My name is Hannah. And that is a palindrome. That is a word you can spell the same forwards and backwards, if you can spell. But the thing is --
Chamo-me Hannah. Hannah é um palíndromo. Ou seja, é uma palavra que se pode soletrar de trás para frente, se souberem soletrar. Mas a questão é...
(Laughter)
(Risos)
my entire family have palindromic names. It's a bit of a tradition. We've got Mum, Dad --
Toda a minha família tem nomes palíndromos É como uma tradição. Temos "Mum", "Dad" ...
(Laughter)
(Risos)
Nan, Pop.
Nan, Pop
(Laughter)
(Risos)
And my brother, Kayak.
E o meu irmão, Kayak.
(Laughter)
(Risos)
There you go. That's just a bit a joke, there.
Aí está. Isto é só uma piada.
(Laughter)
(Risos)
I like to kick things off with a joke because I'm a comedian. Now there's two things you know about me already: my name's Hannah and I'm a comedian. I'm wasting no time. Here's a third thing you can know about me: I don't think I'm qualified to speak my own mind. Bold way to begin a talk, yes, but it's true. I've always had a great deal of difficulty turning my thinking into the talking. So it seems a bit of a contradiction, then, that someone like me, who is so bad at the chat, could be something like a stand-up comedian. But there you go. There you go. It's what it is.
Eu gosto de começar com uma piada, porque sou comediante. Agora vocês já sabem duas coisas sobre mim Chamo-me Hannah e sou comediante. Eu não perco tempo. Aqui vai a terceira coisa sobre mim: Não acho que seja qualificada para dizer o que penso. Sim, é uma forma corajosa de começar uma palestra, mas é verdade. Eu sempre tive muita dificuldade em transformar em palavras os meus pensamentos. Então, parece uma certa contradição que alguém como eu, que é má a falar, se possa tornar numa humorista de "stand-up" mas é verdade. Sou eu. É isso mesmo.
I first tried my hand at stand-up comedi -- comedie ... See? See? See?
Eu tentei pela primeira vez na comi... comédia — viram? Viram? Viram?
(Laughter)
(Risos)
I first tried my hand at stand-up comedy in my late 20s, and despite being a pathologically shy virtual mute with low self-esteem who'd never held a microphone before, I knew as soon as I walked and stood in front of the audience, I knew, before I'd even landed my first joke, I knew that I really liked stand-up, and stand-up really liked me. But for the life of me, I couldn't work out why. Why is it I could be so good at doing something I was so bad at?
Eu tentei a comédia "stand-up", aos 20 e muitos anos. E apesar de ser patologicamente tímida e com baixo amor próprio, e nunca ter usado um microfone, percebi, no momento em que fiquei em frente do público, antes mesmo de contar a minha primeira piada, percebi que gostava do "stand-up" e que o "stand-up" gostava de mim. Mas eu não conseguia perceber porquê. Como é que eu conseguia ser tão boa a fazer algo em que eu era tão má?
(Laughter)
(Risos)
I just couldn't work it out, I could not understand it. That is, until I could.
Eu não conseguia entender. Isto é, até que consegui.
Now, before I explain to you why it is that I can be good at something I'm so bad at, let me throw another spanner of contradiction into the work by telling you that not long after I worked out why that was, I decided to quit comedy. And before I explain that little oppositional cat I just threw amongst the thinking pigeons, let me also tell you this: quitting launched my comedy career.
Mas, antes de vos explicar porque é que eu sou boa numa coisa em que sou tão má, vou lançar outra contradição dizendo que, pouco depois de ter percebido porquê, decidi desistir da comédia. E antes de explicar essa pedra que atirei ao charco, deixem-me dizer isto: Foi a desistência que lançou a minha carreira de humorista.
(Laughter)
(Risos)
Like, really launched it, to the point where after quitting comedy, I became the most talked-about comedian on the planet, because apparently, I'm even worse at making retirement plans than I am at speaking my own mind.
