I'm not at all a cook. So don't fear, this is not going to be a cooking demonstration. But I do want to talk to you about something that I think is dear to all of us. And that is bread -- something which is as simple as our basic, most fundamental human staple. And I think few of us spend the day without eating bread in some form. Unless you're on one of these Californian low-carb diets, bread is standard. Bread is not only standard in the Western diet. As I will show to you, it is actually the mainstay of modern life.
Eu não sou cozinheira. Portanto, não se assustem, porque isto não vai ser uma demonstração de cozinha. No entanto, quero falar de algo que acredito ser do interesse de todos nós. O pão — algo tão simples quanto a nossa base mais fundamental de sustento humano. E creio que poucos de nós passam um dia sem comer pão sob qualquer forma. A menos que estejam numa dessas dietas californianas pobres em hidratos de carbono. o pão é a norma. Mas não é só na dieta ocidental que o pão é norma. Tal como vos mostrarei em seguida, o pão é, na realidade, o pilar da vida moderna.
So I'm going to bake bread for you. In the meantime I'm also talking to you, so my life is going to be complicated. Bear with me. First of all, a little bit of audience participation. I have two loaves of bread here. One is a supermarket standard: white bread, pre-packaged, which I'm told is called a Wonderbread. (Laughter) I didn't know this word until I arrived. And this is more or less, a whole-meal, handmade, small-bakery loaf of bread. Here we go. I want to see a show of hands. Who prefers the whole-meal bread? Okay let me do this differently. Is anybody preferring the Wonderbread at all? (Laughter) I have two tentative male hands. (Laughter)
Portanto, vou fazer pão para vocês. Ao mesmo tempo, vou falando com vocês, o que me vai complicar a vida, por isso peço a vossa compreensão. Primeiro que tudo, um pouco de participação da audiência. Tenho aqui dois pães. Um é de supermercado: pão branco, pré-embalado, que me dizem chamar-se "Pão Maravilha". (Risos) Desconhecia este termo antes de chegar. E este é mais ou menos, um pão integral, feito à mão, numa padaria pequena. Aqui vamos nós. Quero ver mãos no ar. Quem prefere o pão integral? Ok, vou fazer ao contrário. Alguém prefere o "Pão Maravilha"? (Risos) Tenho duas mãos hesitantes masculinas. (Risos)
Okay, now the question is really, why is this so? And I think it is because we feel that this kind of bread really is about authenticity. It's about a traditional way of living. A way that is perhaps more real, more honest. This is an image from Tuscany, where we feel agriculture is still about beauty. And life is really, too. And this is about good taste, good traditions. Why do we have this image? Why do we feel that this is more true than this? Well I think it has a lot to do with our history. In the 10,000 years since agriculture evolved, most of our ancestors have actually been agriculturalists or they were closely related to food production. And we have this mythical image of how life was in rural areas in the past. Art has helped us to maintain that kind of image. It was a mythical past. Of course, the reality is quite different. These poor farmers working the land by hand or with their animals, had yield levels that are comparable to the poorest farmers today in West Africa. But we have, somehow, in the course of the last few centuries, or even decades, started to cultivate an image of a mythical, rural agricultural past.
Ok, agora a pergunta realmente é: Porquê? E eu penso que seja porque este tipo de pão nos transmite a ideia de autenticidade. Transmite-nos um modo de vida tradicional. Um modo de vida que é possivelmente mais real e mais verdadeiro. Esta é uma imagem da Toscânia, onde sentimos que a agricultura ainda se baseia na beleza. E a vida, na verdade, também. Trata-se de bom gosto, de boas tradições. Porque temos esta imagem? Porque é que sentimos que isto é mais verdadeiro que isto? Bem, eu acho que está relacionado com a nossa história. Há 10 000 anos, com a evolução da agricultura, a maioria dos nossos antepassados eram agricultures ou tinham uma relação muito próxima com a produção alimentar. E nós temos esta imagem mítica de como era a vida nas áreas rurais, no passado. A arte tem-nos ajudado a manter este tipo de imagem. Era um passado mítico. Claro que a realidade é bem diferente. Estes pobres agricultores trabalhavam a terra manualmente ou com a ajuda dos seus animais, tinham níveis de rendimento comparáveis aos dos agricultores mais pobres da África Ocidental de hoje. Mas nós temos, de algum modo, no decurso dos últimos séculos, ou mesmo décadas, começado a cultivar uma imagem de um passado agrícola rural mítico.
