I'm going to speak to you about the global refugee crisis and my aim is to show you that this crisis is manageable, not unsolvable, but also show you that this is as much about us and who we are as it is a trial of the refugees on the front line.
Eu vou falar-vos sobre a crise global de refugiados e o meu objetivo é mostrar-vos que esta crise é controlável, tem solução, mas também vos quero mostrar que isto é tanto sobre nós mesmos e sobre quem somos como é uma provação para os refugiados na linha da frente.
For me, this is not just a professional obligation, because I run an NGO supporting refugees and displaced people around the world. It's personal.
Para mim, isto não é apenas uma obrigação profissional porque administro uma ONG que apoia refugiados e deslocados em todo o mundo. É pessoal.
I love this picture. That really handsome guy on the right, that's not me. That's my dad, Ralph, in London, in 1940 with his father Samuel. They were Jewish refugees from Belgium. They fled the day the Nazis invaded. And I love this picture, too. It's a group of refugee children arriving in England in 1946 from Poland. And in the middle is my mother, Marion. She was sent to start a new life in a new country on her own at the age of 12. I know this: if Britain had not admitted refugees in the 1940s, I certainly would not be here today.
Eu adoro esta fotografia. Esse rapaz giro à direita, não sou eu. É o meu pai, Ralph, em Londres, em 1940, com o seu pai Samuel. Eram refugiados judeus vindos da Bélgica. Fugiram no dia da invasão nazi. E eu também adoro esta foto É um grupo de crianças refugiadas a chegar à Inglaterra em 1946 da Polónia. E no meio está a minha mãe, Marion. Ela foi enviada para começar uma nova vida num novo país, sozinha, com 12 anos. Eu sei uma coisa: se a Grã-Bretanha não tivesse acolhido refugiados nos anos 40, eu certamente não estaria aqui hoje.
Yet 70 years on, the wheel has come full circle. The sound is of walls being built, vengeful political rhetoric, humanitarian values and principles on fire in the very countries that 70 years ago said never again to statelessness and hopelessness for the victims of war. Last year, every minute, 24 more people were displaced from their homes by conflict, violence and persecution: another chemical weapon attack in Syria, the Taliban on the rampage in Afghanistan, girls driven from their school in northeast Nigeria by Boko Haram. These are not people moving to another country to get a better life. They're fleeing for their lives.
No entanto, 70 anos depois, a situação repete-se. O som é de muros a serem construídos, retórica política de vingança, valores e princípios humanitários em chamas nos mesmo países que há 70 anos disseram "nunca mais" à perda de nacionalidade e ao desespero das vítimas de guerra. No ano passado, a cada minuto, 24 pessoas eram deslocadas das suas casas por conflito, violência ou perseguição: outro ataque de armas químicas na Síria, os talibãs cada vez mais fortes no Afeganistão, raparigas expulsas da sua escola no nordeste da Nigéria pelo Boko Haram. Estas não são pessoas que vão para outro país para terem uma vida melhor. Elas fogem para salvarem a própria vida.
It's a real tragedy that the world's most famous refugee can't come to speak to you here today. Many of you will know this picture. It shows the lifeless body of five-year-old Alan Kurdi, a Syrian refugee who died in the Mediterranean in 2015. He died alongside 3,700 others trying to get to Europe. The next year, 2016, 5,000 people died. It's too late for them, but it's not too late for millions of others.
É uma autêntica tragédia que o refugiado mais famoso do mundo não possa vir falar aqui hoje. Muitos de vocês conhecem esta foto. Mostra o corpo sem vida de Alan Kurdi, de 5 anos, um refugiado sírio que morreu no mar mediterrâneo em 2015. Ele morreu ao lado de 3700 indivíduos que tentavam chegar à Europa. No ano seguinte, 2016, 5 mil pessoas morreram. Para eles, é demasiado tarde. Mas não é demasiado tarde para milhões de outros.
