Space, we all know what it looks like. We've been surrounded by images of space our whole lives, from the speculative images of science fiction to the inspirational visions of artists to the increasingly beautiful pictures made possible by complex technologies. But whilst we have an overwhelmingly vivid visual understanding of space, we have no sense of what space sounds like.
O Espaço, todos nós sabemos como ele é. Crescemos rodeados por imagens do espaço durante toda a nossa vida, desde imagens especulativas de ficção científica passando pelas visões inspiradas de artistas, até às cada vez mais belas imagens tornadas possíveis pelas tecnologias complexas. Mas enquanto temos uma compreensão visual extraordinariamente vívida do espaço, não temos qualquer noção de como o espaço soa.
And indeed, most people associate space with silence. But the story of how we came to understand the universe is just as much a story of listening as it is by looking. And yet despite this, hardly any of us have ever heard space. How many of you here could describe the sound of a single planet or star? Well in case you've ever wondered, this is what the Sun sounds like.
Na verdade, a maior parte das pessoas associa o espaço ao silêncio Mas a história de como conseguimos desvendar o universo tem tanto a ver com a história de como o ouvimos como com forma de como o olhamos. No entanto, apesar disso, quase nenhum de nós já ouviu o espaço. Quantos de vocês aqui conseguem descrever o som de um único planeta ou estrela? Se já se interrogaram alguma vez sobre isso é assim que o Sol soa.
(Static) (Crackling) (Static) (Crackling)
[Estão a ouvir o Sol] [Quando há uma explosão solar na superfície do Sol [é acompanhada por uma irrupção de energia projetada no espaço.] [O som são as ondas de radio provenientes do Sol] [Vão ouvir um rápido aumento no ruído de fundo [E depois uma diminuição gradual até voltar ao original]
This is the planet Jupiter.
[Estão a ouvir o planeta Júpiter]
(Soft crackling)
[Ouvimos uma tempestade de radio provocada pela interação
[entre Júpiter e a sua lua Io.] [Pequenas explosões de radiações soam como o rebentar de pipocas [ou como um punhado de seixos atirados para um telhado de zinco.]
And this is the space probe Cassini pirouetting through the ice rings of Saturn.
Esta é a sonda espacial Cassini às piruetas entre os anéis gelados de Saturno.
(Crackling)
[A sonda Cassini, da NASA, passou entre os anéis de Saturno, em 2004] [Ouvimos o som das partículas de gelo dos anéis [quando elas batem na antena do recetor de ondas de rádio e plasma da Cassini.] [Têm o som duma tempestade de granizo,]
This is a a highly condensed clump of neutral matter, spinning in the distant universe.
[Estão a ouvir o som de um pulsar] Isto é um grupo altamente condensado de matéria neutral. a girar no universo distante.
(Tapping)
[Um pulsar é uma pequena estrela de neutrões [altamente condensados.] [Tem uma quantidade enorme de energia e gira sobre o seu eixo muito rapidamente.] [Ouve-se cada rotação como um clique ou uma pancada.] [Cada pulsar gira a uma rotação diferente] [O pulsar B329+54 gira 1,4 vezes por segundo,]
So my artistic practice is all about listening to the weird and wonderful noises emitted by the magnificent celestial objects that make up our universe. And you may wonder, how do we know what these sounds are? How can we tell the difference between the sound of the Sun and the sound of a pulsar? Well the answer is the science of radio astronomy. Radio astronomers study radio waves from space using sensitive antennas and receivers, which give them precise information about what an astronomical object is and where it is in our night sky. And just like the signals that we send and receive here on Earth, we can convert these transmissions into sound using simple analog techniques. And therefore, it's through listening that we've come to uncover some of the universe's most important secrets -- its scale, what it's made of and even how old it is.
A minha prática artística consiste em ouvir todos os sons esquisitos e fantásticos emitidos pelos magníficos objetos celestiais que fazem parte do nosso universo. Podem perguntar: "Como é que sabemos que sons são estes?" "Como é que conseguimos saber a diferença "entre o som do Sol e o som de um pulsar?" A resposta é a ciência da radioastronomia. Os radioastrónomos estudam as ondas de rádio do espaço utilizando antenas e recetores sensíveis que lhes fornecem informação precisa sobre o que é um objeto astronómico e a posição dele no nosso céu noturno. Tal como os sinais que enviamos e recebemos aqui na Terra, conseguimos converter estas transmissões em som. utilizando técnicas analógicas simples. E assim, é a ouvir que conseguimos descobrir alguns dos segredos mais importantes do universo — o seu tamanho, de que é feito e até que idade tem.
So today, I'm going to tell you a short story of the history of the universe through listening. It's punctuated by three quick anecdotes, which show how accidental encounters with strange noises gave us some of the most important information we have about space. Now this story doesn't start with vast telescopes or futuristic spacecraft, but a rather more humble technology -- and in fact, the very medium which gave us the telecommunications revolution that we're all part of today: the telephone.
