[This talk contains graphic images] My parents always wanted me to be a doctor. But a doctor that studies how vultures eat dead things is probably not the type of doctor my parents had in mind.
[Esta palestra contém imagens explícitas] Meus pais sempre quiseram que eu fosse médica. Mas uma médica que estuda como os urubus comem coisas mortas não é provavelmente o tipo de médica que eles tinham em mente.
(Laughter)
(Risos)
I study vulture scavenging behavior and how vultures affect crime scenes. I'm here to talk to you about how we take vultures for granted in forensic science. Before we do that, I want to tell you a story. So we're going to take a trip, all 1,000 of us. It's May 2014 and we're standing in a park in Nashville, Tennessee, because we've been at a horse race. As we wait for the porta potty, we see two ladies in their Sunday best: heels, pearls and lovely, floppy derby hats. At any moment, we expect them to start talking about their grandma's fine china. But they don't. Instead, we hear them say, "Oh, look. Something must be dead." We look up and to the left and see vultures circling round and round. It occurred to me at this very moment that if these ladies at the derby are aware of vulture's connection to death, then why aren't we talking more about these birds at crime scenes?
Estudo o comportamento necrófago dos urubus e como eles afetam as cenas de crimes. Estou aqui para falar sobre como não valorizamos os urubus na ciência forense. Mas antes, quero lhes contar uma história. Então, vamos fazer uma viagem, todos nós aqui. É maio de 2014, e estamos em um parque em Nashville, Tennessee, porque fomos a uma corrida de cavalos. Enquanto esperamos na fila do banheiro, vemos duas senhoras em seus melhores trajes: saltos, pérolas e lindos chapéus enfeitados. A qualquer momento, esperamos que elas comecem a falar sobre a porcelana fina de suas avós. Mas elas não falam. Em vez disso, nós as ouvimos dizer: "Olhem. Deve haver algo morto". Olhamos para cima e, à esquerda, vemos urubus voando em círculos. Ocorreu-me, naquele exato momento, que, se essas senhoras, na corrida, têm consciência da ligação dos urubus com a morte, por que não falamos mais vezes sobre essas aves em cenas de crimes?
People know that vultures are connected to death. But they don't really understand how. For example, here's an email I received from a detective in Louisiana: "Lauren, there's been a kidnapping. What buzzards or vultures do we have in Louisiana?" Before we address the kidnapping, I'll first address this buzzard/vulture question I get all the time. Buzzards don't live in the United States. They are hawks that live in Europe. The big black birds you see circling in the sky within the US are vultures. The two types of vultures that live in Louisiana are the turkey vulture and black vulture. To fully understand the role of vultures in forensic science, I'll walk you through this forensic case.
As pessoas sabem que os urubus estão ligados à morte, mas não entendem realmente como. Por exemplo, aqui está um e-mail que recebi de um investigador da Luisiana: "Lauren, houve um sequestro. Quais espécies de urubus e abutres temos na Luisiana?" Antes de abordarmos o sequestro, vou abordar primeiro essa pergunta sobre urubus/abutres que recebo o tempo todo. Os abutres não vivem nos Estados Unidos; eles são falcões que vivem na Europa. As grandes aves negras que vemos voando em círculos nos EUA são urubus. Os dois tipos de urubus que vivem na Luisiana são o urubu-de-cabeça-vermelha e o urubu-de-cabeça-preta. Para entenderem bem o papel dos urubus na ciência forense, guiarei vocês por esse caso forense.
From the email, certain things become apparent. We can assume the detective thinks the individual is dead. And he wants to use the birds to try to find the body. Like the ladies in Nashville, the detective thinks that vultures circling in the sky will lead him to the body. It's not that simple. I don't know if you've ever seen a vulture up close or spent much time with them, but they're huge, huge. Six-foot wingspan. Vultures circle in the air because they are too big to flap their wings and fly, so they soar. They soar in thermals, which are vortexes or little tornadoes caused by pressure differences in the air that form throughout the day as the sun heats up the ground. Therefore, when you see a circling vulture, the bird is usually traveling from point A to B, rather than circling above something dead.