It's not too late for people like Frederick. I met him in the Nyarugusu refugee camp in Tanzania. He's from Burundi. He wanted to know where could he complete his studies. He'd done 11 years of schooling. He wanted a 12th year. He said to me, "I pray that my days do not end here in this refugee camp."
Não é demasiado tarde para o Frederick Eu conheci-o no campo de refugiados de Nyarugusu, na Tanzânia. Ele é de Burúndi. Queria saber onde é que podia acabar os estudos. Ele tinha 11 anos de escolaridade, queria o 12.º ano. Ele disse-me: "Eu rezo para que os meus dias não acabem aqui, "num campo de refugiados."
And it's not too late for Halud. Her parents were Palestinian refugees living in the Yarmouk refugee camp outside Damascus. She was born to refugee parents, and now she's a refugee herself in Lebanon. She's working for the International Rescue Committee to help other refugees, but she has no certainty at all about her future, where it is or what it holds.
E não é demasiado tarde para a Halud. Os pais dela eram refugiados palestinianos a viver no campo de refugiados de Jarmuque fora de Damasco Ela é filha de pais refugiados, e agora é ela mesma refugiada no Líbano. Ela trabalha para o Comité Internacional de Resgate para ajudar refugiados, mas ela não tem qualquer certeza quanto ao seu futuro, onde será ou o que lhe trará.
This talk is about Frederick, about Halud and about millions like them: why they're displaced, how they survive, what help they need and what our responsibilities are. I truly believe this, that the biggest question in the 21st century concerns our duty to strangers. The future "you" is about your duties to strangers. You know better than anyone, the world is more connected than ever before, yet the great danger is that we're consumed by our divisions. And there is no better test of that than how we treat refugees.
Esta palestra é sobre o Frederick, a Halud e sobre milhões de outros como eles: porque é que são deslocados, como é que sobrevivem, qual é a ajuda que precisam e quais são as nossas responsabilidades. Eu acredito verdadeiramente que a grande questão do século XXI é sobre o nosso dever para com estranhos. O futuro "tu" é sobre os teus deveres para com estranhos. Vocês sabem como ninguém que o mundo está mais ligado do que nunca, no entanto, o grande perigo é que sejamos consumidos pelas nossas divisões. E não há melhor teste do que a forma como tratamos os refugiados.
Here are the facts: 65 million people displaced from their homes by violence and persecution last year. If it was a country, that would be the 21st largest country in the world. Most of those people, about 40 million, stay within their own home country, but 25 million are refugees. That means they cross a border into a neighboring state. Most of them are living in poor countries, relatively poor or lower-middle-income countries, like Lebanon, where Halud is living. In Lebanon, one in four people is a refugee, a quarter of the whole population.
Estes são os factos: 65 milhões de pessoas deslocadas das suas casas devido a violência e perseguição em 2016. Se fosse um país, seria o 21.º maior país do mundo. A maioria dessas pessoas, cerca de 40 milhões, ficam no seu país de origem, mas 25 milhões são refugiados. Isso significa que atravessam a fronteira para um estado vizinho. A maioria está a viver em países pobres, relativamente pobres ou de rendimento médio-baixo, como o Líbano, onde a Halud vive. No Líbano, uma em cada quatro pessoas é um refugiado, um quarto do total da população.
And refugees stay for a long time. The average length of displacement is 10 years. I went to what was the world's largest refugee camp, in eastern Kenya. It's called Dadaab. It was built in 1991-92 as a "temporary camp" for Somalis fleeing the civil war. I met Silo. And naïvely I said to Silo, "Do you think you'll ever go home to Somalia?" And she said, "What do you mean, go home? I was born here." And then when I asked the camp management how many of the 330,000 people in that camp were born there, they gave me the answer: 100,000. That's what long-term displacement means.