Lançou-a de tal modo que, depois de desistir da comédia, tornei-me a humorista mais falada do planeta, porque, aparentemente, ainda sou pior a fazer planos para a reforma do que sou a dizer o que penso.
Now, all I've done up until this point apart from giving over a spattering of biographical detail is to tell you indirectly that I have three ideas that I want to share with you today. And I've done that by way of sharing three contradictions: one, I am bad at talking, I am good at talking; I quit, I did not quit. Three ideas, three contradictions. Now, if you're wondering why there's only two things on my so-called list of three --
Agora, tudo o que eu fiz até aqui, além de dar alguns detalhes biográficos dispersos, foi dizer, indiretamente, que tenho três ideias que quero partilhar com vocês. Eu fiz isso partilhando três contradições: A primeira, é que sou má a falar e sou boa a falar. Eu desisti e não desisti. Três ideias, três contradições. Se estão a pensar porque é que só há duas ideias, na minha alegada lista de três...
(Laughter)
(Risos)
I remind you it is literally a list of contradictions. Keep up.
eu lembro que é uma lista de contradições. Acompanhem.
(Laughter)
(Risos)
Now, the folks at TED advised me that with a talk of this length, it's best to stick with just sharing one idea. I said no.
O pessoal do TED avisou-me que com uma palestra desta duração, é melhor partilhar só uma ideia. Eu disse que não.
(Laughter)
(Risos)
What would they know?
O que é que eles sabem?
To explain why I have chosen to ignore what is clearly very good advice, I want to take you back to the beginning of this talk, specifically, my palindrome joke. Now that joke uses my favorite trick of the comedian trade, the rule of three, whereby you make a statement and then back that statement up with a list. My entire family have palindromic names: Mum, Dad, Nan, Pop. The first two ideas on that list create a pattern, and that pattern creates expectation. And then the third thing -- bam! -- Kayak. What? That's the rule of three. One, two, surprise! Ha ha.
Para explicar porque escolhi ignorar um conselho claramente tão bom, quero levar-vos de novo ao início da palestra, especificamente, à piada dos nomes. Essa piada usa o meu truque favorito do negócio de comediante, a regra de três, em que fazemos uma declaração e depois voltamos a essa declaração com uma lista. Toda a minha família tem nomes palíndromos Mum, Dad, Nan, Pop. As primeiras duas ideias da lista criam um padrão, e esse padrão cria expetativa. E depois a terceira ideia —bam! — Kayak. O quê? Essa é a regra dos três. Um, dois, surpresa! Ha! Ha!
(Laughter)
(Risos)
Now, the rule of three is not only fundamental to the way I do my craft, it is also fundamental to the way I communicate. So I won't be changing anything for nobody, not even TED, which, I will point out, stands for three ideas: technology, entertainment and dickheads.
Agora, a regra de três não só é fundamental para a forma como trabalho, também é fundamental para a forma como comunico. Então, eu não vou mudar nada para ninguém, nem mesmo para o TED, que, sublinho, significa três ideias: Tecnologia, Entretenimento e Debilidade mental.
(Laughter)
(Risos)
Works every time, doesn't it?
Funciona sempre, não é?
But you need more than just jokes to be able to cut it as a professional comedian. You need to be able to walk that fine line between being charming and disarming. And I discovered the most effective way to generate the amount of charm I needed to offset my disarming personality was through not jokes but stories. So my stand-up routines are filled with stories: stories about growing up, my coming out story, stories about the abuse I've copped for being not only a woman but a big woman and a masculine-of-center woman. If you watch my work online, check the comments out below for examples of abuse.
