To be honest, by personality, I'm just not much of a crier. But I think in my career that's been a good thing. I'm a civil rights lawyer, and I've seen some horrible things in the world. I began my career working police abuse cases in the United States. And then in 1994, I was sent to Rwanda to be the director of the U.N.'s genocide investigation. It turns out that tears just aren't much help when you're trying to investigate a genocide. The things I had to see, and feel and touch were pretty unspeakable.
Para ser franco quanto à minha personalidade, não sou muito de chorar. Mas, na minha carreira, isso tem sido bom. Sou um advogado de direitos civis, e tenho visto coisas horríveis neste mundo. Comecei a minha carreira nos EUA, com processos contra a violência policial. Em 1994, fui enviado para o Ruanda, como diretor do programa de investigação de genocídio, pela ONU. Acontece que as lágrimas não nos ajudam muito quando estamos a tentar investigar um genocídio. As coisas que eu tive que ver, sentir e tocar são indescritíveis.
What I can tell you is this: that the Rwandan genocide was one of the world's greatest failures of simple compassion. That word, compassion, actually comes from two Latin words: cum passio, which simply mean "to suffer with." And the things that I saw and experienced in Rwanda as I got up close to human suffering, it did, in moments, move me to tears. But I just wish that I, and the rest of the world, had been moved earlier. And not just to tears, but to actually stop the genocide.
O que eu posso contar é o seguinte: o genocídio do Ruanda foi um dos maiores fracassos do mundo, em termos de compaixão. Esta palavra, compaixão, vem de duas palavras latinas: "cum passio", que significam "sofrer com". As coisas que eu vi e vivi no Ruanda, quando me aproximei do sofrimento humano, por vezes, comoveram-me até às lágrimas. Teria sido preferível que eu e o resto do mundo, nos tivéssemos comovido mais cedo. Não apenas até às lágrimas, mas o que fosse preciso para impedir o genocídio.
Now by contrast, I've also been involved with one of the world's greatest successes of compassion. And that's the fight against global poverty. It's a cause that probably has involved all of us here. I don't know if your first introduction might have been choruses of "We Are the World," or maybe the picture of a sponsored child on your refrigerator door, or maybe the birthday you donated for fresh water. I don't really remember what my first introduction to poverty was but I do remember the most jarring.
Em contrapartida, também estou envolvido num dos maiores êxitos mundiais de compaixão. Trata-se da luta contra a pobreza mundial. É uma causa que, provavelmente, envolveu toda a gente aqui. O vosso primeiro contacto com a pobreza foi, talvez, os coros de "We Are the World", ou a foto, na porta do frigorífico, de uma criança patrocinada, ou talvez a vossa doação para a água potável. Não me lembro qual foi o meu primeiro contacto com a pobreza, mas lembro-me qual foi a mais chocante.
It was when I met Venus -- she's a mom from Zambia. She's got three kids and she's a widow. When I met her, she had walked about 12 miles in the only garments she owned, to come to the capital city and to share her story. She sat down with me for hours, just ushered me in to the world of poverty. She described what it was like when the coals on the cooking fire finally just went completely cold. When that last drop of cooking oil finally ran out. When the last of the food, despite her best efforts, ran out. She had to watch her youngest son, Peter, suffer from malnutrition, as his legs just slowly bowed into uselessness. As his eyes grew cloudy and dim. And then as Peter finally grew cold.
Foi quando conheci Venus, uma mãe da Zâmbia. Tem três filhos e é viúva. Quando a conheci, ela tinha andado quase 20 km com a única roupa que tinha, para vir à capital e contar-me a sua história. Sentou-se ao pé de mim durante horas, e apresentou-me ao mundo da pobreza. Descreveu-me como fazia frio quando as brasas na fogueira se extinguiam totalmente, quando acabara a última gota de óleo de cozinha, quando acabaram os últimos restos de comida, apesar de todos os seus esforços, Impotente, assistiu ao seu filho mais novo, Peter, a sofrer de desnutrição, enquanto as suas pernas lentamente ficavam encurvadas e inúteis, enquanto os seus olhos ficavam opacos e turvos. Finalmente, Pete extinguiu-se.