It was only 200 years ago that we had the advent of the Industrial Revolution. And while I'm starting to make some bread for you here, it's very important to understand what that revolution did to us. It brought us power. It brought us mechanization, fertilizers. And it actually drove up our yields. And even sort of horrible things, like picking beans by hand, can now be done automatically. All that is a real, great improvement, as we shall see. Of course we also, particularly in the last decade, managed to envelop the world in a dense chain of supermarkets, in a chain of global trade. And it means that you now eat products, which can come from all around the world. That is the reality of our modern life. Now you may prefer this loaf of bread. Excuse my hands but this is how it is.
Foi apenas há 200 anos atrás que tivemos a Revolução Industrial. E, enquanto eu começo a fazer pão aqui, para vocês, é muito importante perceber o que essa revolução nos trouxe. Deu-nos poder. Deu-nos mecanização e fertilizantes. E a verdade é que aumentou os rendimentos. Resolveu também coisas terríveis, tais como apanhar feijões à mão, que pode agora ser feito automaticamente. Tudo isso é realmente uma grande melhoria, tal como veremos. Claro que também, particularmente na última década, conseguimos envolver o mundo numa densa cadeia de supermercados, numa cadeia de comércio internacional. O que significa que vocês agora comem produtos, que podem vir de qualquer parte do mundo. Esta é a realidade da nossa vida moderna. Agora vocês podem preferir este pão. Desculpem as minhas mãos, mas isto é mesmo assim.
But actually the real relevant bread, historically, is this white Wonder loaf. And don't despise the white bread because it really, I think, symbolizes the fact that bread and food have become plentiful and affordable to all. And that is a feat that we are not really conscious of that much. But it has changed the world. This tiny bread that is tasteless in some ways and has a lot of problems has changed the world. So what is happening? Well the best way to look at that is to do a tiny bit of simplistic statistics. With the advent of the Industrial Revolution with modernization of agriculture in the last few decades, since the 1960s, food availability, per head, in this world, has increased by 25 percent. And the world population in the meantime has doubled. That means that we have now more food available than ever before in human history. And that is the result, directly, of being so successful at increasing the scale and volume of our production. And this is true, as you can see, for all countries, including the so-called developing countries.
Mas, na verdade, o pão realmente importante, historicamente, é este pão Maravilha branco. E não menosprezem o pão branco porque, na verdade, eu penso que simboliza o facto de que o pão e a comida se tornaram abundantes e acessíveis a todos. E isto é uma proeza da qual nós não estamos assim tão cientes. Mas que mudou o mundo. Este pequeno pão que é, de certo modo, insípido e que tem tantos problemas mudou o mundo. Então o que se passa? Bem, o melhor modo de analisar a situação é através de estatísticas simplistas. Com a chegada da Revolução Industrial e da modernização da agricultura nas últimas décadas, desde os anos '60, a disponibilidade de alimentos, por cabeça, no mundo, aumentou 25 %. E a população mundial, entretanto, duplicou. O que significa que dispomos agora de mais comida do que em qualquer outro momento na história da humanidade. E este é o resultado direto, de ser tão bem sucedida no aumento da escala e volume da nossa produção. E isto é verdade, como podem ver, para todos os países, incluindo os chamados países em desenvolvimento.
What happened to our bread in the meantime? As food became plentiful here, it also meant that we were able to decrease the number of people working in agriculture to something like, on average, in the high income countries, five percent or less of the population. In the U.S. only one percent of the people are actually farmers. And it frees us all up to do other things -- to sit at TED meetings and not to worry about our food. That is, historically, a really unique situation. Never before has the responsibility to feed the world been in the hands of so few people. And never before have so many people been oblivious of that fact.