Mas precisamos mais do que só piadas para conseguirmos ser um comediante profissional. Precisamos de saber caminhar naquela linha fina entre ser encantador e desconcertante. Eu descobri que o método eficaz para gerar o encanto de que precisava, para compensar a minha personalidade desconcertante não era através de piadas, mas de histórias. A minha rotina de "stand-up" está cheia de histórias, histórias sobre a minha infância, sobre quando eu me assumi, histórias sobre a violência que eu sofri não só por ser mulher mas por ser uma mulher grande e com ar masculino. Se forem ver o meu trabalho "online", verifiquem os comentários, como exemplos de insultos.
(Laughter)
(Risos)
It's that time in the talk where I shift into second gear, and I'm going to tell you a story about everything I've just said.
Esta é a altura na palestra em que eu meto a segunda mudança e vou contar uma história sobre tudo aquilo de que já falei.
In the last few days of her life, my grandma was surrounded by people, a lot of people, because my grandma was the loving matriarch of a large and loving family. Now, if you haven't made the connection already, I am a member of that family. I was lucky enough to be able to say goodbye to my grandma on the day she died. But as she was already cocooned within herself by then, it was something of a one-sided goodbye. So I thought about a lot of things, things I hadn't thought about in a long time, like the letters I used to write to my grandma when I first started university, letters I filled with funny stories and anecdotes that I embellished for her amusement. And I remembered how I couldn't articulate the anxiety and fear that filled me as I tried to carve my tiny little life into a world that felt far too big for me. But I remembered finding comfort in those letters, because I wrote them with my grandma in mind. But as the world got more and more overwhelming and my ability to negotiate it got worse, not better, I stopped writing those letters. I just didn't think I had the life that Grandma would want to read about.
Nos últimos dias de vida, a minha avó estava rodeada de pessoas, de muita gente, porque a minha avó era a matriarca adorada de uma família grande e amorosa. Se vocês ainda não fizeram essa ligação, eu sou membro dessa família. Tive a sorte suficiente de poder despedir-me da minha avó, no dia em que ela morreu. Mas como ela já estava encapsulada em si mesma, foi uma espécie de adeus unilateral. Então, eu pensei num monte de coisas, coisas em que eu não pensava há muito tempo, como as cartas que eu escrevia à minha avó quando entrei para a universidade, cartas preenchidas com histórias engraçadas e anedotas que eu embelezava para ela se divertir. Lembro-me bem de como eu não conseguia exprimir a ansiedade e o medo que me preenchiam enquanto eu tentava esculpir a minha vida num mundo que parecia grande demais para mim. Mas lembro-me de ter encontrado conforto nessas cartas, porque eu escrevia-as a pensar na minha avó. Mas, como o mundo estava a ficar cada vez mais esmagador e a minha capacidade de negociá-lo piorava, não melhorava, eu deixei de escrever essas cartas. Achava que a minha avó não gostaria de ler o tipo de vida que eu tinha.
Grandma did not know I was gay, and about six months before she died, out of nowhere, she asked me if I had a boyfriend. Now, I remember making a conscious decision in that moment not to come out to my grandmother. And I did that because I knew her life was drawing to an end, and my time with her was finite, and I did not want to talk about the ways we were different. I wanted to talk about the ways were we connected. So I changed the subject. And at the time, it felt like the right decision. But as I sat witness to my grandmother's life as it tapered to its inevitable end, I couldn't help but feel I'd made a mistake not to share such a significant part of my life. But I also knew that I'd missed my opportunity, and as Grandma always used to say, "Ah, well, it's all part of the soup. Too late to take the onions out now."
A minha avó não sabia que eu era "gay" e seis meses antes de ela morrer, de súbito, ela perguntou-me se eu tinha um namorado. Eu lembro-me de ter tomado uma decisão consciente naquele momento de não me assumir perante a minha avó. E fiz isso porque eu sabia que a vida dela estava no fim e o meu tempo com ela era curto, por isso, não queria falar sobre como éramos diferentes. Eu queria falar sobre as maneiras como comunicávamos, por isso, mudei de assunto. Naquela altura, pareceu-me a decisão certa. Mas enquanto eu testemunhava a vida da minha avó enquanto ela se encaminhava para o seu inevitável fim, não conseguia deixar de pensar que estava errada por não partilhar uma parte significativa da minha vida. Mas eu também sabia que perdera a oportunidade, como a minha avó sempre dizia: "Ah, bom, agora tudo faz parte da sopa. "Já é tarde demais para tirar as cebolas".