For over 50 years, stories like this have been moving us to compassion. We whose kids have plenty to eat. And we're moved not only to care about global poverty, but to actually try to do our part to stop the suffering. Now there's plenty of room for critique that we haven't done enough, and what it is that we've done hasn't been effective enough, but the truth is this: The fight against global poverty is probably the broadest, longest running manifestation of the human phenomenon of compassion in the history of our species. And so I'd like to share a pretty shattering insight that might forever change the way you think about that struggle.
Durante mais de 50 anos, estas histórias têm-nos provocado compaixão. Nós, cujos filhos têm muito que comer, não nos contentamos só com a preocupação da pobreza mundial, mas tentamos agir para acabar com esse sofrimento. Podem-nos criticar por não fazermos o suficiente, e porque o que fizemos não foi suficientemente eficaz, mas a verdade é esta: A luta contra a pobreza mundial é provavelmente a manifestação mais ampla e duradoura da compaixão humana na história da nossa espécie. Gostava de vos contar uma descoberta arrasadora que pode mudar para sempre a maneira como vocês encaram essa luta.
But first, let me begin with what you probably already know. Thirty-five years ago, when I would have been graduating from high school, they told us that 40,000 kids every day died because of poverty. That number, today, is now down to 17,000. Way too many, of course, but it does mean that every year, there's eight million kids who don't have to die from poverty. Moreover, the number of people in our world who are living in extreme poverty, which is defined as living off about a dollar and a quarter a day, that has fallen from 50 percent, to only 15 percent. This is massive progress, and this exceeds everybody's expectations about what is possible. And I think you and I, I think, honestly, that we can feel proud and encouraged to see the way that compassion actually has the power to succeed in stopping the suffering of millions.
Mas antes, vou começar com uma coisa que vocês já devem saber. Há 35 anos, quando eu estava a acabar o ensino secundário, disseram-nos que morriam diariamente 40 mil crianças, devido à pobreza. Este número, hoje, está reduzido a 17 000. Claro que continuam a ser demasiadas crianças, mas isso significa que, todos os anos, há oito milhões de crianças que já não morrerão devido à pobreza. Além disso, o número de pessoas no nosso mundo que vivem em extrema pobreza, — ou seja, vivem com cerca de 1,25 dólar por dia — passou de 50% para apenas 15%. Isso é um progresso enorme que excede as expetativas de todos sobre o que é possível. Acho, francamente, que todos nós podemos sentir-nos orgulhosos e encorajados por ver que a compaixão tem o poder de acabar com o sofrimento de milhões. Mas há um aspeto de que não se ouve falar muito.
But here's the part that you might not hear very much about. If you move that poverty mark just up to two dollars a day, it turns out that virtually the same two billion people who were stuck in that harsh poverty when I was in high school, are still stuck there, 35 years later.
Se subirmos esse índice da pobreza apenas para dois dólares por dia, acontece que esses mesmos 2000 milhões de pessoas que estavam atoladas na maior pobreza, quando eu andava no secundário, continuam na mesma, 35 anos depois. Porque é que há tantos milhares de milhões ainda atolados numa extrema pobreza?
So why, why are so many billions still stuck in such harsh poverty? Well, let's think about Venus for a moment. Now for decades, my wife and I have been moved by common compassion to sponsor kids, to fund microloans, to support generous levels of foreign aid. But until I had actually talked to Venus, I would have had no idea that none of those approaches actually addressed why she had to watch her son die. "We were doing fine," Venus told me, "until Brutus started to cause trouble." Now, Brutus is Venus' neighbor and "cause trouble" is what happened the day after Venus' husband died, when Brutus just came and threw Venus and the kids out of the house, stole all their land, and robbed their market stall. You see, Venus was thrown into destitution by violence.