E os refugiados ficam durante muito tempo. A média de tempo de deslocação é de 10 anos. Eu fui ao que era então o maior campo de refugiados do mundo, no Quénia Oriental Chama-se Dadaab. Foi construído em 1991/1992 como um "campo temporário" para os somali fugirem da guerra civil. Conheci a Silo. E ingenuamente perguntei à Silo: "Achas que vais voltar para casa, na Somália?" E ela respondeu: "Voltar para casa? "Eu nasci aqui." E quando perguntei à administração do campo quantas das 330 mil pessoas daquele campo nasceram lá, Eles deram-me a resposta: 100 mil. Isto é o que significa "deslocação de longo prazo".
Now, the causes of this are deep: weak states that can't support their own people, an international political system weaker than at any time since 1945 and differences over theology, governance, engagement with the outside world in significant parts of the Muslim world. Now, those are long-term, generational challenges. That's why I say that this refugee crisis is a trend and not a blip. And it's complex, and when you have big, large, long-term, complex problems, people think nothing can be done.
Agora, as causas disto são profundas: estados enfraquecidos que não conseguem apoiar os seus povos, um sistema político internacional mais fraco do que nunca desde 1945, e diferenças em relação à teologia, governação e ligação com o mundo exterior em partes importantes do mundo muçulmano. Agora, estes são desafios a longo prazo, de gerações. Daí dizer que a crise dos refugiados é a tendência e não um episódio singular. E é complexo e quando temos problemas grandes, a longo prazo, e complexos, as pessoas pensam que "não há nada a fazer".
When Pope Francis went to Lampedusa, off the coast of Italy, in 2014, he accused all of us and the global population of what he called "the globalization of indifference." It's a haunting phrase. It means that our hearts have turned to stone. Now, I don't know, you tell me. Are you allowed to argue with the Pope, even at a TED conference? But I think it's not right. I think people do want to make a difference, but they just don't know whether there are any solutions to this crisis. And what I want to tell you today is that though the problems are real, the solutions are real, too.
Quando o papa Francisco foi a Lampedusa, na costa de Itália, em 2014, ele acusou-nos a todos, e à população mundial do que ele chamou de "globalização da indiferença." É uma frase assombrosa. Significa que os nossos corações se transformaram em pedra. Agora, não sei, digam-me. É permitido discordar do papa, mesmo numa conferência TED? Mas eu não concordo. Acho que as pessoas querem fazer a diferença, Mas não sabem se há alguma solução para esta crise. O que eu vos quero dizer hoje é que apesar dos problemas serem reais, as soluções também o são.
Solution one: these refugees need to get into work in the countries where they're living, and the countries where they're living need massive economic support. In Uganda in 2014, they did a study: 80 percent of refugees in the capital city Kampala needed no humanitarian aid because they were working. They were supported into work.
Solução um: Estes refugiados precisam de trabalho nos países onde estão a viver, e os países onde estão a viver precisam de grande apoio económico. No Uganda em 2014, fizeram um estudo: 80% dos refugiados na capital Kampala não precisavam de apoio humanitário porque tinham trabalho. Eram apoiados pelo trabalho.
Solution number two: education for kids is a lifeline, not a luxury, when you're displaced for so long. Kids can bounce back when they're given the proper social, emotional support alongside literacy and numeracy. I've seen it for myself. But half of the world's refugee children of primary school age get no education at all, and three-quarters of secondary school age get no education at all. That's crazy.
Solução número dois: A educação para as crianças é um salva-vidas, não um luxo, quando deslocadas há muito tempo. As crianças podem recuperar quando lhes é dado o apoio social e emocional adequado, acompanhado das várias literacias. Já o vi com os meus olhos. Mas metade das crianças refugiadas do mundo com 5 a 11 anos não recebem nenhuma educação, e três quartos das crianças com 11 a 18 anos também não recebem educação. É uma loucura.