O que aconteceu ao nosso pão, entretanto? O facto de a comida se ter tornado abundante, possibilitou a diminuição do número de pessoas que trabalhava na agricultura para algo como, em média, nos países de rendimento elevado, 5 % ou menos, da população. Nos E.U.A., apenas 1 % da população trabalha na agricultura. O que nos dá liberdade para fazermos outras coisas, tais como: — Sentarmo-nos nos TED <i>meetings</i> e não termos que nos preocupar com a nossa comida. Isto é, historicamente, uma oportunidade única. Nunca antes a responsabilidade de alimentar o mundo esteve nas mãos de tão poucas pessoas. E nunca antes tantas pessoas estiveram ignorantes deste facto.
So as food became more plentiful, bread became cheaper. And as it became cheaper, bread manufacturers decided to add in all kinds of things. We added in more sugar. We add in raisins and oil and milk and all kinds of things to make bread, from a simple food into kind of a support for calories. And today, bread now is associated with obesity, which is very strange. It is the basic, most fundamental food that we've had in the last ten thousand years. Wheat is the most important crop -- the first crop we domesticated and the most important crop we still grow today.
Deste modo, como a comida se tornou mais abundante, o pão ficou mais barato. E como ficou mais barato, as padarias decidiram adicionar todo o tipo de ingredientes. Adicionámos mais açúcar. Adicionámos passas, e azeite, e leite e todo o tipo de coisas que fazem com que o pão passe de uma simples comida a uma fonte de calorias. E hoje, o pão é agora associado à obesidade, o que é muito estranho. Trata-se da base fundamental da nossa alimentação que tivemos nos últimos dez mil anos. O trigo é a cultura mais importante, a primeira que cultivámos e a mais importante que cultivamos nos dias de hoje.
But this is now this strange concoction of high calories. And that's not only true in this country, it is true all over the world. Bread has migrated to tropical countries, where the middle classes now eat French rolls and hamburgers and where the commuters find bread much more handy to use than rice or cassava. So bread has become from a main staple, a source of calories associated with obesity and also a source of modernity, of modern life. And the whiter the bread, in many countries, the better it is.
Mas o pão agora é esta estranha mistura rica em calorias. E esta não é a realidade só neste país, é a realidade em todo o mundo. O pão migrou para países tropicais, onde a classe média agora come pães franceses e hambúrgueres e onde os viajantes acham que o uso do pão é muito mais prático do que o arroz ou a mandioca. O pão passou portanto, de um alimento base, a uma fonte de calorias associada a obesidade e também a uma fonte de modernidade, da vida moderna. E em muitos países, quanto mais branco for o pão, melhor é.
So this is the story of bread as we know it now. But of course the price of mass production has been that we moved large-scale. And large-scale has meant destruction of many of our landscapes, destruction of biodiversity -- still a lonely emu here in the Brazilian cerrado soybean fields. The costs have been tremendous -- water pollution, all the things you know about, destruction of our habitats.
Esta é a história do pão. tal como a conhecemos agora. Mas, é claro que o preço da produção em massa tem sido o crescimento em grande escala. E grande escala tem sido sinónimo de destruição das nossas paisagens, destruição da biodiversidade — ainda temos aqui uma emu solitária nos campos de soja do cerrado brasileiro. Os custos têm sido elevados — poluição da água, todas as coisas que vocês já sabem, destruição de <i>habitats</i>.
What we need to do is to go back to understanding what our food is about. And this is where I have to query all of you. How many of you can actually tell wheat apart from other cereals? How many of you actually can make a bread in this way, without starting with a bread machine or just some kind of packaged flavor? Can you actually bake bread? Do you know how much a loaf of bread actually costs? We have become very removed from what our bread really is, which, again, evolutionarily speaking, is very strange. In fact not many of you know that our bread, of course, was not a European invention. It was invented by farmers in Iraq and Syria in particular. The tiny spike on the left to the center is actually the forefather of wheat. This is where it all comes from, and where these farmers who actually, ten thousand years ago, put us on the road of bread.
