I want to tell you about a student of mine. A few weeks ago, she was on vacation when at 3am she got a phone call. It was her husband telling her that the city that she was in would be quarantined by 10am. She was in Wuhan, China. The epicenter of the coronavirus outbreak. By 8am she was on the road in a friend's car driving 500 miles to Shanghai Airport. The entire time, she was terrified the authorities would arrest her. She made it out on one of the last flights.
Vou falar-vos de uma aluna minha. Há umas semanas, ela estava de férias quando, às três da manhã, recebeu uma chamada. Era o marido a dizer-lhe que a cidade onde ela estava ia entrar em quarentena às 10 da manhã. Ela estava em Wuhan, na China, o epicentro do surto do novo coronavírus. Às oito da manhã, ela estava na estrada no carro de uma amiga a percorrer 800 km até ao aeroporto de Xangai. Durante todo o caminho, ia apavorada com medo de ser detida. Conseguiu embarcar num dos últimos voos.
So we're all relieved that she's back home, safe in the US. But what if I told you she was in this room? What if I told you she was sitting next to you? There's no vaccine. There won't be a vaccine for at least 12 months. And this virus is mutating, so there's no guarantee that the vaccine that we produce 12 months from now will match the mutated virus. We're always playing catch-up. And this is the scenario we're in every time there's an outbreak. Our quarantines are porous, our medical responses are flat-footed.
Ficámos aliviados por ela ter voltado para casa e estar a salvo nos EUA. Mas e se eu dissesse que ela está aqui? Que ela está sentada ao vosso lado? Não há vacina. Não teremos nenhuma vacina durante, pelo menos, 12 meses. E este vírus está a sofrer mutações, por isso não há garantia de que a vacina que produzirmos daqui a 12 meses corresponda ao vírus alterado. Estamos a brincar à apanhada. Este é o cenário em que nos encontramos, sempre que há um surto. As nossas quarentenas são porosas, as nossas respostas médicas são desajeitadas,
The fundamental problem that we face in controlling these outbreaks is that viruses and other infections do two things really well: they mutate and they transmit. Our medical tools do neither of these two things. Our medical tools don't mutate or transmit. We have a fundamental mismatch between our tools, which are static, and the infections, which are dynamic. This mismatch is why we're always flat-footed. This mismatch is why we're playing catch-up. And this mismatch is universal. It's the reason that we have antibiotic-resistant infections that killed 40,000 Americans last year, and it's the reason that the flu vaccine couldn't prevent the flu from killing 60,000 Americans last year. So how do we resolve this fundamental mismatch?
O principal problema que enfrentamos para controlar estes surtos é que os vírus e outras infeções fazem duas coisas muito bem feitas: sofrem mutações e propagam-se. As nossas ferramentas médicas não fazem nenhuma dessas coisas. As nossas ferramentas médicas não sofrem mutações nem se propagam. Temos uma incompatibilidade fundamental entre as nossas ferramentas, que são estáticas, e as infeções, que são dinâmicas. Essa incompatibilidade é a razão de nunca estarmos preparados. É o motivo de estarmos um passo atrás. E essa incompatibilidade é universal. É a razão de termos infeções resistentes a antibióticos, que mataram mais de 40 000 americanos no ano passado e é a razão por que a vacina contra a gripe não impediu que a gripe matasse, no ano passado, mais de 60 000 americanos. Então como resolvemos esta incompatibilidade?
I've devoted my career to studying and solving this problem. For 100 years, we've used chemicals as drugs to treat infections. Chemicals will never mutate or transmit. Similarly, our vaccines are not designed to mutate or transmit. 20 years ago, I had a radical idea to use the viruses themselves as therapies -- as building blocks for therapies. To build therapies that could mutate and transmit. Let me share with you how we've had a major breakthrough, and we're already testing these new therapies.