Pensemos um pouco em Venus. Durante décadas, a minha mulher e eu, movidos por uma compaixão comum, patrocinámos crianças, financiámos microcréditos, apoiámos ativamente a ajuda internacional. Mas, antes de ter falado com Venus, eu não fazia ideia de que nenhuma dessas abordagens resolvia a razão por que ela tivera que ver morrer o filho. "Vivíamos bem", disse-me Venus, "até Brutus ter começado a causar problemas". Brutus é o vizinho de Venus e começou a causar problemas no dia a seguir à morte do marido de Venus. Brutus chegou e expulsou Venus e as crianças de casa, roubou-lhe a terra e a tenda do mercado. Foi a violência que lançou Venus na miséria.
And then it occurred to me, of course, that none of my child sponsorships, none of the microloans, none of the traditional anti-poverty programs were going to stop Brutus, because they weren't meant to.
Então, ocorreu-me que nenhum patrocínio de crianças, nenhum microcrédito, nenhum dos programas tradicionais contra a pobreza, iriam deter os Brutus deste mundo, porque não se destinavam a isso.
This became even more clear to me when I met Griselda. She's a marvelous young girl living in a very poor community in Guatemala. And one of the things we've learned over the years is that perhaps the most powerful thing that Griselda and her family can do to get Griselda and her family out of poverty is to make sure that she goes to school. The experts call this the Girl Effect. But when we met Griselda, she wasn't going to school. In fact, she was rarely ever leaving her home.
Isto tornou-se-me ainda mais claro quando conheci Griselda. É uma rapariga maravilhosa que vive numa comunidade muito pobre, na Guatemala. Uma da coisas que aprendemos ao longo dos anos, é que talvez a coisa mais poderosa que Griselda e a família podem fazer para saírem da pobreza é assegurar que ela vai à escola. Os especialistas chamam-lhe o Efeito Rapariga. Mas quando conhecemos Griselda ela não estava a ir à escola. Na verdade, raramente saía de casa.
Days before we met her, while she was walking home from church with her family, in broad daylight, men from her community just snatched her off the street, and violently raped her. See, Griselda had every opportunity to go to school, it just wasn't safe for her to get there. And Griselda's not the only one. Around the world, poor women and girls between the ages of 15 and 44, they are -- when victims of the everyday violence of domestic abuse and sexual violence -- those two forms of violence account for more death and disability than malaria, than car accidents, than war combined. The truth is, the poor of our world are trapped in whole systems of violence.
Dias antes de a conhecermos, quando ela voltava da igreja, com a família, em plena luz do dia. homens da comunidade, levaram-na do meio da rua e violaram-na brutalmente. Griselda tinha todas as oportunidades para ir à escola, só que, para ela, era muito perigoso. O caso de Griselda não é isolado. Em todo o mundo, as mulheres e raparigas pobres, entre as idades de 16 e 44 anos, são vítimas de violência quotidiana, doméstica e sexual. Estas duas formas de violência causam mais mortes e deficiências do que a malária, os acidentes de carro, e a guerra, tudo junto. A verdade é que os pobres, neste mundo, estão presos em sistemas de violência.
In South Asia, for instance, I could drive past this rice mill and see this man hoisting these 100-pound sacks of rice upon his thin back. But I would have no idea, until later, that he was actually a slave, held by violence in that rice mill since I was in high school. Decades of anti-poverty programs right in his community were never able to rescue him or any of the hundred other slaves from the beatings and the rapes and the torture of violence inside the rice mill. In fact, half a century of anti-poverty programs have left more poor people in slavery than in any other time in human history.