O que temos que fazer é voltar atrás para conhecer a nossa comida. E é aqui que vou ter que vos perguntar: Quantos de vocês sabe distinguir o trigo de outros cereais? Quantos de vocês sabem fazer pão? Assim, como eu estou a fazer, sem uma máquina de fazer pão ou sem qualquer tipo de farinha instantânea? Sabem fazer pão? Sabem quanto custa um pão? Estamos muito longe de saber o que o nosso pão realmente é, o que, uma vez mais, falando em termos de evolução, é muito estranho. De facto, poucos de vocês sabem que o nosso pão não foi uma invenção europeia. Foi inventado por agricultores no Iraque e na Síria, mais específicamente. A segunda espiga a contar da esquerda é o antepassado do trigo. Esta é a sua origem, e onde os agricultores, há dez mil anos atrás, nos puseram no caminho do pão.
Now it is not surprising that with this massification and large-scale production, there is a counter-movement that emerged -- very much also here in California. The counter-movement says, "Let's go back to this. Let's go back to traditional farming. Let's go back to small-scale, to farmers' markets, small bakeries and all that." Wonderful. Don't we all agree? I certainly agree. I would love to go back to Tuscany to this kind of traditional setting, gastronomy, good food. But this is a fallacy. And the fallacy comes from idealizing a past that we have forgotten about.
Agora, não é de surpreender que, com esta massificação e produção em grande escala, tenha surgido um movimento contra — o que acontece também muito aqui na Califórnia. O movimento contra diz: "Vamos voltar a isto. "Vamos voltar para a agricultura tradicional. "Vamos voltar à pequena escala, aos mercados rurais, "às padarias pequenas e tudo mais." Maravilhoso. Não concordamos todos? Eu concordo, sem dúvida. Adoraria voltar à Toscânia, a este tipo de cenário tradicional, a esta gastronomia, à boa comida. Mas isto é uma falácia. E esta falácia provém da idealização de um passado do qual já nos esquecemos.
If we do this, if we want to stay with traditional small-scale farming we are going, actually, to relegate these poor farmers and their husbands -- among whom I have lived for many years, working without electricity and water, to try to improve their food production -- we relegate them to poverty. What they want are implements to increase their production: something to fertilize the soil, something to protect their crop and to bring it to a market. We cannot just think that small-scale is the solution to the world food problem. It's a luxury solution for us who can afford it, if you want to afford it. In fact we do not want this poor woman to work the land like this. If we say just small-scale production, as is the tendency here, to go back to local food means that a poor man like Hans Rosling cannot even eat oranges anymore because in Scandinavia we don't have oranges. So local food production is out. But also we do not want to relegate to poverty in the rural areas. And we do not want to relegate the urban poor to starvation. So we must find other solutions.
Se fizermos isto, se quisermos ficar com uma agricultura tradicional em pequena escala. vamos acabar por relegar estas pobres agricultoras e seus maridos — entre os quais eu vivi durante muitos anos, a trabalhar sem eletricidade e sem água, para tentar melhorar a sua produção de alimentos — vamos relegá-los à pobreza. O que eles querem são implementos para aumentar a produção: algo para fertilizar o solo, algo que proteja a sua colheita e que a ponha no mercado. Não podemos simplesmente pensar que a pequena escala é a solução para o problema da alimentação mundial. É uma solução de luxo para nós, que podemos pagar por isso, se quiserem dar-se a esse luxo. Na verdade não queremos que esta pobre mulher trabalhe a terra desta maneira. Se falarmos apenas de produção em pequena escala, tal como é a tendência aqui, voltar aos produtos alimentares locais significa que um homem pobre, como o Hans Rosling, não poderá sequer voltar a comer laranjas porque na Escandinávia não temos laranjas. A produção alimentar local está fora de questão. Além do mais, também não queremos relegar à pobreza as áreas rurais. E não queremos relegar os pobres urbanos à fome. Temos. por isso, que encontrar outras soluções.