Eu tenho dedicado a minha carreira a estudar e resolver este problema. Durante 100 anos, temos usado produtos químicos como remédios para tratar infeções. Os produtos químicos nunca sofrerão mutações nem se propagarão. As nossas vacinas também não passam por mutações nem se propagam. Há 20 anos, eu tive uma ideia radical para usar os vírus como terapias, — como blocos de construção para terapias — para criar terapias que pudessem sofrer mutações e propagar-se. Vou contar-vos como fizemos um grande progresso, e já estamos a testar essas novas terapias.
HIV is the most devastating pandemic of our era. 75 million infected; 33 million dead. Most of us think that HIV is a solved problem. We have truly amazing antiviral drugs: they're safe and effective, and we've spent 15 years and billions of dollars deploying these drugs around the world. So let's look at the numbers.
O VIH é a pandemia mais devastadora da nossa era. São 75 milhões infetados; 33 milhões de mortos. Muitos de nós acreditam que o VIH é um problema resolvido. Temos antivirais realmente incríveis: são seguros e eficazes. Passámos 15 anos e gastámos milhões de dólares a distribuir esses remédios por todo o mundo. Então, vamos olhar para os números.
In 2019, 1.7 million people acquired HIV. This number only hit home for me last year when I visited this rural village outside of Durban, South Africa. I was driving along this dirt road with my 10-year-old daughter in the back seat, and walking next to us on the side of the road were girls, the same age as my daughter, barefoot. My daughter asked about why these girls are barefoot and I had to explain disparity to her, which was hard. But what really shocked me was when my colleagues, the local African scientists explained to me that these young girls the same age as my daughter --
Em 2019, houve 1,7 milhões de pessoas que contraíram o VIH. Esse número só me impressionou no ano passado, quando visitei uma aldeia rural, nos arredores de Durban, na África do Sul. Eu ia a conduzir ao longo duma estrada poeirenta, com a minha filha de 10 anos no banco de trás, e ao nosso lado na estrada, havia miúdas a caminhar, com a mesma idade da minha filha, descalças. A minha filha perguntou-me porque é que elas estavam descalças e eu tive de lhe explicar a razão, o que não foi nada fácil. Mas o que realmente me chocou, foi quando os meus colegas, os cientistas africanos locais, me explicaram que essas raparigas da mesma idade da minha filha
(Breathes)
sorry -- had an 80 percent chance of acquiring HIV in their lifetime. It blew me away. How can these girls have an 80 percent risk if we have safe and effective drugs?
— desculpem — tinham 80% de hipóteses de contrair VIH durante a sua vida. Isso surpreendeu-me. Como é que elas podiam correr um risco de 80%, se nós temos medicamentos seguros e eficazes?
The reason is the fundamental mismatch. It creates barriers to controlling infectious disease, particularly in resource-limited settings. The first barrier is mutation: viruses mutate, our drugs don't. The second barrier: adherence. It's really hard to get these drugs to those who need the most. I can't even adhere to a week-long antibiotic regimen in this country. We're asking those in resource-limited settings who face enormous adversity to adhere to lifelong regimens.
A razão é a incompatibilidade fundamental. Isso cria uma barreira para controlar doenças infecciosas, principalmente em ambientes com recursos limitados. A primeira barreira é a mutação: os vírus sofrem mutações, os nossos medicamentos não. A segunda barreira é a adesão. É muito difícil chegar àqueles que mais precisam. Eu nem consigo aderir a um regime de antibióticos de uma semana neste país. Nós estamos a pedir àqueles com recursos limitados, que enfrentam uma enorme adversidade, para aderirem a regimes vitalícios.
And the third barrier is deployment, or access. It's super hard to get these drugs to those who need them most. Not these girls but those who engage in high-risk activities, such as commercial sex work and injection drug use. In the epidemiological parlance, these groups are called "super-spreaders." And in the 1900s, a small subset of super-spreaders drove HIV along the Trans-Africa Highway and spread the virus through the continent like this. These groups are exceptionally hard to identify, they're small, they face enormous social stigma so they don't self-identify and they're the ones we need to get to the most. All of these barriers combined created the situation we have today, where greater than 15 percent of people in Southern Africa live with HIV.
