Let me tell you about rock snot. Since 1992, Dr. Max Bothwell, a Government of Canada scientist, has been studying a type of algae that grows on rocks. Now, the very unscientific term for that algae is rock snot, because as you can imagine, it looks a lot like snot. But scientists also call it Didymosphenia geminata and for decades, this algae has been sliming up riverbeds around the world. The problem with this algae is that it is a threat to salmon, to trout and the river ecosystems it invades.
Vou falar sobre o muco da pedra. Desde 1992, que o Dr. Max Bothwell, um cientista do governo do Canadá, tem estudado um tipo de algas que crescem nas rochas. O termo não científico para essa alga é muco da pedra, porque, como podem imaginar, parece-se muito com muco. Mas os cientistas também lhe chamam Didymosphenia geminata e, durante décadas, essa alga tem infestado leitos de rios em todo o mundo. O problema com estas algas é que são uma ameaça ao salmão, à truta e aos ecossistemas fluviais que elas invadem.
Now, it turns out Canada's Dr. Bothwell is actually a world expert in the field, so it was no surprise in 2014 when a reporter contacted Dr. Bothwell for a story on the algae. The problem was, Dr. Bothwell wasn't allowed to speak to the reporter, because the government of the day wouldn't let him. 110 pages of emails and 16 government communication experts stood in Dr. Bothwell's way. Why couldn't Dr. Bothwell speak? Well, we'll never know for sure, but Dr. Bothwell's research did suggest that climate change may have been responsible for the aggressive algae blooms.
Acontece que o Dr. Bothwell, do Canadá é um especialista mundial nesta área, portanto, não foi surpresa, em 2014, que um repórter contactou o Dr. Bothwell para uma reportagem sobre as algas. O problema foi que o Dr. Bothwell foi impedido de falar com o repórter porque o governo da época não o autorizou. Cento e dez páginas de "e-mails" e 16 especialistas em comunicação do governo intrometeram-se no caminho do Dr. Bothwell. Porque é que o Dr. Bothwell não pôde falar? Nunca saberemos com certeza, mas a investigação do Dr. Bothwell sugeriu que a mudança climática pode ter sido responsável pela proliferação agressiva das algas.
But who the heck would want to stifle climate change information, right? Yes, you can laugh. It's a joke, because it is laughable.
Mas quem gostaria de abafar informações sobre a alteração climática? (Risos) Sim, vocês podem rir. É uma piada, porque dá para rir.
We know that climate change is suppressed for all sorts of reasons. I saw it firsthand when I was a university professor. We see it when countries pull out of international climate agreements like the Kyoto Protocol and the Paris Accord, and we see it when industry fails to meet its emissions reduction targets.
Sabemos que a alteração climática é abafada por diversos motivos. Vi isso em primeira mão, quando eu era professora universitária. Vemos isso quando os países abandonam os acordos internacionais sobre o clima, como o Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris, e vemos isso quando a indústria não cumpre as suas metas de redução de emissões.
But it's not just climate change information that's being stifled. So many other scientific issues are obscured by alternate facts, fake news and other forms of suppression. We've seen it in the United Kingdom, we've seen it in Russia, we've seen it in the United States and, until 2015, right here in Canada. In our modern technological age, when our very survival depends on discovery, innovation and science, it is critical, absolutely critical, that our scientists are free to undertake their work, free to collaborate with other scientists, free to speak to the media and free to speak to the public. Because after all, science is humanity's best effort at uncovering the truth about our world, about our very existence. Every new fact that is uncovered adds to the growing body of our collective knowledge. Scientists must be free to explore unconventional or controversial topics. They must be free to challenge the thinking of the day and they must be free to present uncomfortable or inconvenient truths, because that's how scientists push boundaries and pushing boundaries is, after all, what science is all about.