One of our problems is that world food production needs to increase very rapidly -- doubling by about 2030. The main driver of that is actually meat. And meat consumption in Southeast Asia and China in particular is what drives the prices of cereals. That need for animal protein is going to continue. We can discuss alternatives in another talk, perhaps one day, but this is our driving force. So what can we do? Can we find a solution to produce more? Yes. But we need mechanization. And I'm making a real plea here. I feel so strongly that you cannot ask a small farmer to work the land and bend over to grow a hectare of rice, 150,000 times, just to plant a crop and weed it. You cannot ask people to work under these conditions. We need clever low-key mechanization that avoids the problems of the large-scale mechanization that we've had.
Um dos nossos problemas é o facto da produção alimentar mundial precisar de aumentar muito rapidamente — de duplicar, por volta de 2030. O principal condutor desta situação é, atualmente, a carne. O consumo de carne no sudeste da Ásia e na China, em particular, é o principal determinante do preço dos cereais. Essa necessidade de proteína animal vai continuar. Podemos discutir alternativas noutra conversa, talvez um dia, mas esta é a nossa força motriz. Então o que podemos fazer? Podemos chegar a uma solução para produzir mais? Sim. Mas precisamos de mecanização. E aqui estou mesmo a fazer um apelo. Eu acredito mesmo que não se pode pedir a um pequeno agricultor que trabalhe a terra, e se curve 150 000 vezes, para fazer crescer um hectare de arroz, só para plantar uma colheita e limpar as ervas. Não podem pedir às pessoas que trabalhem nestas condições. Precisamos de uma mecanização moderada, inteligente, que evite os problemas da mecanização em grande escala que temos tido.
So what can we do? We must feed three billion people in cities. We will not do that through small farmers' markets because these people have no small farmers' markets at their disposal. They have low incomes. And they benefit from cheap, affordable, safe and diverse food. That's what we must aim for in the next 20 to 30 years.
Então, o que podemos fazer? Temos que alimentar três mil milhões de pessoas nas cidades. Não vamos conseguir isso só com pequenos mercados rurais porque estas pessoas não possuem pequenos mercados rurais à sua disposição. Estas pessoas recebem salários baixos. Para eles, é mais vantajoso dispor de alimentos baratos, acessíveis, seguros e variados. Este deve ser o nosso objectivo para os próximos 20 ou 30 anos.
But yes there are some solutions. And let me just do one simple conceptual thing: if I plot science as a proxy for control of the production process and scale. What you see is that we've started in the left-hand corner with traditional agriculture, which was sort of small-scale and low-control. We've moved towards large-scale and very high control. What I want us to do is to keep up the science and even get more science in there but go to a kind of regional scale -- not just in terms of the scale of the fields, but in terms of the entire food network. That's where we should move. And the ultimate may be, but it doesn't apply to cereals, that we have entirely closed ecosystems -- the horticultural systems right at the top left-hand corner. So we need to think differently about agriculture science. Agriculture science for most people -- and there are not many farmers among you here -- has this name of being bad, of being about pollution, about large-scale, about the destruction of the environment. That is not necessary. We need more science and not less. And we need good science.
Mas sim, existem soluções. E permitam-me fazer uma simples conceitualização: posicionando a ciência como intermediário no controlo do processo e escala de produção. Tal como podem ver, começámos do canto esquerdo, com uma agricultura tradicional, com caraterísticas de pequena escala e pouco controlo. Avançámos na direção da grande escala e controlo muito elevado. O que eu quero é que nós mantenhamos o contributo da ciência e o alarguemos mas a uma escala regional — não apenas em termos de escala dos terrenos, mas em termos da totalidade da cadeia alimentar. É aqui que temos que chegar. E a melhor forma pode ser, mas que não se aplica aos cereais, fechando os ecossistemas inteiros — os sistemas de horticultura no canto superior esquerdo. Temos que repensar a ciência agrícola. A ciência agrícola, para a maioria das pessoas — e não temos muitos agricultores aqui entre nós — tem má reputação, está interligada com a poluição, com a grande escala, com a destruição do nosso meio ambiente. Isso não é necessário. Precisamos de mais ciência e não de menos. E precisamos de boa ciência.