A terceira barreira é a distribuição, ou seja, o acesso. É muito difícil fazer chegar esses medicamentos aos que mais precisam. Não àquelas miúdas, mas às pessoas que se dedicam a atividades de alto risco, como o trabalho sexual e o consumo de drogas injetáveis. Na linguagem epidemiológica, chamamos a esses grupos os "super-propagadores". Na década de 1900, Um pequeno grupo de "super-propagadores" levou o VIH ao longo das autoestradas transafricanas e assim propagou o vírus por todo o continente. Esses grupos são muito difíceis de identificar, são pequenos, são objeto de um enorme estigma social, e por isso não se identificam. São eles que mais precisamos de atingir. Todas as barreiras combinadas, criaram a situação em que nos encontramos hoje, onde mais de 15% da população da África do Sul vive com VIH.
Now, conventional wisdom is: what we need to do is get more drugs to more people more effectively. I'd argue we need to solve the fundamental mismatch; we need to eliminate these barriers. If we can build therapies that mutate and transmit, we can overcome drug resistance, overcome adherence barriers, and if we do it properly, we will convert the super-spreaders from the greatest barrier to the most powerful deployment strategy that we can imagine.
A sabedoria convencional é: o que precisamos de conseguir mais medicamentos mais eficazes para mais pessoas. Eu diria que precisamos de resolver a incompatibilidade fundamental: precisamos de eliminar essas barreiras. Se conseguirmos criar terapias que sofram mutações e se propaguem, podemos superar a resistência aos medicamentos, superar as barreiras de adesão, e se pudermos fazer isso adequadamente, converteremos os super-propagadores da maior barreira para a estratégia de distribuição mais poderosa que podemos imaginar.
This is a radical concept. It has huge potential payoff, but there's a catch. And it's serious. Before we deploy a therapy that may transmit, even if it's only in a limited population of already infected individuals, before we do this, we need to be exceptionally careful, and we need to test safety in the most rigorous ways possible. The reason I'm here today is because for the first time 20 years, we got it to work, and this is the first time I'm sharing it publicly.
Este é um conceito radical. Tem um grande potencial de recompensa, mas há um problema. E é muito profundo. Antes de distribuirmos uma terapia que possa vir a propagar-se, mesmo que seja apenas numa população limitada de indivíduos já infetados, antes de fazermos isso, precisamos de ser excecionalmente cuidadosos. Precisamos de testar com muito cuidado, da maneira mais rigorosa possível. A razão por que eu estou aqui hoje é porque, pela primeira vez em 20 anos, conseguimos que isto funcione. E é a primeira vez que estou a comunicar isto em público.
(Applause and cheers)
(Aplausos)
Last two times I did this I cried, so --
As duas últimas vezes que fiz isto, chorei.
(Laughter)
(Risos)
So in order to help you understand this breakthrough, let me take you back 20 years to 1999. I was a graduate student in Berkeley, California, studying the biophysics of HIV. For such a complex epidemic, the simplicity of this virus fascinated me. HIV, like all viruses, is just an instruction set -- malware. It hijacks a cell and converts that cell into a factory to do one thing: single-mindedly churn out more virus. All the normal functions of the cell get wiped away. HIV infects the white blood cell that keeps us healthy. This cell has already been hijacked and converted into a factory. And if we magnify, we can see the anatomy of the virus. Those squiggly red lines in the middle? That's HIV's instruction set. Its genetic material.
Então, para vos ajudar a entender essa descoberta, vou recuar 20 anos, a 1999. Eu era estudante universitário em Berkeley, na Califórnia, a estudar a biofísica do VIH. Para uma epidemia tão complexa, fiquei fascinado com a simplicidade deste vírus. O VIH, assim como todos os vírus, é um conjunto de instruções um "software" maléfico. Sequestra uma célula e transforma-a numa fábrica para fazer uma coisa: produzir mais vírus, teimosamente. Todas as funções normais da célula desaparecem. O VIH infeta os glóbulos brancos que nos mantêm saudáveis. Esta célula já foi sequestrada e transformada numa fábrica. Se a ampliarmos, podemos ver a anatomia do vírus. Estas linhas vermelhas onduladas no meio? São o conjunto de instruções do VIH. O seu material genético.