A partir do e-mail, certas coisas tornam-se evidentes. Podemos assumir que o investigador acha que o indivíduo está morto e quer usar as aves para tentar achar o corpo. Tal como as senhoras de Nashville, o investigador acha que os urubus em círculos no céu o levarão ao corpo. Mas não é tão simples assim. Não sei se já viram um urubu de perto, ou passaram muito tempo com eles, mas eles são enormes: têm uma envergadura de quase dois metros. Os urubus voam em círculos, porque são muito grandes para baterem as asas e voarem; por isso, planam. Planam em térmicas, que são vórtices ou pequenos tornados causados por diferenças de pressão no ar e que se formam durante o dia quando o Sol aquece o solo. Portanto, quando vemos um urubu voando em círculos, ele geralmente está viajando do ponto A ao B, e não voando em círculos sobre algo morto.
Actually, if you want to use a vulture to try to find a body, look for a vulture in a tree or on a fence post. Vultures are too big and slow to hunt. So they have to scavenge. In fact, vultures are the only animals in the world that depend upon death as a food source. The turkey vulture that you see here is super cool, because it's one of the few bird species that can actually smell. It hones in on the deceased by sensing a chemical that's coming off the body during decay. The evolutionary role of the vulture is to rid the earth of harmful toxins produced following death. Once death has been detected, the turkey vulture lands and quickly scavenges. Vultures usually remove the eyes first, then tear the skin, start pulling the tissues, and leave you with a skeleton. Therefore, the importance of vultures is not in the air, but on the ground.
Na verdade, se quiserem usar um urubu para tentar encontrar um corpo, procurem-no em uma árvore ou cerca. Os urubus são muito grandes e lentos para caçar. Então, têm que se alimentar de coisas mortas. De fato, os urubus são os únicos animais do mundo que dependem da morte como fonte de alimento. O urubu-de-cabeça-vermelha que vemos aqui é muito interessante, porque é uma das poucas espécies de aves que tem olfato. Usa-o nas coisas mortas cheirando uma substância química exalada pelo corpo durante a decomposição. O papel evolutivo do urubu é livrar o solo de toxinas prejudiciais produzidas após a morte. Uma vez que a morte é detectada, o urubu-de-cabeça-vermelha pousa e rapidamente procura alimento. Os urubus geralmente retiram primeiro os olhos, depois rasgam a pele, começam a arrancar os tecidos e só deixam um esqueleto. Portanto, a importância dos urubus não está no ar, mas no solo.
Vulture scavenging is somewhat gruesome. If you're ever on a bad first date, just reference this talk, and I don't think you'll have to worry about your potential suitor giving you another call.
A ação dos urubus é um tanto repulsiva. Se você estiver alguma vez num primeiro encontro romântico ruim, mencione esta palestra, e não terá que se preocupar com seu possível pretendente ligando para você de novo.
(Laughter)
(Risos)
Although gruesome, vultures are key forensic players, and here's why. Vultures will consume a dead human just like they will consume roadkill. But you don't ever hear about that, and it's because vultures are so good at what they do. If vultures depend on death for survival and if they scavenge humans, then how can vultures be absent from forensic textbooks and training manuals? The answer: the tradition has been for researchers to exclude animal scavengers from decomposition studies by placing a cage over the decaying subject matter. Why? Because researchers were afraid an animal would run away with their subject matter and they wouldn't have any data to report -- consequently excluding animals' results in a lengthy skeletonization process, and this information is currently what detectives use during investigations.
Apesar de repulsivos, os urubus são peças chaves na ciência forense, e eis o motivo: os urubus consomem um cadáver humano e também animais mortos nas estradas. Mas nunca ouvimos falar sobre isso porque os urubus são muito bons no que fazem. Se os urubus dependem da morte para sobreviver e se alimentam de seres humanos, como podem estar ausentes dos manuais de treinamento e dos livros de ciência forense? A resposta: é uma tradição os pesquisadores excluírem os animais necrófagos dos estudos de decomposição colocando uma gaiola sobre o material em decomposição. Por quê? Porque os pesquisadores tinham receio de que um animal fugisse com o material e os deixassem sem dados para o relatório, excluindo assim os resultados de animais em um longo processo de esqueletização, mas essa é a informação usada atualmente nas investigações.