(Laughter)
(Risos)
And I thought about that, and I thought about how I had to deal with too many onions as a kid, growing up gay in a state where homosexuality was illegal. And with that thought, I could see how tightly wrapped in the tendrils of my own internalized shame I was. And with that, I thought about all my traumas: the violence, the abuse, my rape. And with all that cluster of thinking, a thought, a question, kept popping into my mind to which I had no answer: What is the purpose of my human?
Pensei nisso, e pensei como tive de lidar com tantas cebolas quando era uma miúda, a crescer "gay" num estado onde a homossexualidade era ilegal. Com esse pensamento, pude ver até que ponto eu estava embrulhada na minha vergonha. E com isso, pensei em todos os meus traumas: a violência, o abuso, a violação. Com todos estes pensamentos, um pensamento, uma pergunta, não parava de aparecer para a qual eu não tinha resposta: Qual é o objetivo do meu ser humano?
Out of anyone in my family, I felt the most akin to my grandmother. I mean, we share the most traits in common. Not so much these days. Death really changes people. But that --
De toda a gente da minha família, eu era a mais parecida com a minha avó. Quer dizer, nós partilhamos a maioria das características. Não tanto nos dias de hoje. A morte muda as pessoas. (Risos)
(Laughter)
Mas isso é o sentido de humor da minha avó.
is my grandmother's sense of humor. But the person I felt most akin to in the world was a mother, a grandmother, a great-grandmother, a great-great-grandmother. Me? I represented the very end of my branch of the family tree. And I wasn't entirely sure I was still connected to the trunk. What was the purpose of my human?
Mas a pessoa com quem me senti mais parecida no mundo foi uma mãe, uma avó, uma bisavó, uma trisavó. E eu? Eu representei o final do ramo da minha árvore genealógica. Eu não tinha a certeza se eu ainda estava ligada ao tronco. Qual era o objetivo do meu ser humano?
The year after my grandmother's death was the most intensely creative of my life. And I suppose that's because, at an end, my thoughts gather more than they scatter. My thought process is not linear. I'm a visual thinker. I see my thoughts. I don't have a photographic memory, and nor is my head a static gallery of sensibly collected think pieces. It's more that I've got this ever-evolving language of hieroglyphics that I've developed and can understand fluently and think deeply with. but I struggle to translate. I can't paint, draw, sculpt, or even haberdash, and as for the written word, I'm OK at it but it's a tortuous process of translation, and I don't feel it does the job. And as far as speaking my own mind, like I said, I'm not great at it. Speech has always felt like an inadequate freeze-frame for the life inside of me. All this to say, I've always understood far more than I've ever been able to communicate.
O ano após a morte da minha avó foi o ano mais criativo da minha vida. E eu acho que é porque, no final, os meus pensamentos se juntaram mais do que se espalharam. O meu processo de pensamento não é linear. Eu sou uma pensadora visual. Eu vejo o que penso. Eu não tenho memória fotográfica, e a minha cabeça não é uma galeria estática de peças pensadas de forma sensata. É mais como se eu tivesse essa evolução numa linguagem de hieróglifos que eu criei e que eu consigo entender fluentemente e pensar profundamente. mas que tenho dificuldade em traduzir. Eu não consigo pintar, desenhar, esculpir nem sequer remendar, e, quanto à palavra escrita, tudo bem, mas é um processo tortuoso de tradução, e eu não sinto que resulte. E a falar o que penso, como disse, eu não sou boa As palestras sempre me fizeram sentir como um congelamento inadequado da vida dentro de mim. Tudo isso para dizer que eu sempre entendi muito mais do que sou capaz de comunicar.