This genetic material directs the hijacking process, converting that cell into a factory first to make more copies of the instruction set, and then all the other components of the virus and assemble them into a particle. This is how the virus replicates. Each of these particles can go in and hijack a new cell. This is how the virus transmits. And every time a cell is hijacked, little mistakes are made in copying the genetic material. That's how the virus mutates. This ability to replicate, transmit and mutate is something that our current drugs cannot do.
Este material genético dirige o processo do sequestro, transformando primeiro a célula numa fábrica para fazer mais cópias do conjunto de instruções e depois todos os outros componentes do vírus e montá-los numa partícula. É assim que o vírus se multiplica. Cada uma dessas partículas pode sequestrar uma célula nova. É assim que o vírus se propaga. E sempre que uma célula é sequestrada, ocorrem pequenos erros ao copiar os materiais genéticos. É assim que o vírus sofre mutações. Esta capacidade de se multiplicar, de se propagar e de sofrer mutações é uma coisa que os nossos medicamentos atuais não fazem.
So, being young and naïve and a little bit ignorant, I thought: why can't we create therapies that mutate and transmit and replicate? Here was the idea. If we can take the virus and engineer it to amputate the genetic material in blue here, this amputated instruction set can no longer hijack a cell. But this amputated instruction set can do something very special. In an already infected cell, this amputated instruction set can hijack the hijacker. It can commandeer HIV's machinery to make more copies of itself, the amputated instruction set, and then each of these copies can steal all of HIV's other components so that the cell gets converted from a factory that produces virus to a factory that produces therapy. Hijackers. These carry no disease. This dramatically lowers HIV levels and keeps the cell healthier.
Então, como era jovem e ingénuo, e um pouco ignorante. eu pensei: porque é que não podemos criar terapias mutantes, que se propaguem e se multipliquem? A ideia era esta. Se pudermos pegar no vírus e modificá-lo para amputar o material genético aqui a azul, esse conjunto de instruções amputado deixa de poder sequestrar a célula. Mas esse conjunto de instruções amputado pode fazer uma coisa especial. Numa célula já infetada, esse conjunto de instruções amputado pode sequestrar o sequestrador. Pode obrigar o maquinismo do VIH a fazer mais cópias de si mesmo, o conjunto de instruções amputado, e assim cada uma dessas cópias pode roubar todos os outros componentes do VIH, para as células deixarem de ser uma fábrica que produz vírus e passem a ser uma fábrica que produz a terapia. Sequestradores. Estes não transmitem doenças. Isto abaixa enormemente os níveis do VIH, mantendo as células saudáveis.
This idea consumed me for months. It was the most intense intellectual experience of my life. On every bike ride to lab, on every walk to the coffee shop, on every run in the hills above campus, the ideas, the arguments, the counterarguments, they all came so rapidly in my head, in my inner monologue, that I was physically out of breath. I thought if we can create a therapy that replicates, it would only need to be taken once. It could mutate along with the virus and possibly it could transmit between infected individuals to treat them. It was a therapy that could do all of the things that the virus could do. It solved the fundamental mismatch.
Esta ideia consumiu-me durante meses. Foi a experiência intelectual mais intensa da minha vida. Nas minhas viagens de bicicleta para o laboratório, nas minhas caminhadas até ao café, nas minhas corridas pelas colinas acima do campus, as ideias, os argumentos, os contra-argumentos, apareciam tão rapidamente na minha cabeça, no meu monólogo interior que eu ficava fisicamente sem fôlego. Pensei que, se de facto pudéssemos criar uma terapia que se multiplicasse, só precisaria de ser aplicada uma vez. Poderia sofrer mutações juntamente com o vírus, e possivelmente poderia propagar-se entre os indivíduos infetados, para os tratar. Era uma terapia que poderia fazer todas as coisas que o vírus pode fazer. Isso resolvia a incompatibilidade fundamental.