No sul da Ásia, por exemplo, ao passar por uma fábrica de arroz, vi um homem a pôr às costas sacos de arroz de 50 kg. Só mais tarde me apercebi que, na realidade, ele era um escravo, mantido à força naquela fábrica de arroz, desde que eu andava no secundário. Décadas de programas contra a pobreza na sua comunidade nunca conseguiram salvá-lo, nem às centenas de escravos dos espancamentos, das violações e da tortura, da violência dentro das fábricas de arroz. Meio século de programas contra a pobreza deixaram mais pobres na escravatura do que em qualquer outra época da história do Homem.
Experts tell us that there's about 35 million people in slavery today. That's about the population of the entire nation of Canada, where we're sitting today. This is why, over time, I have come to call this epidemic of violence the Locust Effect. Because in the lives of the poor, it just descends like a plague and it destroys everything. In fact, now when you survey very, very poor communities, residents will tell you that their greatest fear is violence. But notice the violence that they fear is not the violence of genocide or the wars, it's everyday violence.
Os especialistas dizem-nos que há hoje cerca de 35 milhões de escravos. É quase a população do Canadá, onde me encontro hoje. É por isso que eu comecei a chamar a esta epidemia de violência o Efeito Gafanhoto. Porque, na vida dos pobres, ela aparece como uma praga e destrói tudo à sua passagem. Quando observamos comunidades extremamente pobres, os moradores contar-nos-ão que o seu maior medo é a violência. Mas reparem que a violência que eles temem não é a violência do genocídio ou das guerras, é a violência do dia-a-dia.
So for me, as a lawyer, of course, my first reaction was to think, well, of course we've got to change all the laws. We've got to make all this violence against the poor illegal. But then I found out, it already is. The problem is not that the poor don't get laws, it's that they don't get law enforcement. In the developing world, basic law enforcement systems are so broken that recently the U.N. issued a report that found that "most poor people live outside the protection of the law." Now honestly, you and I have just about no idea of what that would mean because we have no first-hand experience of it. Functioning law enforcement for us is just a total assumption. In fact, nothing expresses that assumption more clearly than three simple numbers: 9-1-1, which, of course, is the number for the emergency police operator here in Canada and in the United States, where the average response time to a police 911 emergency call is about 10 minutes. So we take this just completely for granted.
Para mim, enquanto advogado, a minha primeira reação foi pensar: "Bom, temos que alterar as leis. "Temos que tornar ilegal toda esta violência contra os pobres". Mas depois apercebi-me de que isso já existia. O problema não é os pobres não terem leis, é que não há forças de aplicação da lei. Nos países em desenvolvimento, os sistemas de aplicação da lei são tão deficientes que, recentemente, a ONU publicou um relatório que chegou à conclusão de que "a maior parte dos pobres vivem fora da proteção da lei". Francamente, nenhum de nós faz ideia do que é que isto significa, porque não temos experiência direta disso. O funcionamento da aplicação da lei para nós é uma premissa total. Nada exprime essa premissa mais claramente que três simples números: 9 -1 -1 que, como sabem, é o número de urgência da polícia, tanto no Canadá como nos EUA, em que o tempo médio de resposta para uma chamada de emergência é de cerca de 10 minutos. Consideramos isto como uma coisa natural.
But what if there was no law enforcement to protect you? A woman in Oregon recently experienced what this would be like. She was home alone in her dark house on a Saturday night, when a man started to tear his way into her home. This was her worst nightmare, because this man had actually put her in the hospital from an assault just two weeks before. So terrified, she picks up that phone and does what any of us would do: She calls 911 -- but only to learn that because of budget cuts in her county, law enforcement wasn't available on the weekends. Listen. Dispatcher: I don't have anybody to send out there. Woman: OK Dispatcher: Um, obviously if he comes inside the residence and assaults you, can you ask him to go away? Or do you know if he is intoxicated or anything? Woman: I've already asked him. I've already told him I was calling you. He's broken in before, busted down my door, assaulted me. Dispatcher: Uh-huh. Woman: Um, yeah, so ... Dispatcher: Is there any way you could safely leave the residence? Woman: No, I can't, because he's blocking pretty much my only way out. Dispatcher: Well, the only thing I can do is give you some advice, and call the sheriff's office tomorrow. Obviously, if he comes in and unfortunately has a weapon or is trying to cause you physical harm, that's a different story. You know, the sheriff's office doesn't work up there. I don't have anybody to send."