A lot of times at a crime scene when people see a skeletonized body, they think, "Wow, this has been here for a really long time undiscovered." Oh, no, no, no, no. Vultures accelerate decay. And the skeletonized body could have been there for as little as five days if scavenged by vultures. The failure to account for vulture scavenging can result in forensic scientists inaccurately estimating how long someone has been dead and then searching through the wrong missing person's files. Therefore, the goal is to get forensic scientists to focus on vulture evidence and to get law enforcement to consider vulture scavenging and a possible recent death when skeletal remains are found.
Muitas vezes, na cena do crime, ao verem um esqueleto, as pessoas pensam: "Uau, isso está aqui há muito tempo sem ser descoberto". Isso não é verdade. Os urubus aceleram a decomposição, e o esqueleto poderia estar lá por apenas cinco dias se fosse devorado por urubus. A falta de esclarecimento quanto à presença de urubus pode levar cientistas forenses a fazerem uma estimativa imprecisa sobre há quanto tempo alguém está morto, e, assim, pesquisar nos arquivos incorretos de pessoas desaparecidas. O objetivo é que cientistas forenses se concentrem nas evidências dos urubus, e que haja cumprimento da lei para considerar a ação dos urubus e a possibilidade de uma morte recente quando os ossos são encontrados.
Let's get back to the importance of the kidnapping case. I responded to the detectives and told them that vultures like areas with water. They like areas with white-tailed deer, they typically arrive within the first five days following death, they're going to leave an intact spinal column and feathers. The detectives write back and say, "We found the body buried in a shallow grave. We also found the feathers you mentioned." But there appeared to be a problem because the feathers were located 40 yards from where the body was found. The feathers were next to a bloody pine cone. Vultures aren't attracted to blood, and they typically don't wander. They might wander 40 feet, but they're not going to wander 40 yards. That would be a waste of energy for a bird that doesn't know when it will get its next meal. So my first job here was to determine if vultures were at the scene. Indeed, the feather by the pine cone was consistent with the turkey vulture. So why in the world would a vulture wander 40 yards?
Voltemos à importância do caso do sequestro. Respondi aos investigadores que urubus gostam de áreas com água e com veados-de-cauda-branca. Geralmente, chegam nos primeiros cinco dias após a morte, deixam a coluna espinhal intacta e algumas penas. Os investigadores escrevem de volta: "Encontramos o corpo queimado em uma cova rasa. Também encontramos as penas que você mencionou". Mas parecia haver um problema, porque as penas estavam a 37 metros de onde o corpo foi encontrado, ao lado de uma pinha ensanguentada. Os urubus não são atraídos por sangue e geralmente não perambulam. Podem se mover por 12 metros, mas não irão cruzar 37 metros. Seria um desperdício de energia para uma ave que não sabe quando conseguirá sua próxima refeição. Minha primeira tarefa aqui foi determinar se os urubus estiveram no local. De fato, a pena ao lado da pinha era compatível com a do urubu-de-cabeça-vermelha. Então, por que um urubu perambularia por 37 metros?
One of the reasons I love vultures is because they tend to operate in a manner that can be explained by biology and physics. I started mentally going through the numerous bating experiments I had conducted at a body farm in Texas. A body farm is a place where you can donate your body to science. I also went through my experiences with trapping and GPS tagging vultures. And then the year-long process of monitoring vultures via remote GPS technology. Next, I brought up my field notes and had an "Aha!" moment. I knew of two things that would lure a vulture 40 yards from a body. Guts and brain matter. I presented this information to the detectives and learned that they suspected the victim had been incapacitated by blunt force trauma to the head. The blow to the head was thought to have occurred in the area where the pine cone was found, and then the victim was drug 40 yards and buried in a shallow grave. This suggested that brain matter was the lure for the vulture and illustrates how studying vulture behavior can help piece together some of the evidence.