The most radical part of this concept was that the super-spreaders would also be converted from transmitting the virus to now transmitting the therapy. It was a therapy that would go viral along with the virus. This scared some people. But there's already a precedent: we already inadvertently use therapies that transmit. The vaccine that eradicated polio in the US, the oral polio vaccine, transmits between people. It's not well-known, but the fact that this vaccine transmits is part of the reason that it was chosen for the worldwide eradication effort despite its safety issues.
A parte mais radical deste conceito, era que os super-propagadores também seriam transformados: em vez de propagarem o vírus passavam a propagar a terapia. Era uma terapia que se tornaria viral juntamente com o vírus. Isso assustou algumas pessoas. Mas já existe um precedente: nós já, involuntariamente, usamos terapias que se propagam. A vacina que erradicou a poliomielite nos EUA, a vacina oral contra a poliomielite, propaga-se entre as pessoas. Não é um facto muito conhecido, mas o facto de essa vacina se propagar faz parte da razão por que foi escolhida para a tentativa de erradicação mundial, apesar dos seus problemas de segurança.
So the bigger problem was that these hijacker therapies didn't exist. My Berkeley advisors said to me, "Lovely idea, so sad it will never work," or, "Regulators will never allow it, drop it." But the idea wouldn't drop me.
Então, o maior problema era que essas terapias sequestradoras não existiam. Os meus conselheiros da Berkeley disseram-me: "Uma ideia adorável, é pena que nunca vá funcionar", ou "Os reguladores nunca irão permitir isso, abandona-a." Mas a ideia não me abandonou.
If it ever worked, it would solve the fundamental mismatch. So we tried for years to build it. We tried every trick in the book and failed over and over again. We -- every time we thought we had a good idea, we'd spend months, sometimes years working on it only to come up empty. We once spent five years building 150,000 versions of a hijacker therapy. Every single one failed. I once asked a really bright student what he hoped to learn from me during his PhD --
Se aquilo funcionasse, resolveria a incompatibilidade fundamental. Então, tentámos criá-la durante anos. Experimentámos todas as formas possíveis e falhámos vezes sem conta. Sempre que pensávamos ter tido uma boa ideia, passávamos meses, às vezes anos a trabalhar nela, para acabar sem nada. Uma vez passámos cinco anos a construir 150 000 versões de uma terapia de sequestrador. Todas elas falharam. Uma vez, perguntei a um aluno muito inteligente o que é que ele esperava aprender comigo durante o seu doutoramento.
(Laughter)
(Risos)
And he replied, "How to keep going, how to continue moving forward despite zero evidence that there's anything there."
E ele respondeu: "Como continuar, "como seguir em frente "mesmo com zero evidências de que há ali alguma coisa."
(Laughter)
(Risos)
I wonder if he was trying to tell me something.
Fiquei a pensar se ele estava a tentar dizer-me alguma coisa.
(Laughter)
(Risos)
By 2018, things looked bad. There was no evidence that a hijacker therapy could be engineered. In fact, we had evidence that it might be impossible. It was time to face the hard truth. This solution that I'd wanted so badly, this hijacker therapy just didn't exist. For 20 years, I had been chasing a ghost.
Em 2018, as coisas pareciam correr mal. Não havia nenhum indício de ser possível uma terapia de sequestrador. Na verdade, tínhamos indícios de que isso podia ser impossível. Era altura de encarar a difícil verdade. Essa solução que tanto queríamos, essa terapia de sequestrador não existia. Durante 20 anos, eu tinha andado a perseguir um fantasma.
Then one day, Elizabeth, a postdoc in my lab, came to me with this picture. It doesn't look like much. My wife thinks it looks like a pregnancy test.
Até que um dia, Elizabeth, uma pós-doutorado, no meu laboratório, veio mostrar-me esta foto. Não tinha um grande aspeto. A minha mulher acha que se parece com um teste de gravidez.
(Laughter)
(Risos)
But this little band down here -- that was the amputated genetic material that we had been looking for for 20 years. The entire time that we had been trying to build it and failing, it had evolved by itself in a flask in the back of the lab.