Vou contar uma pequena história sobre a história do universo através da escuta. É marcada por três rápidos episódios que nos mostram como é que os encontros acidentais com ruídos estranhos nos deram algumas das mais importantes informações que temos sobre o espaço. Esta história não começa com grandes telescópios ou naves espaciais futuristas, mas sim com uma tecnologia mais humilde, com o mesmo meio que proporcionou a revolução das telecomunicações da qual todos fazemos parte hoje em dia: o telefone.
It's 1876, it's in Boston, and this is Alexander Graham Bell who was working with Thomas Watson on the invention of the telephone. A key part of their technical set up was a half-mile long length of wire, which was thrown across the rooftops of several houses in Boston. The line carried the telephone signals that would later make Bell a household name. But like any long length of charged wire, it also inadvertently became an antenna. Thomas Watson spent hours listening to the strange crackles and hisses and chirps and whistles that his accidental antenna detected. Now you have to remember, this is 10 years before Heinrich Hertz proved the existence of radio waves -- 15 years before Nikola Tesla's four-tuned circuit -- nearly 20 years before Marconi's first broadcast. So Thomas Watson wasn't listening to us. We didn't have the technology to transmit.
Estamos em 1876, em Boston, e este é Alexander Graham Bell que estava a trabalhar com Thomas Watson na invenção do telefone. Uma peça fundamental da sua estrutura técnica era um arame com 800 metros de comprimento esticado pelos telhados de várias casas de Boston. A linha transmitia os sinais telefónicos que mais tarde tornariam Bell num nome familiar. Mas como todos os fios condutores tornou-se inadvertidamente numa antena. Thomas Watson passou horas a ouvir estranhos estalidos e silvos, trinados e assobios que a sua antena acidental detetava. Lembrem-se que isto passou-se 10 anos antes de Heinrich Hertz provar a existência das ondas de rádio. Quinze anos antes dos quatro circuitos sintonizados de Nikola Tesla e quase 20 anos antes da primeira emissão de Marconi. Por isso, Thomas Watson não nos estava a ouvir. Nós não tínhamos a tecnologia para transmitir.
So what were these strange noises? Watson was in fact listening to very low-frequency radio emissions caused by nature. Some of the crackles and pops were lightning, but the eerie whistles and curiously melodious chirps had a rather more exotic origin. Using the very first telephone, Watson was in fact dialed into the heavens. As he correctly guessed, some of these sounds were caused by activity on the surface of the Sun. It was a solar wind interacting with our ionosphere that he was listening to -- a phenomena which we can see at the extreme northern and southern latitudes of our planet as the aurora. So whilst inventing the technology that would usher in the telecommunications revolution, Watson had discovered that the star at the center of our solar system emitted powerful radio waves. He had accidentally been the first person to tune in to them.
Então que sons estranhos eram aqueles? O que Watson ouvia, de facto, eram emissões de rádio de baixa frequência causadas pela natureza. Alguns estalidos e estrondos eram trovoada, mas os assobios misteriosos e os melodiosos e extraordinários trinados tinham uma origem muito mais exótica. Ao usar o primeiro telefone do mundo, Watson tinha, de facto, feito uma chamada para os céus. Como ele corretamente supôs, alguns daqueles sons eram causados pela atividade na superfície do Sol. Era o vento solar a interagir com a nossa ionosfera que ele estava a ouvir. Um fenómeno que nós podemos observar nas latitudes extremas do norte e sul do nosso planeta a que chamamos aurora. Ou seja, enquanto inventava a tecnologia que levaria à revolução das telecomunicações Watson descobriu que a estrela do centro do nosso sistema solar emitia ondas de rádio poderosas. Acidentalmente, ele foi a primeira pessoa a sintonizá-las.
Fast-forward 50 years, and Bell and Watson's technology has completely transformed global communications. But going from slinging some wire across rooftops in Boston to laying thousands and thousands of miles of cable on the Atlantic Ocean seabed is no easy matter. And so before long, Bell were looking to new technologies to optimize their revolution. Radio could carry sound without wires. But the medium is lossy -- it's subject to a lot of noise and interference. So Bell employed an engineer to study those noises, to try and find out where they came from, with a view towards building the perfect hardware codec, which would get rid of them so they could think about using radio for the purposes of telephony.
Cinquenta anos mais tarde a tecnologia de Bell e Watson tinha transformado completamente as comunicações globais. Mas passar do simples esticar de um arame pelos telhados de Boston até à instalação de milhares e milhares de quilómetros de cabos no fundo do Oceano Atlântico não foi tarefa fácil. Por isso, a Bell continuou a procurar novas tecnologias para otimizar a sua revolução. As ondas de rádio podiam transmitir sons sem fios. Mas esse meio tinha falhas, estava sujeito a muito ruído e interferências. Por isso, a Bell contratou um engenheiro para estudar aqueles sons, e tentar descobrir de onde é que eles vinham, para depois construir o equipamento perfeito para se ver livre deles, para depois poder pensar no rádio com a finalidade de telefonia.