Now, about a year before Grandma died, I was formally diagnosed with autism. Now for me, that was mostly good news. I always thought that I couldn't sort my life out like a normal person because I was depressed and anxious. But it turns out I was depressed and anxious because I couldn't sort my life out like a normal person, because I was not a normal person, and I didn't know it. Now, this is not to say I still don't struggle. Every day is a bit of a struggle, to be honest. But at least now I know what my struggle is, and getting to the starting line of normal is not it. My struggle is not to escape the storm. My struggle is to find the eye of the storm as best I can.
Um ano antes da morte da minha avó, eu fui diagnosticada com autismo. Para mim, era praticamente uma notícia boa. Sempre pensei que não conseguia lidar com a minha vida como uma pessoa normal porque me sentia deprimida e ansiosa. Mas acontece que eu estava deprimida e ansiosa porque não conseguia lidar com a minha vida como uma pessoa normal porque eu não era uma pessoa normal, mas eu não sabia disso. Não estou a dizer que já não passo por dias maus. Todos os dias há uma certa luta, para ser sincera. Mas, pelo menos agora, eu sei qual é a minha dificuldade, não é chegar à linha de partida do normal. A minha dificuldade não é fugir à tempestade, a minha dificuldade é encontrar o olho da tempestade o melhor que possa.
Now, apart from the usual way us spectrum types find our calm -- repetitive behaviors, routine and obsessive thinking -- I have another surprising doorway into the eye of the storm: stand-up comedy. And if you need any more proof I'm neurodivergent, yes, I am calm doing a thing that scares the hell out of most people. I'm almost dead inside up here.
Para além da maneira usual de encontrar a nossa calma, conforme os tipos de espetro — as atitudes repetitivas, as rotinas e o pensamento obsessivo — eu tenho outra porta surpreendente para o olho da tempestade: a comédia de "stand-up": Se precisarem de mais provas, eu sou neurodivergente, e sim, estou calma quando faço algo que assusta a maioria das pessoas. Eu sinto-me quase morta aqui em cima.
(Laughter)
(Risos)
Diagnosis gave me a framework on which to hang bits of me I could never understand. My misfit suddenly had a fit, and for a while, I got giddy with a newfound confidence I had in my thinking. But after Grandma died, that confidence took a dive, because thinking is how I grieve. And in that grief of thought, I could suddenly see with so much clarity just how profoundly isolated I was and always had been. What was the purpose of my human?
O diagnóstico deu-me uma estrutura em que posso pendurar pedaços de mim que eu nunca consegui entender. O meu desajuste de repente teve um ataque E durante uns tempos, fiquei tonta com uma confiança nova que eu tinha nos meus pensamentos. Mas depois de a minha avó morrer, essa confiança foi-se abaixo, porque é a pensar que eu sofro. E nessa dor do pensamento, eu consegui subitamente ver com muita claridade quão profundamente isolada eu estava e sempre estivera. Qual era o objetivo do meu ser humano?
I began to think a lot about how autism and PTSD have so much in common. And I started to worry, because I had both. Could I ever untangle them? I'd always been told that the way out of trauma was through a cohesive narrative. I had a cohesive narrative, but I was still at the mercy of my traumas. They're all part of my soup, but the onions still stung. And at that point, I realized that I'd been telling my stories for laughs. I'd been trimming away the darkness, cutting away the pain and holding on to my trauma for the comfort of my audience. I was connecting other people through laughs, yet I remained profoundly disconnected. What was the purpose of my human? I did not have an answer, but I had an idea. I had an idea to tell my truth, all of it, not to share laughs but to share the literal, visceral pain of my trauma. And I thought the best way to do that would be through a comedy show.