Mas não são apenas as informações sobre a mudança climática que estão a ser abafadas. Muitas outras questões científicas são obscurecidas por factos alternativos, notícias falsas e outras formas de supressão. Vimos isso no Reino Unido, vimos isso na Rússia, vimos isso no Estados Unidos da América e, até 2015, aqui mesmo no Canadá. Na nossa era tecnológica moderna, quando a nossa sobrevivência depende da descoberta da inovação e da ciência é crucial, absolutamente crucial, que os nossos cientistas sejam livres para realizar os seus trabalhos, livres para colaborar com outros cientistas, livres para falar com os "media" e livres para falar com o público. Porque, afinal de contas, a ciência é o melhor esforço da humanidade para descobrir a verdade sobre o nosso mundo, sobre a nossa própria existência. Cada novo facto que é descoberto contribui para o crescente corpo do nosso conhecimento coletivo. Os cientistas têm que ser livres para explorar tópicos não convencionais ou controversos. Têm que ser livres para desafiar o pensamento do dia e têm que ser livres para apresentar verdades desconfortáveis ou inconvenientes, porque é assim que os cientistas superam os limites e, afinal de contas, a ciência trata de superar os limites.
And here's another point: scientists must be free to fail, because even a failed hypothesis teaches us something. And the best way I can explain that is through one of my own adventures. But first I've got to take you back in time.
E ainda há outra questão: os cientistas têm que ser livres para falhar, pois até mesmo uma hipótese fracassada tem algo a nos ensinar. A melhor maneira para explicar isso é através de uma das minhas aventuras. Mas, primeiro, tenho que vos fazer recuar no tempo.
It's the early 1900s and Claire and Vera are roommates in southern Ontario. One evening during the height of the Spanish flu pandemic, the two attend a lecture together. The end of the evening, they head for home and for bed. In the morning, Claire calls up to Vera and says she's going out to breakfast. When she returns a short while later, Vera wasn't up. She pulls back the covers and makes the gruesome discovery. Vera was dead. When it comes to Spanish flu, those stories are common, of lightning speed deaths.
Estamos no início do século XX. Claire e Vera são companheiras de quarto no sul de Ontário. Uma noite, durante o auge da pandemia de gripe espanhola, ambas assistem juntas a uma aula. No final da noite, voltam para casa e vão dormir. De manhã, Claire liga para Vera e diz que vai sair para tomar o pequeno almoço. Pouco tempo depois, quando regressa, Vera ainda não estava a pé. Claire puxa as cobertas e descobre uma coisa horrível. Vera estava morta. Quando se fala da gripe espanhola, estas histórias de mortes à velocidade da luz são vulgares.
Well, I was a professor in my mid-20s when I first heard those shocking facts and the scientist in me wanted to know why and how. My curiosity would lead me to a frozen land and to lead an expedition to uncover the cause of the 1918 Spanish flu. I wanted to test our current drugs against one of history's deadliest diseases. I hoped we could make a flu vaccine that would be effective against the virus and mutation of it, should it ever return. And so I led a team, a research team, of 17 men from Canada, Norway, the United Kingdom and the United States to the Svalbard Islands in the Arctic Ocean. These islands are between Norway and the North Pole. We exhumed six bodies who had died of Spanish flu and were buried in the permafrost and we hoped the frozen ground would preserve the body and the virus.
Eu era professora com vinte e poucos anos quando ouvi esses factos chocantes pela primeira vez e a cientista em mim queria saber porquê e como. A minha curiosidade levar-me-ia a uma terra congelada e a chefiar uma expedição para descobrir a causa da gripe espanhola de 1918. Eu queria testar as nossas drogas atuais numa das doenças mais mortais da história. Esperava que pudéssemos fazer uma vacina para a gripe que fosse eficaz contra o vírus e as suas mutações, caso voltasse em qualquer momento. Assim, chefiei uma equipa de investigação, de 17 homens do Canadá, da Noruega, do Reino Unido e dos Estados Unidos da América, nas Ilhas Svalbard no Oceano Ártico. Estas ilhas estão entre a Noruega e o Polo Norte. Exumámos seis corpos que tinham morrido de gripe espanhola e tinham sido enterrados no "permafrost" e esperávamos que o solo congelado tivesse preservado o corpo e o vírus.