E se não houvesse aplicação da lei para nos proteger? Há pouco tempo, uma mulher no Oregon sentiu o efeito disso. Estava sozinha em casa, num sábado à noite, quando um homem tentou entrar em casa dela. Foi o seu pior pesadelo, porque esse homem já a tinha mandado para o hospital num assalto, apenas duas semanas antes. Aterrorizada, agarra no telefone e faz o que qualquer um de nós faria. Liga para o 911 e fica a saber que, por causa dos cortes no orçamento, a aplicação da lei não estava disponível aos fins de semana. Oiçam: Telefonista: Não tenho ninguém para enviar para aí. Mulher: Ok. Telefonista: Se ele entrar em casa e a atacar, pode pedir-lhe para se ir embora? Sabe se ele está embriagado? Mulher: Já lhe pedi, já lhe disse que ia ligar para a polícia. Ele já entrou uma vez, deitou abaixo a porta e atacou-me. - Hmm... hmm. - Então... Telefonista: Há alguma maneira de sair de casa com segurança? Mulher: Não, não posso, ele está a bloquear a saída. Telefonista: Bem, a única coisa que posso fazer é dar-lhe alguns conselhos e ligar para o xerife amanhã. Claro que, se ele entrar e tiver uma arma, ou tentar fazer-lhe mal, a história é outra. Sabe, o gabinete do xerife está fechado. Não tenho ninguém para lhe mandar.
Gary Haugen: Tragically, the woman inside that house was violently assaulted, choked and raped because this is what it means to live outside the rule of law. And this is where billions of our poorest live. What does that look like? In Bolivia, for example, if a man sexually assaults a poor child, statistically, he's at greater risk of slipping in the shower and dying than he is of ever going to jail for that crime. In South Asia, if you enslave a poor person, you're at greater risk of being struck by lightning than ever being sent to jail for that crime. And so the epidemic of everyday violence, it just rages on. And it devastates our efforts to try to help billions of people out of their two-dollar-a-day hell. Because the data just doesn't lie. It turns out that you can give all manner of goods and services to the poor, but if you don't restrain the hands of the violent bullies from taking it all away, you're going to be very disappointed in the long-term impact of your efforts.
Gary Haugen: Tragicamente, a mulher que estava em casa foi atacada violentamente, estrangulada e violada. Isto é o que significa viver fora da aplicação da lei. É assim que vivem milhares de milhões das pessoas mais pobres. O que é que isto é? Na Bolívia, por exemplo, se um homem ataca sexualmente uma criança pobre, estatisticamente, corre maior risco de escorregar no banho e morrer do que ir parar à cadeia por esse crime. No sul da Ásia, se escravizarmos uma pessoa pobre, corremos maior risco de sermos atingidos por um raio do que sermos metidos na cadeia por esse crime. E assim grassa a epidemia da violência quotidiana. Prejudica terrivelmente os nossos esforços para ajudar milhares de milhões de pessoas a sair do seu inferno de dois dólares por dia. Porque os números não mentem. Acontece que podemos proporcionar todos os tipos de bens e serviços aos pobres mas, se não atarmos as mãos dos brutamontes que roubam tudo isso, ficaremos muito desiludidos com o impacto a longo prazo dos nossos esforços.