Comecei a pensar em como o autismo e o PSPT têm muito em comum e comecei a preocupar-me porque eu tinha as duas coisas. Conseguiria alguma vez separá-los um do outro? Sempre me disseram que a saída para os traumas seria através de uma narrativa coesa. Eu tinha uma narrativa coesa, mas eu continuava à mercê dos meus traumas. Eles estão em toda a parte da minha sopa, mas as cebolas ainda ferem. Nesse momento, eu percebi que eu estava a contar as minhas histórias em troca de gargalhadas. Eu tentava afastar a escuridão recortando a dor e mantendo os meus traumas para conforto do meu público. Estava a comunicar com as pessoas através do riso, e continuava profundamente desligada. Qual era o objetivo do meu ser humano? Eu não tinha uma resposta, mas tinha uma ideia. E tive uma ideia para contar a minha verdade toda a verdade, não para partilhar risos, mas para partilhar a dor literal dos meus traumas. A melhor maneira para essa partilha seria através da comédia
And that is what I did. I wrote a comedy show that did not respect the punchline, that line where comedians are expected and trusted to pull their punches and turn them into tickles. I did not stop. I punched through that line into the metaphorical guts of my audience. I did not want to make them laugh. I wanted to take their breath away, to shock them, so they could listen to my story and hold my pain as individuals, not as a mindless, laughing mob. And that's what I did, and I called that show "Nanette." Now, many --
e foi isso que eu fiz. Escrevi um espetáculo de comédia que não respeitava o ponto alto, aquela linha em que se espera e se confia que os comediantes transformem os socos em cócegas. Eu não parei. Eu desferi esses socos no estômago metafórico do meu público. Eu não queria que eles rissem, queria tirar-lhes o fôlego, chocá-los. Só assim eles escutariam a minha história e perceberiam a minha dor enquanto indivíduos, não enquanto uma multidão irracional que ri. E foi isso que eu fiz. Chamei "Nanette" a esse espetáculo.
(Applause)
(Aplausos)
Now, many have argued that "Nanette" is not a comedy show. And while I can agree "Nanette" is definitely not a comedy show, those people are still wrong --
Muita gente tem concordado que ''Nanette'' não é um espetáculo de comédia. Embora eu possa concordar que ''Nanette'' não é um espetáculo de comédia, essas pessoas estão enganadas
(Laughter)
(Risos)
because they have framed their argument as a way of saying I failed to do comedy. I did not fail to do comedy. I took everything I knew about comedy -- all the tricks, the tools, the know-how -- I took all that, and with it, I broke comedy. You cannot break comedy with comedy if you fail at comedy. Flaccid be thy hammer.
porque enquadraram a sua opinião como uma maneira de dizer que eu falhei como comediante. Eu não falhei como comediante. Eu agarrei em tudo o que eu sabia sobre a comédia — a artimanha, as ferramentas, os conhecimentos — agarrei nisso tudo e, com isso, eu dei cabo da comédia. Não é possível dar cabo da comédia com a comédia, se falharmos na comédia. Que o vosso martelo seja flácido.
(Laughter) (Applause)
(Risos) (Aplausos)
That was not my point. The point was not simply to break comedy. The point was to break comedy so I could rebuild it and reshape it, reform it into something that could better hold everything I needed to share, and that is what I meant when I said I quit comedy.
A questão não era essa. A questão não era dar cabo da comédia A questão era dar cabo da comédia para eu poder refazê-la de outra forma, transformá-la nalguma coisa que melhor pudesse conter tudo o que eu precisava de partilhar. Foi isso que eu quis dizer quando disse que abandonei a comédia.
Now, it's probably at this point where you're going, "Yeah, cool, but what are the three ideas, exactly? It's a bit vague."
Provavelmente é neste momento que você pensam: ''Sim, porreiro, "mas quais são as três ideias exatamente? "Isso é um pouco vago.''
I'm glad I pretended you asked.
Ainda bem que eu fingi que vocês perguntaram isso.
