma como elas insistiam em ser tratadas.
SP: Are you saying that reason can actually change people's minds? Don't people just stick with whatever conviction serves their interests or conforms to the culture that they grew up in?
SP: Está a dizer que a razão pode realmente mudar os espíritos das pessoas? Não é verdade que as pessoas se agarram a qualquer convicção que sirva os seus interesses ou esteja conforme com a cultura em que foram criadas?
RNG: Here's a fascinating fact about us: Contradictions bother us, at least when we're forced to confront them, which is just another way of saying that we are susceptible to reason. And if you look at the history of moral progress, you can trace a direct pathway from reasoned arguments to changes in the way that we actually feel. Time and again, a thinker would lay out an argument as to why some practice was indefensible, irrational, inconsistent with values already held. Their essay would go viral, get translated into many languages, get debated at pubs and coffee houses and salons, and at dinner parties, and influence leaders, legislators, popular opinion. Eventually their conclusions get absorbed into the common sense of decency, erasing the tracks of the original argument that had gotten us there. Few of us today feel any need to put forth a rigorous philosophical argument as to why slavery is wrong or public hangings or beating children. By now, these things just feel wrong. But just those arguments had to be made, and they were, in centuries past.
RNG: Veja este facto fascinante sobre nós: As contradições incomodam-nos, pelo menos quando somos obrigados a confrontar-nos com elas, o que é uma outra maneira de dizer que somos susceptíveis à razão. E, se olharmos para a história do progresso moral, podemos detetar um caminho direto, dos argumentos sólidos até às mudanças na forma como realmente sentimos. Repetidamente um pensador apresentava um argumento sobre a razão pela qual certa prática era indefensável, irracional, inconsistente com os valores já defendidos. A sua proposta tornava-se viral, era traduzida em muitas línguas, era debatida em bares e cafés e salões, e em jantares, e influenciava líderes, legisladores, a opinião popular. Eventualmente as conclusões eram absorvidas no senso comum de decência, apagando os vestígios do argumento original que nos tinha feito lá chegar. Poucos de nós sentem hoje a necessidade de avançar com um rigoroso argumento filosófico quanto à escravatura ser uma coisa errada ou os enforcamentos públicos, ou bater em crianças. Atualmente, sentimos que essas coisas são erradas. Mas esses argumentos tiveram que ser apresentados, e foram-no, nos séculos passados.
SP: Are you saying that people needed a step-by-step argument to grasp why something might be a wee bit wrong with burning heretics at the stake?
SP: Está a dizer que as pessoas precisavam de uma discussão passo a passo para perceber o que é que pode haver de ligeiramente errado em queimar hereges na fogueira...?
RNG: Oh, they did. Here's the French theologian Sebastian Castellio making the case.
RNG: Claro, precisavam. Oiça o teólogo francês Sebastian Castellio a apresentar o caso:
Sebastian Castellio: Calvin says that he's certain, and other sects say that they are. Who shall be judge? If the matter is certain, to whom is it so? To Calvin? But then, why does he write so many books about manifest truth? In view of the uncertainty, we must define heretics simply as one with whom we disagree. And if then we are going to kill heretics, the logical outcome will be a war of extermination, since each is sure of himself.
Sebastian Castellio: "Calvin diz que ele é que está certo, "e outras seitas dizem que são elas que estão. "Quem vai ser o juiz? "Se a questão está certa, está certa para quem? Para Calvin? "Mas então, porque é que ele escreve tantos livros "sobre uma verdade manifesta? "Perante a incerteza, temos que definir os hereges "apenas como alguém com quem discordamos. "E, se vamos matar os hereges, "o resultado lógico será uma guerra de extermínio,
SP: Or with hideous punishments like breaking on the wheel?
"visto que ambos estão seguros de si". SP: ...ou com punições horríveis, como o desmembramento na roda?
RNG: The prohibition in our constitution of cruel and unusual punishments was a response to a pamphlet circulated in 1764 by the Italian jurist Cesare Beccaria.
RNG: A proibição na nossa Constituição de punições cruéis e invulgares foi uma resposta a um panfleto que circulou em 1764, feito pelo jurista italiano Cesare Beccaria:
Cesare Beccaria: As punishments become more cruel, the minds of men, which like fluids always adjust to the level of the objects that surround them, become hardened, and after a hundred years of cruel punishments, breaking on the wheel causes no more fear than imprisonment previously did. For a punishment to achieve its objective, it is only necessary that the harm that it inflicts outweighs the benefit that derives from the crime, and into this calculation ought to be factored the certainty of punishment and the loss of the good that the commission of the crime will produce. Everything beyond this is superfluous, and therefore tyrannical.
Cesare Beccaria: "À medida que as punições se tornam mais cruéis, "os espíritos dos homens que, tal como fluidos, "se ajustam sempre ao nível dos objetos "que os rodeiam, endurecem, "e, ao fim de cem anos de punições cruéis, "o desmembramento na roda não provoca mais medo "do que a prisão metia anteriormente. "Para que uma punição alcançe o seu objetivo, "só é necessário que o mal que ela inflige "ultrapasse o benefício que resulta do crime, "e, para esse cálculo, deve ser tido em conta "a certeza da punição "e a perda do bem "que a perpetração do crime produzir. "Tudo o que for para além disso é supérfluo, "e, portanto, tirânico".