Mas esta pequena banda aqui era o material genético amputado de que andávamos à procura há 20 anos. Todo o tempo que tínhamos tentado construí-lo e tínhamos falhado, ele evoluíra por si mesmo num frasco na traseira do laboratório.
(Audience) What?
(Audiência) O quê?
(Laughter)
(Risos)
We finally had a foothold. And we used this to build the first hijacker. But we had no evidence that what we built was a therapy.
Finalmente tínhamos uma base. E usámos isto para criar o primeiro sequestrador. Não havia nenhum indício de que o que tínhamos construído era uma terapia.
The first hurdle that any therapy has to clear is testing in a mouse. It can be risky. In our case, if our mice died, so did our funding, and with it, any hopes of this becoming a therapy, let alone a transformative one. After so many failures, we were all pretty skeptical but we didn't really have an alternative. We had to give it a shot; we had to try.
O primeiro obstáculo que qualquer terapia tem de vencer é o teste num rato. Pode ser arriscado. No nosso caso, se o rato morresse, poderíamos perder o financiamento e, com isso, a esperança de criar uma terapia, e muito menos uma terapia transformadora. Depois de tantos fracassos, estávamos todos céticos, mas não tínhamos muitas alternativas. Tínhamos de arriscar; tínhamos de tentar.
Amazingly, the hijacker therapy worked in a mouse, and it worked exactly as we'd predicted 20 years before. It protected the cells in a mouse from HIV. Here are the cells under a microscope. First, HIV in red infects those cells, and then the hijacker, in blue, can be activated, protects those cells and transmits to other cells. We'd finally built the hijacker after 20 years. Everyone in the lab was elated. For me, this was proof of concept. If we could do it for one virus we could do it for others.
Surpreendentemente, a terapia do sequestrador funcionou num rato, e funcionou exatamente como tínhamos previsto 20 anos antes. Protegeu as células do rato contra o VIH. Estas são as células vistas ao microscópio. Primeiro, o VIH a vermelho infeta as células, e depois o sequestrador, a azul, pode ser ativado, protege essas células e propaga-se para outras. Finalmente criámos um sequestrador ao fim de 20 anos. Todos no laboratório estavam eufóricos. Para mim, foi uma prova do conceito. Se podíamos fazer isso com um vírus, era possível com outros.
To understand how this hijacker might impact HIV levels worldwide, we ran computer simulations. Epidemiological models. And the results were pretty amazing. If we do nothing in the hardest-hit parts of Africa, HIV prevalence will stay between 25 and 30 percent. If we manage to introduce drugs to three-quarters of the population or if we ever get the long-sought-after vaccine, we would reduce those numbers down to 20 percent. But those are best-case scenarios. If HIV evolves resistance or if people change their behaviors, these numbers could go right back up to 30 percent or even beyond. The blue is the hijacker therapy. And we've not found a way, either theoretically or experimentally, that HIV can evolve resistance to the hijacker.
Para entender como esse sequestrador pode ter impacto nos níveis do VIH no mundo inteiro, fizemos simulações em computador. Modelos epidemiológicos. E os resultados foram incríveis. Se não fizermos nada nas áreas mais atingidas de África, a prevalência do VIH vai manter-se entre 25 e 30%. Se conseguirmos introduzir os medicamentos em três quartos da população, ou se um dia encontrarmos a tão procurada vacina, reduziríamos esses números a 20%. Mas estes são os melhores cenários. Se o VIH desenvolver resistência ou se as pessoas mudarem os seus comportamentos, esses números poderão voltar aos 30% ou até mais do que isso. O azul é a terapia do sequestrador. E não encontrámos uma forma, teórica ou experimental, de que o VIH pode desenvolver resistência ao sequestrador.
The reason this hijacker works so well is the super-spreaders. If the hijacker is introduced in one place over here, the super-spreaders can pick it up and transmit it through the population. Imagine if 10 years from now, HIV is no longer a pandemic.