So you would think that the disintegration of basic law enforcement in the developing world would be a huge priority for the global fight against poverty. But it's not. Auditors of international assistance recently couldn't find even one percent of aid going to protect the poor from the lawless chaos of everyday violence. And honestly, when we do talk about violence against the poor, sometimes it's in the weirdest of ways. A fresh water organization tells a heart-wrenching story of girls who are raped on the way to fetching water, and then celebrates the solution of a new well that drastically shortens their walk. End of story. But not a word about the rapists who are still right there in the community. If a young woman on one of our college campuses was raped on her walk to the library, we would never celebrate the solution of moving the library closer to the dorm. And yet, for some reason, this is okay for poor people.
Seria de pensar que a desintegração da aplicação da lei nos países em vias de desenvolvimento devia ser uma alta prioridade na luta global contra a pobreza. Mas não é. Os auditores da assistência internacional ainda há pouco, não encontraram nem 1% de ajuda destinada a proteger os pobres contra o caos fora de lei da violência quotidiana. Honestamente, quando falamos da violência contra os pobres, por vezes, é da maneira mais esquisita. Uma organização de acesso à água potável conta-nos uma história dolorosa de raparigas que são violadas quando vão buscar água e depois felicita-se pela solução de um novo poço que encurta drasticamente o caminho. Fim da história. Nem uma palavra sobre os violadores que continuam ali na comunidade. Se uma rapariga ou alguém dos nossos recintos universitários fosse violada a caminho da biblioteca, nunca nos felicitaríamos por mudar a biblioteca para mais perto do dormitório. Contudo, não sei por que razão, isso está bem para as pessoas pobres.
Now the truth is, the traditional experts in economic development and poverty alleviation, they don't know how to fix this problem. And so what happens? They don't talk about it. But the more fundamental reason that law enforcement for the poor in the developing world is so neglected, is because the people inside the developing world, with money, don't need it. I was at the World Economic Forum not long ago talking to corporate executives who have massive businesses in the developing world and I was just asking them, "How do you guys protect all your people and property from all the violence?" And they looked at each other, and they said, practically in unison, "We buy it."
A verdade é que os especialistas tradicionais do desenvolvimento económico e da redução da pobreza não sabem como resolver este problema. Então, o que é que acontece? Não falam nele. Mas a razão fundamental por que a aplicação da lei aos pobres no mundo em desenvolvimento é tão negligenciada é porque as pessoas que têm dinheiro, no mundo em desenvolvimento, não precisam dela. Estive há pouco tempo no Fórum Económico Mundial, a falar com dirigentes de empresas que têm grandes negócios nestes países e perguntei-lhes: "Como é que vocês protegem o pessoal e a propriedade de toda a violência?" Eles olharam uns para os outros e disseram, quase em uníssono: "Compramos a proteção".
Indeed, private security forces in the developing world are now, four, five and seven times larger than the public police force. In Africa, the largest employer on the continent now is private security. But see, the rich can pay for safety and can keep getting richer, but the poor can't pay for it and they're left totally unprotected and they keep getting thrown to the ground.
As forças de segurança privadas, nos países em desenvolvimento são hoje quatro, cinco e sete vezes maiores do que a força policial pública. Em África, a segurança privada é hoje o maior empregador do continente. Os ricos podem pagar pela segurança e continuam a enriquecer, mas os pobres não podem pagá-la, ficam completamente desprotegidos e continuam de joelhos, na miséria.
This is a massive and scandalous outrage. And it doesn't have to be this way. Broken law enforcement can be fixed. Violence can be stopped. Almost all criminal justice systems, they start out broken and corrupt, but they can be transformed by fierce effort and commitment.
Isto é um escândalo enorme. E não tem que ser assim. A falta da aplicação da lei pode ser corrigida. A violência pode ser impedida. Quase todos os sistemas de justiça criminal começaram com fracassos e corrupção, mas podem ser melhorados com muito esforço e empenho.
The path forward is really pretty clear. Number one: We have to start making stopping violence indispensable to the fight against poverty. In fact, any conversation about global poverty that doesn't include the problem of violence must be deemed not serious.