SP: But surely antiwar movements depended on mass demonstrations and catchy tunes by folk singers and wrenching photographs of the human costs of war.
SP: Mas, seguramente, o movimento anti-guerra dependeu de manifestações em massa e melodias contangiantes de cantores populares e fotografias perturbadoras dos custos humanos da guerra.
RNG: No doubt, but modern anti-war movements reach back to a long chain of thinkers who had argued as to why we ought to mobilize our emotions against war, such as the father of modernity, Erasmus.
RNG: Sem dúvida, mas os modernos movimentos antiguerra resgatam uma longa cadeia de pensadores que argumentaram porque é que deveríamos mobilizar as nossas emoções contra a guerra, como, por exemplo, o pai da modernidade, Erasmo:
Erasmus: The advantages derived from peace diffuse themselves far and wide, and reach great numbers, while in war, if anything turns out happily, the advantage redounds only to a few, and those unworthy of reaping it. One man's safety is owing to the destruction of another. One man's prize is derived from the plunder of another. The cause of rejoicings made by one side is to the other a cause of mourning. Whatever is unfortunate in war, is severely so indeed, and whatever, on the contrary, is called good fortune, is a savage and a cruel good fortune, an ungenerous happiness deriving its existence from another's woe.
Erasmo: "As vantagens decorrentes da paz "espalham-se por todos os cantos, "e atingem grandes números, "enquanto que, na guerra, se alguma coisa corre bem, "a vantagem resulta só para alguns, "e para os que não são dignos de a colher. "A segurança duma pessoa deve-se à destruição de outra. "O prémio duma pessoa deriva da pilhagem de outra. "A causa do regozijo de um lado "é para o outro a causa de choro. "O que é infelicidade na guerra, "é-o de facto de modo muito severo "e o que, pelo contrário. "se chama boa sorte, "é uma boa sorte selvagem e cruel, "uma felicidade egoísta que deve a sua existência à má sorte de outros".
SP: But everyone knows that the movement to abolish slavery depended on faith and emotion. It was a movement spearheaded by the Quakers, and it only became popular when Harriet Beecher Stowe's novel "Uncle Tom's Cabin" became a bestseller.
SP: Mas toda a gente sabe que o movimento para a abolição da escravatura dependeu da fé e da emoção. Foi um movimento encabeçado pelos Quakers, e só se tornou popular quando o romance de Harriet Beecher Stowe, "A Cabana do Pai Tomás", se tornou num "best-seller".
RNG: But the ball got rolling a century before. John Locke bucked the tide of millennia that had regarded the practice as perfectly natural. He argued that it was inconsistent with the principles of rational government.
RNG: Mas o processo já tinha começado há um século. John Locke contrariou a maré de milénios que tinham considerado essa prática como perfeitamente natural. Argumentou que era inconsistente com os princípios de um governo racional.
John Locke: Freedom of men under government is to have a standing rule to live by common to everyone of that society and made by the legislative power erected in it, a liberty to follow my own will in all things where that rule prescribes not, not to be subject to the inconstant, uncertain, unknown, arbitrary will of another man, as freedom of nature is to be under no other restraint but the law of nature.
John Locke: "A liberdade dos homens sob um governo "é ter uma norma em vigor segundo a qual vivam, "igual para todos nessa sociedade. "e feita pelo poder legislativo nela consagrado, "uma liberdade de seguir a minha vontade em todas as coisas "que não sejam proibidas por essa norma "que não esteja sujeita à vontade inconstante, "incerta, desconhecida e arbitrária de outro homem, "porque a liberdade da natureza é não ter nenhum constrangimento "a não ser a lei da Natureza".
SP: Those words sound familiar. Where have I read them before? Ah, yes.
SP: Essas palavras parecem-me familiares. Onde é que eu já as li? Ah, sim.
Mary Astell: If absolute sovereignty be not necessary in a state, how comes it to be so in a family? Or if in a family, why not in a state? Since no reason can be alleged for the one that will not hold more strongly for the other, if all men are born free, how is it that all women are born slaves, as they must be if being subjected to the inconstant, uncertain, unknown, arbitrary will of men be the perfect condition of slavery?
Mary Astell: "Se a soberania absoluta não é necessária num Estado, "como ela o pode ser numa família? "Ou, se o é numa família, porque não num Estado? "Como não se pode aduzir nenhuma razão para aquela "que seja mais forte do que para a outra, "se todos os homens nascem livres, "como é que todas as mulheres nascem escravas, "como são, visto estarem sujeitas "à vontade inconstante, incerta, "desconhecida, arbitrária dos homens "é a perfeita condição da escravatura?