(Laughter)
(Risos)
Now, I'm sure there's quite a few of you who have already identified three ideas. A smart crowd, by all accounts, so I wouldn't be surprised at all. But you might be surprised to find out that I don't have three ideas. I told you I had three ideas, and that was a lie. That was pure misdirection -- I'm very funny. What I've done instead is I've taken whole handfuls of my ideas as seeds, and I've scattered them all throughout my talk. And why did I do that? Well, apart from shits and giggles, it comes down to something my grandma always used to say. "It's not the garden, it's the gardening that counts." And "Nanette" taught me the truth to that truism. I fully expected by breaking the contract of comedy and telling my story in all its truth and pain that that would push me further into the margins of both life and art. I expected that, and I was willing to pay that cost in order to tell my truth. But that is not what happened. The world did not push me away. It pulled me closer. Through an act of disconnection, I found connection. And it took me a long time to understand that what is at the heart of that contradiction is also at the heart of the contradiction as to why I can be so good at something I am so bad at.
Eu tenho a certeza que muitos de vocês já identificaram as três ideias. Segundo consta, são um grupo inteligente, portanto eu não ficaria surpreendida. Mas talvez fiquem surpreendidos se descobrirem que não tenho três ideias. Eu disse que tinha três ideias mas era mentira. Foi pura desorientação — eu sou muito engraçada. Eu peguei num punhado inteiro das minhas ideias, como sementes, e espalhei-as ao longo da minha palestra. Porque é que fiz isso? Bem, para além da diversão, isso resume-se a algo que a minha avó sempre dizia: ''Não é o jardim que conta, é a jardinagem.'' E ''Nanette'' ensinou-me a verdade para esse truísmo. Eu esperava que, ao quebrar o contrato da comédia e contar a minha história em toda a sua dor e verdade, isso me empurraria para longe das margens da vida e da arte. Eu esperava isso e estava disposta a pagar o preço por contar a minha verdade. Mas não foi o que aconteceu. O mundo não me afastou. Aproximou-me para mais perto. Através de um ato de desconexão, eu encontrei a conexão. E levei muito tempo a perceber que o que está no âmago dessa contradição também é o âmago da contradição da razão por que eu posso ser tão boa numa coisa em que eu sou tão má.
You see, in the real world, I struggle to talk to people because my neurodiversity makes it difficult for me to think, listen, speak and process new information all at the same time. But onstage, I don't have to think. I prepare my thinks well in advance. I don't have to listen. That is your job.
No mundo real, eu luto para falar com as pessoas porque a minha neurodiversidade dificulta-me pensar, escutar, falar e processar informações novas, tudo ao mesmo tempo. Mas no palco, eu não tenho que pensar. Eu preparo os meus pensamentos de antemão. Não tenho de escutar, isso é convosco.
(Laughter)
(Risos)
And I don't really have to talk, because, strictly speaking, I'm reciting. So all that is left is for me to do my best to make a genuine connection with my audience. And if the experience of "Nanette" taught me anything, it's that connection depends not just on me. You play a part. "Nanette" may have begun in me, but she now lives and grows in a whole world of other minds, minds I do not share. But I trust I am connected. And in that, she is so much bigger than me, just like the purpose of being human is so much bigger than all of us. Make of that what you will.
E não tenho que falar, porque, estritamente falando, eu estou a recitar. Então, tudo o que me resta é fazer o meu melhor para fazer uma ligação genuína com o meu público. E se a experiência de ''Nanette'' me ensinou alguma coisa é que essa ligação não depende só de mim. Vocês fazem a vossa parte. ''Nanette'' pode ter começado em mim mas agora ela vive e cresce no mundo inteiro, noutras mentes, mentes que eu não partilho mas em quem confio e a quem estou ligada. Nisso, ela é muito maior do que eu, assim como o objetivo de ser humano é muito maior que todos nós. Façam disso o que quiserem.
Thank you, and hello.
Obrigada e olá.
(Applause)
(Aplausos)