Solution number three: most refugees are in urban areas, in cities, not in camps. What would you or I want if we were a refugee in a city? We would want money to pay rent or buy clothes. That is the future of the humanitarian system, or a significant part of it: give people cash so that you boost the power of refugees and you'll help the local economy.
Solução número três: A maioria dos refugiados estão em áreas urbanas em cidades, não em campos. O que iria querer um refugiado numa cidade? Iria querer dinheiro para pagar a renda ou comprar roupa. Esse é o futuro do sistema humanitário, ou uma parte importante dele. Dar dinheiro para impulsionar o poder dos refugiados. e ajudar a economia local.
And there's a fourth solution, too, that's controversial but needs to be talked about. The most vulnerable refugees need to be given a new start and a new life in a new country, including in the West. The numbers are relatively small, hundreds of thousands, not millions, but the symbolism is huge. Now is not the time to be banning refugees, as the Trump administration proposes. It's a time to be embracing people who are victims of terror. And remember --
E há uma quarta solução, também, que é controversa mas temos de falar sobre ela. É preciso dar um novo começo aos refugiados mais vulneráveis e uma nova vida num novo país, incluindo no ocidente. Os números são relativamente pequenos, centenas ou milhares, não milhões, mas o simbolismo é enorme. Agora não é altura para banir refugiados. como a administração de Trump propõe. É altura de abraçar as pessoas que são vítimas de terror. E lembrem-se...
(Applause)
(Aplausos)
Remember, anyone who asks you, "Are they properly vetted?" that's a really sensible and good question to ask. The truth is, refugees arriving for resettlement are more vetted than any other population arriving in our countries. So while it's reasonable to ask the question, it's not reasonable to say that refugee is another word for terrorist.
E lembrem-se, se alguém vos perguntar: "Eles são adequadamente controlados?" — essa é uma boa questão, e bastante pertinente. A verdade é que os refugiados que chegam para reinstalação são mais controlados que qualquer outra população nos nossos países. Logo, apesar de ser uma questão pertinente, não é aceitável dizer que "refugiado" é outra palavra para terrorista.
Now, what happens --
Agora, o que acontece...
(Applause)
(Aplausos)
What happens when refugees can't get work, they can't get their kids into school, they can't get cash, they can't get a legal route to hope? What happens is they take risky journeys. I went to Lesbos, this beautiful Greek island, two years ago. It's a home to 90,000 people. In one year, 500,000 refugees went across the island. And I want to show you what I saw when I drove across to the north of the island: a pile of life jackets of those who had made it to shore. And when I looked closer, there were small life jackets for children, yellow ones. And I took this picture. You probably can't see the writing, but I want to read it for you. "Warning: will not protect against drowning." So in the 21st century, children are being given life jackets to reach safety in Europe even though those jackets will not save their lives if they fall out of the boat that is taking them there.
O que acontece quando os refugiados não conseguem arranjar trabalho não conseguem pôr os filhos na escola, não têm dinheiro, não podem ter uma via legal para a esperança? Acabam por tomar caminhos arriscados. Eu fui a Lesbos, esta linda ilha grega, há dois anos. É a casa de 90 mil pessoas. Num ano, 500 mil refugiados atravessaram a ilha. E quero mostrar-vos o que vi quando atravessei o norte da ilha: Um monte de coletes salva-vidas dos que conseguiram chegar à costa E quando olhei mais de perto, havia pequenos coletes salva-vidas para as crianças, amarelos. E eu tirei esta fotografia. Provavelmente não conseguem ver o que está escrito mas eu leio "Aviso: não protege contra o afogamento." Portanto, em pleno século XXI, são dadas às crianças coletes salva-vidas para chegar a salvo à Europa apesar desses coletes não salvarem as suas vidas se caírem do barco que as leva.