Esse sequestrador funciona muito bem por conta dos super-sequestradores. Se o sequestrador for introduzido num local aqui, o super-propagador pode apanhá-lo e propagar-se para a população. Imaginem se daqui a 10 anos, o VIH já não for uma pandemia.
To get there, we have to start large-scale clinical trials in five years, which means initial human tests next year. The FDA has cleared us to start testing in HIV-positive patients who have a terminal cancer and have less than a year left to live. Volunteering for this trial is their last incredibly generous gift to the world. They're called the "Last Gift cohort." And to test in these altruistic patients next year, we have to finish our preclinical tests this year ... and I think we will.
Para lá chegar, temos de começar testes clínicos de grande escala, dentro de cinco anos, o que significa testes em seres humanos já no próximo ano. A FDA autorizou-nos a iniciar testes em doentes VIH positivo que tenham um cancro terminal e tenham um prognóstico de menos de um ano de vida. Oferecer-se como voluntários para esses testes é o último ato generoso desses doentes para com o mundo. Chamam-lhes "A coorte do último presente". Para testar nesses pacientes altruístas no próximo ano, precisamos de finalizar os testes pré-clínicos este ano e acho que conseguiremos.
I still meet colleagues who push back and are stridently opposed to letting us move forward with testing. They say, "What if something goes wrong? You can't unrelease it." They say, "There are ethical issues; people can't consent." Well, oral polio vaccine faced similar ethical and safety concerns. In fact, oral polio vaccine faced such an effective misinformation campaign that most people still don't know that it transmits, that it successfully eradicated polio in many countries or that this vaccine is the basis for new vaccines. When we presented this hijacker therapy idea in Africa last year, the African scientists had a different response. They said, "How can you not test this?" They said it's unethical to not test it. So even though we might fail, I think the stakes are too high not to try. If we do nothing, those girls outside of Durban will acquire HIV, and the next time that there's a new virus that emerges, we'll be in the same vulnerable position that we are today with quarantines that are porous and vaccines that we need to wait months for that may not match.
Eu ainda encontro colegas que resistem e se opõem a deixar-nos avançar com os testes. Dizem: "E se alguma coisa correr mal? "Vocês não podem desfazer isso." Dizem: "Há problemas éticos; "as pessoas não podem consentir." A vacina oral da poliomielite enfrentou preocupações semelhantes sobre ética e segurança. A vacina oral da poliomielite enfrentou uma campanha de desinformação tão eficaz que muitas pessoas ainda não sabem que se propaga, que erradicou a poliomielite com êxito em muitos países ou que essa vacina é a base para novas vacinas. Quando apresentámos a ideia da terapia de sequestrador em África no ano passado, os cientistas africanos tiveram uma reação diferente. Disseram: "Como é que não podem testar isso?" Disseram que seria antiético não a testar. Então, mesmo que possamos vir a falhar, está muita coisa em jogo para deixar de tentar. Se não fizermos nada, aquelas miúdas nos arredores de Durban vão contrair o VIH e a próxima vez que surgir um novo vírus, estaremos tão vulneráveis como estamos hoje, com quarentenas porosas e vacinas em que é preciso esperar meses e que talvez não sejam compatíveis.
I think it's time for a new approach that's different than the static approaches of the last century. It's time for a new technology that is less reactive and more proactive. I think it's time for treatments that don't just benefit the most affluent among us but also those who face the greatest adversity. I think it's time for a new type of weapon that matches, or that solves the fundamental mismatch. I think it's time for therapies that can go viral.
Acho que é altura de uma nova abordagem, uma abordagem diferente do século passado. É altura de uma tecnologia que seja menos reativa e mais proativa. Acho que é altura para tratamentos que não beneficiem apenas os que são mais ricos, mas também quem enfrenta grandes dificuldades. Acho que é altura de um novo tipo de arma que seja compatível, ou que resolva a incompatibilidade fundamental. Acho que é altura para as terapias se tornarem virais.
Thank you very much.
Muito obrigado.
(Applause)
(Aplausos)