So what kind of science can we have? Well first of all I think we can do much better on the existing technologies. Use biotechnology where useful, particularly in pest and disease resistance. There are also robots, for example, who can recognize weeds with a resolution of half an inch. We have much cleverer irrigation. We do not need to spill the water if we don't want to. And we need to think very dispassionately about the comparative advantages of small-scale and large-scale. We need to think that land is multi-functional. It has different functions. There are different ways in which we must use it -- for residential, for nature, for agriculture purposes. And we also need to re-examine livestock. Go regional and go to urban food systems. I want to see fish ponds in parking lots and basements. I want to have horticulture and greenhouses on top of residential areas. And I want to use the energy that comes from those greenhouses and from the fermentation of crops to heat our residential areas. There are all kinds of ways we can do it. We cannot solve the world food problem by using biological agriculture. But we can do a lot more.
Então, que tipo de ciência podemos ter? Bem, antes de mais, penso que podemos fazer muito melhor com a tecnologia existente. Usando a biotecnologia onde é útil, especialmente contra pragas e na resistência a doenças. Existem robôs, por exemplo, que reconhecem as ervas daninhas com uma resolução de 1,3 cm. Temos sistemas de irrigação inteligente. Não temos necessidade de desperdiçar água se não quisermos. E temos que pensar muito desinteressadamente em comparar as vantagens entre pequena e grande escala. Temos que pensar que a terra é multi-funcional. Tem funções diferentes. Pode ser usada dos mais diversos modos: para propósitos residenciais, naturais e para a agricultura. Precisamos também de reanalisar os recursos pecuários. Escolham o regional, e escolham sistemas alimentares urbanos. Quero ver lagoas com peixes nos parques de estacionamento e nos armazéns. Quero ter hortas e estufas nas áreas residenciais. E quero usar a energia que provém destas estufas, e da fermentação das colheitas, no aquecimento das nossas areas residenciais. Existem tantos modos de o podermos pôr em prática. Não podemos resolver o problema da alimentação mundial usando agricultura biológica. Mas podemos fazer muito mais.
And the main thing that I would really ask all of you as you go back to your countries, or as you stay here: ask your government for an integrated food policy. Food is as important as energy, as security, as the environment. Everything is linked together. So we can do that. In fact in a densely populated country like the River Delta, where I live in the Netherlands, we have combined these functions. So this is not science fiction. We can combine things even in a social sense of making the rural areas more accessible to people -- to house, for example, the chronically sick. There is all kinds of things we can do.
E o principal pedido que vos faço a todos vós é que, ao voltarem aos vossos países, ou mesmo se ficarem aqui, peçam ao vosso governo uma política alimentar integrada. A comida é tão importante como a energia, como a segurança, e como o ambiente. Tudo está relacionado. Portanto, podemos fazer isto. De facto, num país densamente populado como o delta nos Países Baixos, onde eu vivo, nós combinámos estas funções. Portanto, isto não é ficção científica. Podemos combinar as coisas mesmo no sentido social de tornar as áreas rurais mais acessíveis para as pessoas — para albergar doentes crónicos, por exemplo. Existe todo um conjunto de coisas que podemos fazer.
But there is something you must do. It's not enough for me to say, "Let's get more bold science into agriculture." You must go back and think about your own food chain. Talk to farmers. When was the last time you went to a farm and talked to a farmer? Talk to people in restaurants. Understand where you are in the food chain, where your food comes from. Understand that you are part of this enormous chain of events. And that frees you up to do other things. And above all, to me, food is about respect. It's about understanding, when you eat, that there are also many people who are still in this situation, who are still struggling for their daily food. And the kind of simplistic solutions that we sometimes have, to think that doing everything by hand is going to be the solution, is really not morally justified. We need to help to lift them out of poverty. We need to make them proud of being a farmer because they allow us to survive. Never before, as I said, has the responsibility for food been in the hands of so few. And never before have we had the luxury of taking it for granted because it is now so cheap.