This is not just a crisis, it's a test. It's a test that civilizations have faced down the ages. It's a test of our humanity. It's a test of us in the Western world of who we are and what we stand for. It's a test of our character, not just our policies. And refugees are a hard case. They do come from faraway parts of the world. They have been through trauma. They're often of a different religion. Those are precisely the reasons we should be helping refugees, not a reason not to help them. And it's a reason to help them because of what it says about us. It's revealing of our values. Empathy and altruism are two of the foundations of civilization. Turn that empathy and altruism into action and we live out a basic moral credo.
Isto não é apenas uma crise, é um teste. É um teste que as civilizações defrontam ao longo dos tempos. É um teste à nossa humanidade. É um teste para nós no mundo ocidental de quem somos e do que defendemos. É um teste ao nosso carácter, não apenas às nossas políticas. E os refugiados são um caso difícil. E eles vêm de partes distantes do mundo. Passaram por traumas. São, muitas vezes, duma religião diferente. E essas são precisamente as razões pelas quais os devemos ajudar, não para não o fazermos. E é uma razão para os ajudarmos porque diz muito sobre nós mesmos. Revela os nossos valores. A empatia e o altruísmo são dois dos alicerces da civilização. Transformem a empatia e altruísmo em ação e viveremos num credo moral básico.
And in the modern world, we have no excuse. We can't say we don't know what's happening in Juba, South Sudan, or Aleppo, Syria. It's there, in our smartphone in our hand. Ignorance is no excuse at all. Fail to help, and we show we have no moral compass at all.
E no mundo de hoje, não temos desculpa. Não podemos dizer que não sabemos o que acontece em Juba, no sul do Sudão, ou em Alepo, Síria. Está aqui, no nosso Smartphone, na nossa mão. A ignorância não é uma desculpa, de todo. Se falharmos em ajudar, mostramos que não temos qualquer tipo de bússola moral.
It's also revealing about whether we know our own history. The reason that refugees have rights around the world is because of extraordinary Western leadership by statesmen and women after the Second World War that became universal rights. Trash the protections of refugees, and we trash our own history. This is --
Também revela se sabemos a nossa própria história. A razão pela qual os refugiados têm direitos no mundo, é graças à extraordinária liderança ocidental dos estadistas depois da Segunda Guerra Mundial, que os tornaram direitos universais. Criticar a proteção dos refugiados é criticar a nossa própria História. Isto também...
(Applause)
(Aplausos)
This is also revealing about the power of democracy as a refuge from dictatorship. How many politicians have you heard say, "We believe in the power of our example, not the example of our power." What they mean is what we stand for is more important than the bombs we drop. Refugees seeking sanctuary have seen the West as a source of hope and a place of haven. Russians, Iranians, Chinese, Eritreans, Cubans, they've come to the West for safety. We throw that away at our peril.
Isto também revela o poder da democracia como refúgio da ditadura. Quantos políticos ouviram dizer, "Acreditamos no poder do nosso exemplo, não no exemplo do nosso poder." Isto quer dizer: o que apoiamos tem mais valor do que as bombas que lançamos. Os refugiados que procuram um refúgio viram o ocidente como uma fonte de esperança e um porto de abrigo. Russos, iranianos, chineses, eritreus, cubanos, vieram para o ocidente à procura de segurança. Colocamo-nos em perigo ao descartarmos isso.
And there's one other thing it reveals about us: whether we have any humility for our own mistakes. I'm not one of these people who believes that all the problems in the world are caused by the West. They're not. But when we make mistakes, we should recognize it. It's not an accident that the country which has taken more refugees than any other, the United States, has taken more refugees from Vietnam than any other country. It speaks to the history. But there's more recent history, in Iraq and Afghanistan. You can't make up for foreign policy errors by humanitarian action, but when you break something, you have a duty to try to help repair it, and that's our duty now.