Now, I know what you are all waiting for, that big scientific payoff. But my science story doesn't have that spectacular Hollywood ending. Most don't. Truth is, we didn't find the virus, but we did develop new techniques to safely exhume bodies that might contain virus. We did develop new techniques to safely remove tissue that might contain virus. And we developed new safety protocols to protect our research team and the nearby community. We made important contributions to science even though the contributions we made were not the ones originally intended. In science, attempts fail, results prove inconclusive and theories don't pan out. In science, research builds upon the work and knowledge of others, or by seeing further, by standing on the shoulders of giants, to paraphrase Newton. The point is, scientists must be free to choose what they want to explore, what they are passionate about and they must be free to report their findings.
Eu sei que todos vocês estão à espera daquela grande recompensa científica. Mas a minha história de ciência não tem aquele espetacular final à Hollywood. A maior parte delas não tem. A verdade é que não encontrámos o vírus, mas desenvolvemos novas técnicas para exumar com segurança corpos que podem conter vírus. Desenvolvemos novas técnicas para remover com segurança tecidos que possam conter vírus. E criámos novos protocolos de segurança para proteger a nossa equipa de pesquisa e a comunidade vizinha. Fizemos contribuições notáveis para a ciência apesar de as contribuições que fizemos não fossem as que pretendíamos inicialmente. Na ciência, as tentativas fracassam, os resultados mostram-se inconclusivos e as teorias não se concretizam. Na ciência, a investigação baseia-se no trabalho e no conhecimento dos outros, ou em ver mais longe, empoleirados nos "ombros de gigantes", para parafrasear Newton. A questão é que os cientistas têm que ser livres para escolher o que querem explorar, aquilo por que querem apaixonar-se e têm que ser livres para apresentar as suas descobertas.
You heard me say that respect for science started to improve in Canada in 2015. How did we get here? What lessons might we have to share? Well, it actually goes back to my time as a professor. I watched while agencies, governments and industries around the world suppressed information on climate change. It infuriated me. It kept me up at night. How could politicians twist scientific fact for partisan gain? So I did what anyone appalled by politics would do: I ran for office, and I won.
Vocês ouviram eu dizer que o respeito pela ciência começou a melhorar no Canadá em 2015. Como chegámos aqui? Quais as lições que devemos partilhar? Bem, na verdade, isso remonta ao meu tempo como professora. Eu observei instituições, governos e indústrias em todo o mundo ocultarem informações sobre a alteração climática. Isso enfurecia-me. Isso mantinha-me acordada â noite. Como é que os políticos podiam distorcer um facto científico para ganhos partidários? Então eu fiz o que qualquer um, chocado com a política, faria: Candidatei-me âs eleições e ganhei.
(Applause)
(Aplausos)
I thought I would use my new platform to talk about the importance of science. It quickly became a fight for the freedom of science. After all, I was a scientist, I came from the world under attack, and I had personally felt the outrage. I could be a voice for those who were being silenced. But I quickly learned that scientists were nervous, even afraid to talk to me.
Pensei que ia usar a minha nova plataforma para falar sobre a importância da ciência. Rapidamente se tornou uma luta pela liberdade da ciência. Afinal, eu era uma cientista, que vinha de um mundo sob ataque, e tinha sentido pessoalmente a indignação. Eu podia ser uma voz para aqueles que estavam a ser silenciados. Mas depressa me apercebi que os cientistas se sentiam nervosos, até com medo de falar comigo.
One government scientist, a friend of mine, we'll call him McPherson, was concerned about the impact government policies were having on his research and the state of science deteriorating in Canada. He was so concerned, he wrote to me from his wife's email account because he was afraid a phone call could be traced. He wanted me to phone his wife's cell phone so that call couldn't be traced. I only wish I were kidding. It quickly brought what was happening in Canada into sharp focus for me. How could my friend of 20 years be that afraid to talk to me? So I did what I could at the time. I listened and I shared what I learned with my friend in Parliament, a man who was interested in all things environment, science, technology, innovation. And then the 2015 election rolled around and our party won. And we formed government. And that friend of mine is now the Prime Minister of Canada, Justin Trudeau.