Mas existe algo que vocês têm que fazer. Para mim, não basta dizer: "Temos que introduzir mais ciência na agricultura." Têm que recuar e pensar sobre a vossa própria cadeia alimentar. Falar com os agricultures. Quando foi a última vez que foram a uma quinta e falaram com um agricultor? Falem com as pessoas nos restaurantes. Percebam onde se situam na cadeia alimentar, de onde vem a vossa comida. Percebam que fazem parte desta enorme cadeia de eventos. E isso liberta-vos para fazerem outras coisas. E acima de tudo, para mim, a comida significa respeito. Significa a consciência de que, enquanto vocês comem, existem muitas pessoas que ainda vivem nestas condições, que ainda passam dificuldades para conseguirem o seu alimento diário. E o tipo de soluções simplistas que nós temos, por vezes, como pensar que fazer tudo à mão vai ser a solução, não é de todo moralmente justificado. Temos que ajudar a tirá-los da pobreza. Temos que os tornar orgulhosos de serem agricultores, porque eles permitem a nossa sobrevivência. Nunca antes, tal como disse, a responsabilidade da comida esteve nas mãos de tão poucos. E nunca antes tivemos o luxo de a ter como garantida porque agora é tão barata.
And I think there is nobody else who has expressed better, to me, the idea that food, in the end, in our own tradition, is something holy. It's not about nutrients and calories. It's about sharing. It's about honesty. It's about identity. Who said this so beautifully was Mahatma Gandhi, 75 years ago, when he spoke about bread. He did not speak about rice, in India. He said, "To those who have to go without two meals a day, God can only appear as bread."
E penso que não há ninguém que tenha mostrado melhor, na minha opinião, a ideia de que a comida é, afinal, na nossa própria tradição, algo sagrado. Não se trata de nutrientes e de calorias. Trata-se de partilha. Trata-se de honestidade. Trata-se de identidade. Quem disse isto maravilhosamente foi Mahatma Gandhi, quando há 75 anos atrás nos falou sobre o pão. Não falou do arroz, na Índia. Ele disse: "Para aqueles que têm que viver sem duas refeições ao dia, "Deus pode apenas aparecer sob a forma de pão."
And so as I'm finishing my bread here -- and I've been baking it, and I'll try not to burn my hands. Let me share with those of you here in the first row. Let me share some of the food with you. Take some of my bread. And as you eat it, and as you try it -- please come and stand up. Have some of it. I want you to think that every bite connects you to the past and the future: to these anonymous farmers, that first bred the first wheat varieties; and to the farmers of today, who've been making this. And you don't even know who they are. Every meal you eat contains ingredients from all across the world. Everything makes us so privileged, that we can eat this food, that we don't struggle every day. And that, I think, evolutionarily-speaking is unique. We've never had that before. So enjoy your bread. Eat it, and feel privileged. Thank you very much. (Applause)
E como estou aqui a acabar de fazer o meu pão — e como o estive a fazer, e vou tentar não queimar as mãos. Deixem-me partilhá-lo aqui, convosco, da primeira fila. Deixem-me partilhar parte da comida convosco. Levem um pouco do meu pão. E enquanto o comem, e enquanto o provam — por favor, levantem-se. Comam um pouco. Quero que pensem em como cada pedaço vos liga ao passado e ao futuro: a estes agricultores anónimos, aquele primeiro pão e aquelas primeiras variedades de trigo; e aos agricultores de hoje, que têm feito isto. E vocês nem sequer sabem quem eles são. Cada refeição que vocês comem contém ingredientes provenientes de todo o mundo. Tudo isto nos torna tão privilegiados, por podermos comer esta comida, por não termos que passar por dificuldades todos os dias. E eu penso que isso do ponto de vista da evolução, é algo único. Nunca tivemos isto antes. Portanto, desfrutem do vosso pão. Comam e sintam-se privilegiados. Muito obrigada. (Aplausos)