E há mais uma coisa que revela sobre nós: Se temos alguma humildade para com os nossos erros. Não sou uma daquelas pessoas que acredita que todos os problemas do mundo são causados pelo ocidente. Não são. Mas quando erramos, devíamos reconhecê-lo. Não é por acaso que o país que acolheu mais refugiados do que qualquer outro, os EUA, acolheu mais refugiados do Vietname do que qualquer outro país. Tem em conta a História. Mas há História mais recente, no Iraque e Afeganistão. Não podemos compensar os erros da política externa com ação humanitária, mas quando estragamos alguma coisa, temos o dever de tentar repará-la, e esse é o nosso dever, agora.
Do you remember at the beginning of the talk, I said I wanted to explain that the refugee crisis was manageable, not insoluble? That's true. I want you to think in a new way, but I also want you to do things. If you're an employer, hire refugees. If you're persuaded by the arguments, take on the myths when family or friends or workmates repeat them. If you've got money, give it to charities that make a difference for refugees around the world. If you're a citizen, vote for politicians who will put into practice the solutions that I've talked about.
Lembram-se quando, no início desta palestra, disse que queria explicar que esta crise era controlável, tinha solução? Isso é verdade. Quero que pensem de uma nova maneira, mas também quero que façam coisas. Se forem empregadores, contratem refugiados. Se foram persuadidos com estes argumentos, desmistifiquem os mitos quando a família, amigos ou colegas os repetirem. Se têm dinheiro, doem-no a instituições de caridade que apoiem refugiados em todo o mundo. Se forem cidadãos, votem em políticos que ponham em prática as soluções que falámos há pouco.
(Applause)
(Aplausos)
The duty to strangers shows itself in small ways and big, prosaic and heroic. In 1942, my aunt and my grandmother were living in Brussels under German occupation. They received a summons from the Nazi authorities to go to Brussels Railway Station. My grandmother immediately thought something was amiss. She pleaded with her relatives not to go to Brussels Railway Station. Her relatives said to her, "If we don't go, if we don't do what we're told, then we're going to be in trouble." You can guess what happened to the relatives who went to Brussels Railway Station. They were never seen again. But my grandmother and my aunt, they went to a small village south of Brussels where they'd been on holiday in the decade before, and they presented themselves at the house of the local farmer, a Catholic farmer called Monsieur Maurice, and they asked him to take them in. And he did, and by the end of the war, 17 Jews, I was told, were living in that village.
O dever para com os estranhos demonstra-se de pequenas e grandes maneiras, prosaicas e heróicas. Em 1942, a minha tia e a minha avó viviam em Bruxelas durante a ocupação alemã. Elas receberam uma convocação das autoridades nazis para ir à estação de comboios de Bruxelas. A minha avó pensou imediatamente que alguma coisa estava mal. Ela implorou aos seus familiares para não irem à estação de comboios. Os familiares disseram-lhe: "Se não formos, se não fizermos o que nos dizem, "vamos ficar em sarilhos." Podem adivinhar o que aconteceu aos familiares que foram à estação. Nunca mais foram vistos. Mas a minha avó e a minha tia, foram a uma pequena vila no sul de Bruxelas onde já tinham passado férias, na década anterior, e foram à casa do agricultor da região, um católico chamado Monsieur Maurice, e pediram-lhe para ele as acolher. E ele fê-lo, e no final da guerra, segundo me disseram, 17 judeus estavam a viver naquela vila.
And when I was teenager, I asked my aunt, "Can you take me to meet Monsieur Maurice?" And she said, "Yeah, I can. He's still alive. Let's go and see him." And so, it must have been '83, '84, we went to see him. And I suppose, like only a teenager could, when I met him, he was this white-haired gentleman, I said to him, "Why did you do it? Why did you take that risk?" And he looked at me and he shrugged, and he said, in French, "On doit." "One must." It was innate in him. It was natural. And my point to you is it should be natural and innate in us, too. Tell yourself, this refugee crisis is manageable, not unsolvable, and each one of us has a personal responsibility to help make it so. Because this is about the rescue of us and our values as well as the rescue of refugees and their lives.
