My name is Shari Davis, and let's be honest, I'm a recovering government employee. And I say that with a huge shout-out to the folks that work in government and on systems change. It's hard. It can be isolating. And the work can feel impossible. But government is the people that show up. Really, it's the people that can show up and are committed to the promise that public service offers: service to people, democracy and fixing the problems that community members face.
Meu nome é Shari Davis, e verdade seja dita: fui servidora pública e estou em recuperação. Digo isso parabenizando o pessoal que trabalha no governo e na mudança de sistemas. É difícil. Pode ser solitário. E o trabalho pode parecer impossível. Mas o governo é feito pelas pessoas que se envolvem, por aqueles que podem participar e se comprometem com as promessas feitas pelo serviço público, que são: serviço ao povo, democracia e solução aos problemas da comunidade.
Seventeen years ago, I walked through city hall for the first time as a staff member. And that walk revealed something to me. I was a unicorn. There weren't many people who looked like me that worked in the building. And yet, there were folks committed to addressing hundreds of years of systemic inequity that left some behind and many ignored. Where there was promise, there was a huge problem. You see, democracy, as it was originally designed, had a fatal flaw. It only laid pipeline for rich white men to progress. And now, if you're a smart rich white man, you understand why I say that's a problem. Massive talent has been left off the field. Our moral imaginations have grown anemic. Our highest offices are plagued by corruption. We're on the brink of a sort of apathetic apocalypse, and it's not OK.
Dezessete anos atrás, entrei pela primeira vez numa prefeitura como funcionária. Naquele momento, tive uma revelação: eu era um unicórnio. Não havia muita gente parecida comigo trabalhando naquele prédio. Mesmo assim, havia pessoas comprometidas a lutar contra a desigualdade sistêmica que, por centenas de anos, deixou alguns para trás e ignorou muitos. Naquilo em que havia promessa, havia um problema enorme, pois a democracia, originalmente, foi desenhada com um defeito fatal. Ela só abria caminho para homens brancos ricos progredirem. Se você for um homem branco rico inteligente, você entende por que isso é um problema. Uma imensa quantidade de talento foi deixada de fora. Nossa imaginação moral ficou anêmica. Nossas principais autoridades estão tomadas pela corrupção. Estamos à beira de um apocalipse de apatia. Isso não está certo.
We've got to open the doors to city halls and schools so wide that people can't help but walk in. We've got to throw out the old top-down processes that got us into this mess, and start over, with new faces around the table, new voices in the mix, and we have to welcome new perspectives every step of the way. Not because it's the right thing to do -- although it is -- but because that's the only way for us to all succeed together.
As portas das prefeituras e das escolas precisam ser abertas de forma tão ampla que as pessoas não possam deixar de entrar. Precisamos jogar fora os antigos processos "top-down" que nos colocaram nessa bagunça e recomeçar, com novos rostos ao redor da mesa e novas vozes no coro, acolhendo novas perspectivas durante todo o processo, não por ser a coisa certa a fazer, embora seja, mas por ser a única forma de todos termos sucesso juntos.
And here's the best news of all. I know how to do it. The answer -- well, an answer, is participatory budgeting. That's right. Participatory budgeting, or "PB" for short.
E eis a melhor notícia: eu sei como fazer isso. A resposta, ou melhor, uma resposta, é o orçamento participativo. Isso mesmo. Orçamento participativo, ou OP,
PB is a process that brings community and government together to ideate, develop concrete proposals and vote on projects that solve real problems in community.
é um processo que une a comunidade e o governo para formar ideias, desenvolver propostas concretas e votar em projetos que resolvam problemas reais em comunidade.
Now I realize that people don't get up and dance when I start talking about public budgets. But participatory budgeting is actually about collective, radical imagination. Everyone has a role to play in PB, and it works, because it allows community members to craft real solutions to real problems and provides the infrastructure for the promise of government. And honestly, it's how I saw a democracy actually work for the first time.
Sei que as pessoas não saem pulando de animação quando falo de orçamentos públicos. Mas o orçamento participativo é sobre imaginação coletiva e revolucionária. Todos têm um papel a cumprir no OP, e ele dá certo, porque permite a membros da comunidade elaborar soluções reais para problemas reais, e providencia a infraestrutura para ser cumprida a promessa de governo. Foi assim que vi a democracia funcionar de verdade pela primeira vez.
I remember it like it was yesterday. It was 2014 in Boston, Massachusetts, and mayor Menino asked me to launch the country's first youth-focused PB effort with one million dollars of city funds. Now, we didn't start with line items and limits or spreadsheets and formulas. We started with people. We wanted to make sure that everyone was listened to.