O caminho para isso é muito claro. Número um: Temos que começar por considerar indispensável o fim da violência na luta contra a pobreza. Qualquer conversação sobre a pobreza mundial que não inclua o problema da violência não pode ser levada a sério.
And secondly, we have to begin to seriously invest resources and share expertise to support the developing world as they fashion new, public systems of justice, not private security, that give everybody a chance to be safe. These transformations are actually possible and they're happening today. Recently, the Gates Foundation funded a project in the second largest city of the Philippines, where local advocates and local law enforcement were able to transform corrupt police and broken courts so drastically, that in just four short years, they were able to measurably reduce the commercial sexual violence against poor kids by 79 percent.
Segundo, temos que começar a investir recursos significativos e partilhar recursos e conhecimentos para apoiar o mundo em desenvolvimento, para criar um novo sistema de justiça pública — em vez de segurança privada — que dê a toda a gente a hipótese de ficar em segurança. Estas transformações são possíveis e estão a acontecer hoje. Recentemente, a Fundação Gates financiou um projeto na segunda maior cidade das Filipinas, onde os defensores locais e os serviços judiciários transformaram a polícia corrupta e os tribunais deficientes de modo tão drástico que, em apenas quatro anos, puderam reduzir significativamente o comércio de violência sexual contra crianças pobres, em 79%.
You know, from the hindsight of history, what's always most inexplicable and inexcusable are the simple failures of compassion. Because I think history convenes a tribunal of our grandchildren and they just ask us, "Grandma, Grandpa, where were you? Where were you, Grandpa, when the Jews were fleeing Nazi Germany and were being rejected from our shores? Where were you? And Grandma, where were you when they were marching our Japanese-American neighbors off to internment camps? And Grandpa, where were you when they were beating our African-American neighbors just because they were trying to register to vote?" Likewise, when our grandchildren ask us, "Grandma, Grandpa, where were you when two billion of the world's poorest were drowning in a lawless chaos of everyday violence?" I hope we can say that we had compassion, that we raised our voice, and as a generation, we were moved to make the violence stop.
Vendo a história em retrospetiva, o que é quase sempre inexplicável e indesculpável, é a simples falta de compaixão. Penso num tribunal convocado pelos nossos netos que nos perguntam: "Avó, Avô, onde é que vocês estavam? "Onde estavas, Avô, quando os judeus andavam a fugir da Alemanha nazi "e eram rejeitados nas nossas praias? "Onde é que vocês estavam? "Avó, onde é que tu estavas quando eles levaram "os nossos vizinhos nipo-americanos para campos de concentração? "Avô, onde é que tu estavas quando eles espancavam "os nossos vizinhos afro-americanos? "só porque eles queriam registar-se para votar?" Do mesmo modo, quando os nossos netos nos perguntarem: "Avó, Avô, onde é que vocês estavam "quando 2000 milhões das pessoas mais pobres do mundo "se afundavam num caos sem lei de violência diária?" Espero que possamos dizer que tivemos compaixão, que erguemos a nossa voz, e que a nossa geração agiu para fazer parar a violência.
Thank you very much.
Muito obrigado.
(Applause)
(Aplausos)
Chris Anderson: Really powerfully argued. Talk to us a bit about some of the things that have actually been happening to, for example, boost police training. How hard a process is that? GH: Well, one of the glorious things that's starting to happen now is that the collapse of these systems and the consequences are becoming obvious. There's actually, now, political will to do that. But it just requires now an investment of resources and transfer of expertise. There's a political will struggle that's going to take place as well, but those are winnable fights, because we've done some examples around the world at International Justice Mission that are very encouraging.