Quando era jovem, perguntei à minha tia: "Podes-me apresentar o Monsieur Maurice?" Ela respondeu: "Sim, posso. Ele ainda está vivo. Vamos vê-lo." E então, deve ter sido em 1983 ou 84, fomos vê-lo. E pressuponho, como apenas um adolescente poderia fazer, quando o conheci — ele era este senhor de cabelos brancos — perguntei-lhe: "Porque é que o fez? "Porque é que correu esse risco?" E ele olhou-me e encolheu os ombros, e disse, em francês: "On doit." "É um dever." Era inato nele. Era tão natural. E a minha ideia é que isto devia de ser inato em nós, também. Digam a vocês mesmos, a crise dos refugiados é controlável, tem solução, e cada um de nós, tem uma responsabilidade individual para ajudar a que assim seja. Porque isto é sobre nós mesmos e os nossos valores tal como é sobre os refugiados e as suas vidas.
Thank you very much indeed.
Muito obrigado.
(Applause)
(Aplausos)
Bruno Giussani: David, thank you. David Miliband: Thank you.
Bruno Giussani: David, obrigado. David Miliband: Obrigado eu.
BG: Those are strong suggestions and your call for individual responsibility is very strong as well, but I'm troubled by one thought, and it's this: you mentioned, and these are your words, "extraordinary Western leadership" which led 60-something years ago to the whole discussion about human rights, to the conventions on refugees, etc. etc. That leadership happened after a big trauma and happened in a consensual political space, and now we are in a divisive political space. Actually, refugees have become one of the divisive issues. So where will leadership come from today?
BG: Estas são sugestões fortes e o seu apelo à responsabilidade individual também, mas há um pensamento que me preocupa. Mencionou, e estas são palavras suas, "a liderança ocidental extraordinária" que conduziu há 60 e tal anos àquela discussão toda sobre direitos humanos, às convenções sobre os refugiados, etc, etc. Essa liderança aconteceu depois do grande trauma e aconteceu num espaço político consensual e agora estamos num espaço político polémico e dividido. Os refugiados tornaram-se numa das questões polémicas. Então, de onde virá a liderança agora?
DM: Well, I think that you're right to say that the leadership forged in war has a different temper and a different tempo and a different outlook than leadership forged in peace. And so my answer would be the leadership has got to come from below, not from above. I mean, a recurring theme of the conference this week has been about the democratization of power. And we've got to preserve our own democracies, but we've got to also activate our own democracies. And when people say to me, "There's a backlash against refugees," what I say to them is, "No, there's a polarization, and at the moment, those who are fearful are making more noise than those who are proud." And so my answer to your question is that we will sponsor and encourage and give confidence to leadership when we mobilize ourselves. And I think that when you are in a position of looking for leadership, you have to look inside and mobilize in your own community to try to create conditions for a different kind of settlement.
DM: Bem, penso que está certo quando diz que a liderança forjada durante a guerra tem um temperamento e um ritmo diferente e uma perspetiva diferente de liderança forjada durante a paz. E por isso, a minha resposta seria: a liderança tem de vir de baixo, não do topo. Ou seja, um tema recorrente da conferência desta semana tem sido a democratização do poder. E temos de preservar as nossas democracias, mas também temos de ativar as nossas democracias. E quando as pessoas me dizem: "Há revolta contra os refugiados," o que lhes quero dizer é: "Não, há polarização, "e neste momento, "os que temem, fazem mais alarido do que os que estão orgulhosos." E por isso, a minha resposta à sua questão, é que vamos apoiar e encorajar e dar confiança à liderança quando nos mobilizarmos. E penso que quando se está em busca de uma liderança, temos de olhar para dentro e mobilizar a nossa comunidade para criar condições para um tipo diferente de instalação.
BG: Thank you, David. Thanks for coming to TED.
BG: Obrigado, David. Obrigado por ter vindo à TED.
(Applause)
(Aplausos)