Uma das razões pelas quais adoro urubus é que eles tendem a agir de um modo que pode ser explicado pela biologia e pela física. Comecei a passar mentalmente pelos inúmeros experimentos que conduzi em uma fazenda de corpos no Texas. Uma fazenda de corpos é um lugar em que se pode doar o corpo à ciência. Também passei por minhas experiências com a captura e a identificação de urubus por GPS, e o processo de monitorar urubus por um ano com tecnologia de GPS remota. Em seguida, iniciei minhas anotações de campo e tive um momento "aha". Eu sabia de 2 coisas que atrairiam um urubu 37 m de distância de um corpo: as tripas e o cérebro. Apresentei essa informação aos investigadores e descobri que eles suspeitavam que a vítima tinha sido abatida com uma forte pancada na cabeça. Acreditava-se que a pancada tinha ocorrido na área onde a pinha foi encontrada, e depois a vítima foi arrastada por 37 metros e enterrada em uma cova rasa. Isso sugeria que o cérebro era a isca para os urubus e exemplifica como o estudo do comportamento deles pode ajudar a reunir algumas das evidências.
The detectives also sent me this photo. The victim's arm is sticking up out of the grave. As a forensic scientist, you have to think about the whole picture. The feather by the pine cone indicated that vultures were at the scene. This crime scene photo also depicts characteristic vulture scavenging behavior. We zoom in, we see a white down feather, which is characteristic of the turkey vulture. Also note that the skin has a cut-like tear near the wrist. The turkey vulture smells the decay, lands. It can get through the pine needles, pull out the hand, it's going to tear the skin with its beak and then start pulling the soft tissues away from the bone. Just tear and pull, tear and pull, tear and pull.
Os investigadores também me enviaram esta foto. O braço da vítima está para fora da cova. Como cientista forense, deve-se considerar a situação como um todo. A pena ao lado da pinha indicava que os urubus estiveram no local. A foto da cena do crime também retrata o comportamento necrófago característico dos urubus. Ampliamos e vemos uma pena branca, característica do urubu-de-cabeça-vermelha. Notem também que a pele tem um rasgo perto do pulso. O urubu-de-cabeça-vermelha sente o cheiro da decomposição e pousa. Ele se livra das agulhas do pinheiro, puxa a mão para fora, rasga a pele com o bico e depois começa a arrancar os tecidos moles do osso. É só rasgar e arrancar, rasgar e arrancar.
This photo illustrates the scavenging efficiency of vultures. This is important because it helps support the time line the detectives are putting together for the murder. There's not a whole lot of evidence. You're not likely going to see the vultures at the crime scene. Instead, vultures just leave these very subtle clues. Rather than looking for the vulture, look for the feathers and pristine bones. Vultures are important because they are so good and fast at what they do. They're like tornadoes. If you blink, you will miss them.
Essa foto ilustra a eficiência da ação dos urubus. É importante porque ajuda a apoiar a linha do tempo que os investigadores estão criando para o assassinato. Não há muita evidência. Provavelmente, não veremos os urubus na cena do crime. Em vez disso, eles deixam apenas essas pistas muito sutis. Em vez de procurar os urubus, procuremos as penas e os ossos em perfeitas condições. Os urubus são importantes porque são muito bons e rápidos no que fazem. São como tornados. Se piscarmos, iremos perdê-los.
I provided my opinion about the vulture evidence to the detective. And he presented the vulture evidence in court. The kidnapping case was a death penalty case. And the defendant was found guilty. This case illustrates how studying vulture behavior helps innovate forensic science. Someone who has been murdered deserves the most thorough investigation possible. When we include vultures in forensic studies, we paint a more thorough picture of what happened, when it happened and who it happened to. So, the next time you're at a crime scene with a dead body --
Dei minha opinião ao investigador sobre a evidência dos urubus, e ele a apresentou no tribunal. O sequestro que mencionei foi um caso de pena de morte. O réu foi considerado culpado. Esse caso mostra como o estudo do comportamento dos urubus ajuda a inovar a ciência forense. Alguém que foi assassinado merece a investigação mais completa possível. Ao incluir os urubus nos estudos forenses, pintamos um quadro mais completo do que aconteceu, quando aconteceu e com quem aconteceu. Então, da próxima vez que estiver na cena do crime com um cadáver...
(Laughter)
(Risos)
look to the ground to find the clues vultures have left. And if anyone ever brings up vultures on a date, you'll know they're a keeper.
olhe para o chão para encontrar as pistas que os urubus deixaram. E, se alguém mencionar urubus num encontro romântico, você saberá que é a pessoa certa.
Thank you.
(Risos)
(Applause)
Obrigada.