Chris Anderson: Argumentos poderosos! Fale-nos um pouco de algumas das coisas que têm ocorrido, por exemplo, para fomentar a formação policial. Esse processo é muito difícil? GH: Uma das coisas fantásticas que está agora a acontecer é o colapso destes sistemas e o aparecimento das suas consequências. Hoje, há vontade política para fazer isso. Mas é preciso um investimento em recursos e transferência de saber. Também há vontade política para lutar, e está a entrar em ação mas essas são lutas fáceis de ganhar. Já demos alguns exemplos em todo o mundo com a Missão Internacional de Justiça, que são muito encorajadores.
CA: So just tell us in one country, how much it costs to make a material difference to police, for example -- I know that's only one piece of it. GH: In Guatemala, for instance, we've started a project there with the local police and court system, prosecutors, to retrain them so that they can actually effectively bring these cases. And we've seen prosecutions against perpetrators of sexual violence increase by more than 1,000 percent. This project has been very modestly funded at about a million dollars a year, and the kind of bang you can get for your buck in terms of leveraging a criminal justice system that could function if it were properly trained and motivated and led, and these countries, especially a middle class that is seeing that there's really no future with this total instability and total privatization of security I think there's an opportunity, a window for change.
CA: Diga-nos quanto custa, num país, fazer uma diferença material, na polícia, por exemplo — sei que é apenas uma faceta do problema. GH: Por exemplo, começámos um projeto na Guatemala, com a polícia local, os tribunais, os promotores de justiça, para lhes dar formação para que eles possam gerir eficazmente os processos. Constatámos um aumento de mais de 1000% em processos contra os autores de violências sexuais. Este projeto teve um financiamento muito modesto: cerca de um milhão de dólares por ano. O retorno deste investimento é impressionante em termos de reforço de um sistema de justiça criminal que possa funcionar, quando há formação adequada, motivação e boa orientação. Nestes países, abre-se uma janela para a mudança, para novas oportunidades, em especial para uma classe média que não vê futuro nesta instabilidade total e com a privatização da segurança
CA: But to make this happen, you have to look at each part in the chain -- the police, who else? GH: So that's the thing about law enforcement, it starts out with the police, they're the front end of the pipeline of justice, but they hand if off to the prosecutors, and the prosecutors hand it off to the courts, and the survivors of violence have to be supported by social services all the way through that. So you have to do an approach that pulls that all together. In the past, there's been a little bit of training of the courts, but they get crappy evidence from the police, or a little police intervention that has to do with narcotics or terrorism but nothing to do with treating the common poor person with excellent law enforcement, so it's about pulling that all together, and you can actually have people in very poor communities experience law enforcement like us, which is imperfect in our own experience, for sure, but boy, is it a great thing to sense that you can call 911 and maybe someone will protect you.
CA: Mas, para que isso aconteça, temos que olhar para cada elo da cadeia. Para além da polícia, quem há mais? GH: A aplicação da lei começa com a polícia, que é o primeiro elo da cadeia da justiça. Eles passam o processo aos procuradores e os procuradores entregam-na aos tribunais. Os sobreviventes da violência têm que ser apoiados pelos serviços sociais durante todo esse percurso. É preciso fazer uma abordagem abrangente. No passado, houve alguma formação para os tribunais. Mas a polícia transmite-lhes processos mal organizados, ou alguma intervenção policial sobre drogas ou terrorismo sem qualquer referência à aplicação do direito a favor das populações desfavorecidas. Se influenciarmos o sistema no seu todo, essas pessoas muito pobres beneficiarão da aplicação do direito, como nós. Claro que é imperfeita, segundo a nossa experiência, mas é uma coisa ótima sabermos que podemos ligar para o 911 e talvez alguém nos venha proteger.
CA: Gary, I think you've done a spectacular job of bringing this to the world's attention in your book and right here today.
CA: Gary, você tem feito um trabalho espetacular a chamar a atenção do mundo para isto, graças ao seu livro e hoje aqui.
Thanks so much.
Muito obrigado.
Gary Haugen.
Gary Haugen.
(Applause)
(Aplausos)