Lembro como se fosse ontem: em 2014, na cidade de Boston, o prefeito Menino me pediu para dar início ao primeiro OP do país direcionado à juventude, com uma verba pública de US$ 1 milhão. Não começamos com rubricas e limites, nem com planilhas e fórmulas. Começamos pelas pessoas. Queríamos garantir que todos fossem ouvidos.
So we brought in young people from historically and traditionally marginalized neighborhoods, members of the queer community and youth that were formerly incarcerated, and together, often with pizza and a sugar-free beverage, we talked about how to make Boston better. And we designed a process that we called "Youth Lead the Change." We imagined a Boston where young people could access the information that they need to thrive. Where they could feel safe in their communities, and where they can transform public spaces into real hubs of life for all people.
Convidamos jovens de vizinhanças historicamente e tradicionalmente marginalizadas, jovens da comunidade LGBTQ e jovens ex-detentos. Juntos, muitas vezes comendo pizza e bebendo algo sem açúcar, falamos sobre como melhorar Boston. Elaboramos um processo chamado "Youth Lead the Change", a juventude conduz a mudança. Imaginamos uma Boston onde os jovens têm acesso às informações que precisam para prosperar, onde podem se sentir seguros em suas comunidades e podem transformar áreas públicas em verdadeiros centros de vida para todas as pessoas.
And that's exactly what they did. In the first year, young people allocated 90,000 dollars to increase technology access for Boston public high school students, by delivering laptops right to Boston public high schools, so that students could thrive inside and outside of the classroom. They allocated 60,000 dollars to creating art walls that literally and figuratively brightened up public spaces. But they addressed a more important problem. Young people were being criminalized and pulled into the justice system for putting their art on walls. So this gave them a safe space to practice their craft. They allocated 400,000 dollars to renovating parks, to make them more accessible for all people of all bodies.
E foi exatamente isso que fizeram. No primeiro ano, destinaram US$ 90 mil para aumentar o acesso à tecnologia a alunos de escola pública em Boston, distribuindo notebooks às escolas, para que os estudantes pudessem progredir dentro e fora da sala de aula. Destinaram US$ 60 mil à criação de arte urbana, que, de forma literal e figurada, iluminou espaços públicos. E resolveram um problema mais importante. Jovens estavam sendo criminalizados e jogados no sistema prisional por colocarem sua arte em paredes. Esse projeto deu a eles um espaço seguro para desenvolver seu talento. Destinaram US$ 400 mil para renovar parques e torná-los acessíveis a pessoas de todos os tipos físicos.
Now, admittedly, this didn't go as smoothly as we had planned. Right before we broke ground on the park, we actually found out that it was on top of an archaeological site and had to halt construction. I thought I broke PB. But because the city was so committed to the project, that's not what happened. They invited community in to do a dig, protected the site, found artifacts, extended Boston's history and then moved forward with the renovation. If that isn't a reflection of radical imagination in government, I don't know what is.
Confesso que as coisas não fluíram exatamente como planejávamos. Quando estávamos prestes a iniciar a obra, descobrimos que o parque ficava em cima de um sítio arqueológico e tivemos de interromper a construção. Pensei que eu havia arruinado o OP, mas, graças ao comprometimento da cidade com o projeto, isso não aconteceu. Convidaram a comunidade para uma escavação, protegeram o sítio, encontraram artefatos, contribuíram com a história de Boston e depois retomaram a reforma. Se isso não for um reflexo de imaginação revolucionária no governo, não sei o que é.
What sounds simple is actually transformational for the people and communities involved. I'm seeing community members shape transportation access, improve their schools and even transform government buildings, so that there is space inside of them for them. Before we had PB, I would see people who look like me and come from where I come from walk in to government buildings for this new initiative or that new working group, and then I'd watch them walk right back out. Sometimes I wouldn't see them again. It's because their expertise was being unvalued. They weren't truly being engaged in the process. Put PB is different.
O que parece simples é, na verdade, transformador para as pessoas e comunidades envolvidas. Vejo membros da comunidade moldando o acesso ao transporte, melhorando suas escolas e transformando prédios públicos para que tenham espaço para todos. Quando não tínhamos o OP, eu via pessoas parecidas comigo, que vieram de onde vim, entrando em prédios públicos para participar de alguma iniciativa ou grupo de trabalho novo e indo embora logo em seguida. Às vezes, eu nunca mais as via. Porque a habilidade delas era desvalorizada. Elas não eram incluídas de verdade no processo. Mas o OP é diferente.
When we started doing PB, I met amazing young leaders across the city. One in particular, a rock star, Malachi Hernandez, 15 years old, came into a community meeting -- shy, curious, a little quiet. Stuck around and became one of the young people hoping to lead the project. Now fast-forward a couple of years. Malachi was the first in his family to attend college. A couple of weeks ago, he was the first in his family to graduate. Malachi has appeared in the Obama White House several times as part of the My Brother's Keeper initiative. President Obama even quotes Malachi in interviews. It's true, you can look it up. Malachi got engaged, stayed engaged, and is out here changing the way we think about community leadership and potential.