RNG: That sort of co-option is all in the job description of reason. One movement for the expansion of rights inspires another because the logic is the same, and once that's hammered home, it becomes increasingly uncomfortable to ignore the inconsistency. In the 1960s, the Civil Rights Movement inspired the movements for women's rights, children's rights, gay rights and even animal rights. But fully two centuries before, the Enlightenment thinker Jeremy Bentham had exposed the indefensibility of customary practices such as the cruelty to animals.
RNG: Esse tipo de adesão está toda ela na descrição das funções da razão. Um movimento pela expansão de direitos, inspira outro, porque a lógica é a mesma e, depois de ser repetida em casa, torna-se cada vez mais desconfortável ignorar a inconsistência. Nos anos 60, o Movimento dos Direitos Civis inspirou os movimentos em defesa dos direitos das mulheres, dos direitos das crianças, dos direitos dos "gays" e até mesmo dos direitos dos animais. Mas dois séculos antes, o pensador iluminista Jeremy Bentham denunciara a impossibilidade de defesa de práticas habituais como
Jeremy Bentham: The question is not, can they reason, nor can they talk, but can they suffer?
a crueldade para com os animais. Jeremy Bentham: "A questão não é 'podem eles raciocinar,
RNG: And the persecution of homosexuals.
"nem 'podem eles falar', mas 'podem eles sofrer?'"
JB: As to any primary mischief, it's evident that it produces no pain in anyone. On the contrary, it produces pleasure. The partners are both willing. If either of them be unwilling, the act is an offense, totally different in its nature of effects. It's a personal injury. It's a kind of rape. As to the any danger exclusive of pain, the danger, if any, much consist in the tendency of the example. But what is the tendency of this example? To dispose others to engage in the same practices. But this practice produces not pain of any kind to anyone.
RNG: E a perseguição de homossexuais: Jeremy Bentham: "Quanto a qualquer desvio primário, "é evidente que não provoca sofrimento a ninguém. "Pelo contrário, produz prazer. "Os parceiros estão ambos de acordo. "Se qualquer deles não estiver disposto, "o ato é uma violência. "completamente diferente na sua natureza dos efeitos. "É uma ofensa pessoal. É uma espécie de violação. "Quanto a qualquer perigo exclusivo de sofrimento, "o perigo, se existe, pode consistir "na tendência do exemplo. "Mas qual é a tendência deste exemplo? "Levar outros a envolver-se nas mesmas práticas. "Mas esta prática não produz qualquer sofrimento
SP: Still, in every case, it took at least a century for the arguments of these great thinkers to trickle down and infiltrate the population as a whole. It kind of makes you wonder about our own time. Are there practices that we engage in where the arguments against them are there for all to see but nonetheless we persist in them?
"a ninguém". SP: Ainda assim, em todos esses casos, demorou pelo menos um século para que os argumentos desses grandes pensadores se multiplicassem e se infiltrassem em toda a população. Faz-nos refletir sobre a nossa época. Haverá práticas que nos são habituais em que haja argumentos contra elas, que todos podemos ver,
RNG: When our great grandchildren look back at us, will they be as appalled by some of our practices as we are by our slave-owning, heretic-burning, wife-beating, gay-bashing ancestors?
mas que, no entanto, continuamos com elas? RNG: Quando os nossos bisnetos olharem para nós, ficarão tão estupefactos com algumas das nossas práticas como nós ficamos com a posse de escravos, a queima de hereges, a violência doméstica
SP: I'm sure everyone here could think of an example.
e a violência contra "gays", dos nossos antepassados?
RNG: I opt for the mistreatment of animals in factory farms.
SP: Tenho a certeza de que toda a gente aqui pode apontar um exemplo. RNG: Eu opto pelos maus tratos a animais,
SP: The imprisonment of nonviolent drug offenders and the toleration of rape in our nation's prisons.
em quintas-fábricas. SP: A prisão de consumidores pacíficos de drogas
RNG: Scrimping on donations to life-saving charities in the developing world.
e a tolerância de violações nas prisões da nossa nação. RNG: A dependência em doações para obras de caridade que salvam vidas
SP: The possession of nuclear weapons.
no mundo em desenvolvimento.
RNG: The appeal to religion to justify the otherwise unjustifiable, such as the ban on contraception.
SP: A posse de armas nucleares. RNG: O apelo à religião para justificar o de outro modo injustificável,
SP: What about religious faith in general?
como a proibição da contraceção.
RNG: Eh, I'm not holding my breath.
SP: E sobre a fé religiosa em geral?
SP: Still, I have become convinced that reason is a better angel that deserves the greatest credit for the moral progress our species has enjoyed and that holds out the greatest hope for continuing moral progress in the future.
RNG: Ah, não espero muita coisa. SP: Mesmo assim, você convenceu-me que a razão é um 'anjo melhor' que merece o maior crédito pelo progresso moral que a nossa espécie tem desfrutado e que contém a maior esperança
RNG: And if, our friends, you detect a flaw in this argument, just remember you'll be depending on reason to point it out.
para a continuação do progresso moral no futuro. RNG: E, caros amigos, se detetarem uma falha neste argumento, lembrem-se que dependem da razão
Thank you. SP: Thank you.
para o assinalar.
Obrigada. SP: Obrigado.
(Applause)
(Aplausos)