Um cientista do governo, um amigo meu — vamos chamar-lhe McPherson — estava preocupado com o impacto que as políticas governamentais estavam a ter na sua investigação e com o estado da ciência que estava a deteriorar-se no Canadá. Ele estava tão preocupado, que me escreveu do "e-mail" da sua mulher porque estava com medo que um telefonema pudesse ser detetado. Ele queria que eu telefonasse para o telemóvel da sua mulher para que a chamada não pudesse ser detetada. Eu gostaria de estar a brincar. Isso depressa me fez compreender o que estava a acontecer no Canadá. Como é que o meu amigo de há 20 anos podia estar com tanto medo de falar comigo? Então, fiz o que podia, naquela época. Escutei e partilhei o que aprendia com um amigo meu no Parlamento, um homem que estava interessado nessas coisas todas, meio ambiente, ciência, tecnologia, inovação. Depois, chegaram as eleições de 2015 e o nosso partido ganhou. Formámos o governo. E esse amigo meu é agora o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.
(Applause)
(Aplausos)
And he asked if I would serve as his Minister of Science. Together, with the rest of the government, we are working hard to restore science to its rightful place. I will never forget that day in December 2015 when I proudly stood in Parliament and proclaimed, "The war on science is now over."
E perguntou-me se eu queria ser ministra da Ciência. Juntos, com o resto do governo, estamos a trabalhar bastante para repor a ciência no seu devido lugar. Jamais esquecerei aquele dia em dezembro de 2015 quando orgulhosamente entrei no Parlamento e proclamei: "Acabou a guerra contra a ciência."
(Applause)
(Aplausos)
And I have worked hard to back up those words with actions. We've had many successes. There's still more work to do, because we're building this culture shift. But we want our government scientists to talk to the media, talk to the public. It'll take time, but we are committed. After all, Canada is seen as a beacon for science internationally. And we want to send a message that you do not mess with something so fundamental, so precious, as science.
Tenho trabalhado muito para apoiar essas palavras com ações. Tivemos muitos sucessos. Ainda há mais trabalho a fazer, porque estamos a fazer esta mudança cultural. Mas queremos que os cientistas do governo falem com os "media", falem com o público. Levará tempo, mas estamos empenhados nisso. Afinal, o Canadá é visto, a nível internacional, como uma referência para a ciência. Queremos enviar a mensagem de que ninguém se intrometa numa coisa tão fundamental, tão precioso, como a ciência.
So, for Dr. Bothwell, for Claire and Vera, for McPherson and all those other voices, if you see that science is being stifled, suppressed or attacked, speak up. If you see that scientists are being silenced, speak up. We must hold our leaders to account. Whether that is by exercising our right to vote, whether it is by penning an op-ed in a newspaper or by starting a conversation on social media, it is our collective voice that will ensure the freedom of science. And after all, science is for everyone, and it will lead to a better, brighter, bolder future for us all.
Pelo Dr. Bothwell, pela Claire e pela Vera, por McPherson e por todas aquelas outras vozes, se vocês virem que a ciência está a ser sufocada, abafada ou atacada, denunciem-no. Se vocês virem que os cientistas estão a ser silenciados, denunciem-no. Temos que exigir que os nossos líderes prestem contas. Seja exercendo o nosso direito de voto, seja escrevendo um editorial num jornal ou iniciando uma conversa nas redes sociais, é a nossa voz coletiva que garantirá a liberdade da ciência. Afinal de contas, a ciência é para todos, e ela levará a um futuro melhor, mais brilhante e mais ousado para todos.
Thank you.
Obrigada.
(Applause)
(Aplausos)