Quando começamos, conheci jovens líderes incríveis em toda a cidade. Um deles em particular, muito popular, chamado Malachi Hernandez, participou, aos 15 anos, de uma reunião comunitária, tímido, curioso, meio quieto... Continuou participando e se tornou um dos jovens que esperavam liderar o projeto. Alguns anos depois, Malachi foi o primeiro em sua família a entrar na faculdade. Há poucas semanas, foi o primeiro da família a se formar. Esteve na Casa Branca no governo de Obama várias vezes, como participante da iniciativa "My Brother's Keeper". O ex-presidente Obama até cita Malachi em entrevistas. É verdade. Pode pesquisar. Malachi se engajou, continuou engajado e está mudando nossas ideias sobre liderança comunitária e sobre o potencial das pessoas.
Or my friend Maria Hadden, who was involved in the first PB process in Chicago. Then went on to become a founding participatory budgeting project board member, eventually a staff member, and then unseated a 28-year incumbent, becoming the first queer Black alderperson in Chicago's history. That's real engagement. That's being taken seriously. That's building out and building on community leadership. That's system change.
Outra jovem é minha amiga Maria Hadden, que esteve envolvida no primeiro processo de OP de Chicago. Se tornou membra fundadora do conselho do projeto de orçamento participativo e, mais tarde, membra da equipe. Depois derrotou um candidato que era vereador há 28 anos, se tornando a primeira vereadora negra e "queer" na história de Chicago. Isso é engajamento de verdade. Isso é ser levado a sério. Isso é expandir e desenvolver a liderança comunitária. Isso é mudar o sistema.
And it's not just in the US either. After starting 30 years ago in Brazil, PB has spread to over 7,000 cities across the globe. In Paris, France, the mayor puts up five percent of her budget, over 100 million euros, for community members to decide on and shape their city. Globally, PB has been shown to improve public health, reduce corruption and increase trust in government.
E não acontece apenas nos EUA. O OP começou há 30 anos no Brasil e se espalhou pelo mundo por mais de 7 mil cidades. Em Paris, a prefeita disponibiliza 5% de seu orçamento, mais de 100 milhões de euros, para membros da comunidade decidirem como moldar a cidade. Globalmente, o OP tem melhorado a saúde pública, reduzido a corrupção e elevado a confiança pública no governo.
Now we know the challenges that we face in today's society. How can we expect people to feel motivated, to show up to the polls when they can't trust that government is run by and for the people. I argue that we haven't actually experienced true participatory democracy in these United States of America just yet. But democracy is a living, breathing thing. And it's still our birthright. It's time to renew trust, and that's not going to come easy. We have to build new ways of thinking, of talking, of working, of dreaming, of planning in its place. What would America look like if everyone had a seat at the table? If we took the time to reimagine what's possible, and then ask, "How do we get there?"
Sabemos os desafios que enfrentamos na sociedade. Como podemos esperar que as pessoas se sintam motivadas a votar quando não podem confiar que o governo é feito pelo povo e para o povo? Eu diria que nunca tivemos uma verdadeira democracia participativa nos Estudos Unidos, por enquanto. Mas a democracia é um ser vivo, que respira. E ela ainda é nosso direito de nascença. É tempo de renovar a confiança, e isso não vai ser fácil. Devemos construir novas formas de pensar, de falar, de trabalhar, de sonhar, de planejar... no lugar dela. Como seria os EUA se todos pudessem participar da discussão? E se nos dedicássemos a reimaginar as possibilidades e pensássemos em como alcançá-las juntos?
My favorite author, Octavia Butler, says it best. In "Parable of the Sower," basically my Bible, she says, "All that you touch You Change. All that you Change Changes you. The only lasting truth Is Change. God Is Change." It's time for these 50 states to change. What got us here sure as hell won't get us there. We've got to kick the walls of power down and plant gardens of genuine democracy in their place. That's how we change systems. By opening doors so wide that people can't help but walk in.
Minha autora favorita, Octavia Butler, diz isso melhor. No livro "A Parábola do Semeador", que é praticamente minha bíblia, ela diz: "Tudo o que você toca Você Muda. Tudo o que você Muda Muda você. A única verdade perene é a Mudança. Deus é Mudança". É hora deste país mudar. Aquilo que nos trouxe até aqui não vai nos levar adiante. Devemos derrubar os muros do poder e plantar, no lugar deles, jardins de uma democracia genuína. É assim que mudamos os sistemas, abrindo portas tão amplas que as pessoas não resistam a entrar.
So what's stopping you from bringing participatory budgeting to your community?
Então o que você está esperando para trazer à sua comunidade o orçamento participativo?