Most of the noises that the engineer, Karl Jansky, investigated were fairly prosaic in origin. They turned out to be lightning or sources of electrical power. But there was one persistent noise that Jansky couldn't identify, and it seemed to appear in his radio headset four minutes earlier each day. Now any astronomer will tell you, this is the telltale sign of something that doesn't originate from Earth. Jansky had made a historic discovery, that celestial objects could emit radio waves as well as light waves. Fifty years on from Watson's accidental encounter with the Sun, Jansky's careful listening ushered in a new age of space exploration: the radio astronomy age. Over the next few years, astronomers connected up their antennas to loudspeakers and learned about our radio sky, about Jupiter and the Sun, by listening.
A maior parte dos sons que o engenheiro, Karl Jansky, investigou tinham uma origem muito vulgar. Revelaram-se como sendo relâmpagos ou fontes de energia elétrica. Mas havia um ruído persistente que Jansky não conseguia identificar e que parecia soar nos seus auscultadores quatro minutos mais cedo a cada dia que passava. Qualquer astrónomo vos dirá que isto é um sinal indicador de qualquer coisa que não tem origem na Terra. Jansky acabou por fazer uma descoberta histórica, que os corpos celestiais transmitem ondas de rádio bem como ondas de luz. Cinquenta anos depois do encontro acidental de Watson com o Sol, a escuta atenta de Jansky abriu caminho a uma nova era da exploração espacial: a era da radioastronomia. Nos anos que se seguiram, os astrónomos ligaram as suas antenas a altifalantes e estudaram as emissões de rádio dos céus, estudaram Júpiter e o Sol a escutá-los.
Let's jump ahead again. It's 1964, and we're back at Bell Labs. And once again, two scientists have got a problem with noise. Arno Penzias and Robert Wilson were using the horn antenna at Bell's Holmdel laboratory to study the Milky Way with extraordinary precision. They were really listening to the galaxy in high fidelity. There was a glitch in their soundtrack. A mysterious persistent noise was disrupting their research. It was in the microwave range, and it appeared to be coming from all directions simultaneously. Now this didn't make any sense, and like any reasonable engineer or scientist, they assumed that the problem must be the technology itself, it must be the dish. There were pigeons roosting in the dish. And so perhaps once they cleaned up the pigeon droppings, get the disk kind of operational again, normal operations would resume.
Vamos avançar de novo. Estamos em 1964 e voltamos ao laboratório da Bell. Uma vez mais, há dois cientistas com um problema com o ruído. Arno Penzias e Robert Wilson estavam a usar uma antena tipo corneta no laboratório Bell em Holmdel, para estudar a Via Láctea com uma precisão extraordinária. O que estavam a ouvir, na realidade, era a galáxia em alta-fidelidade. Mas havia uma falha na sua banda sonora. Um ruído misterioso e persistente estava a atrapalhar as suas pesquisas. Situava-se no espetro das micro-ondas e a emissão parecia vir simultaneamente de todas as direções. Isso não fazia sentido. Como qualquer engenheiro ou cientista razoável eles assumiram que o problema devia ser da própria tecnologia devia ser do disco. Havia pombos a arrulhar no prato. Por isso, se eles limpassem os excrementos dos pombos talvez o disco ficasse de novo operacional e assim conseguiriam terminar os trabalhos normalmente.
But the noise didn't disappear. The mysterious noise that Penzias and Wilson were listening to turned out to be the oldest and most significant sound that anyone had ever heard. It was cosmic radiation left over from the very birth of the universe. This was the first experimental evidence that the Big Bang existed and the universe was born at a precise moment some 14.7 billion years ago. So our story ends at the beginning -- the beginning of all things, the Big Bang. This is the noise that Penzias and Wilson heard -- the oldest sound that you're ever going to hear, the cosmic microwave background radiation left over from the Big Bang.
Mas o ruído não desapareceu. O ruído misterioso que Penzias e Wison estavam a ouvir revelou-se ser o som mais antigo e mais importante que alguma vez alguém tinha ouvido. Era radiação cósmica, restos do nascimento do próprio universo. Esta foi a primeira prova experimental de que o Big Bang tinha acontecido e que o universo tinha nascido num momento preciso, há 14 700 milhões de anos. E a nossa história acaba no início no início de todas as coisas, o Big Bang. Este é o ruído que Penzias e Wilson ouviram o som mais antigo que vocês alguma vez irão ouvir, a radiação cósmica residual de micro-ondas deixada pelo Big Bang.
(Fuzz)
(Ruído branco)
Thanks.
Obrigada.
(Applause)
(Aplausos)