The longest journey that I have ever taken. That was in 2002. I was only 19 years old. It was the first time I had ever been on an airplane and the first time that I had left my country, Rwanda.
A viajem mais longa que eu já fiz foi em 2002. Eu tinha apenas 19 anos. Foi a primeira vez que andei de avião e a primeira vez que saí do meu país, o Ruanda.
I had to move thousands of kilometers away to follow a dream. A dream I have had ever since I was a child. And that dream was to become an architect. That was impossible at the time in my country. There were no schools of architecture. So when I got a scholarship to study in China, I left my life and my family behind and I moved to Shanghai.
Tive que me mudar para mil quilómetros de distância para seguir um sonho. Um sonho que tinha desde criança. Esse sonho era ser arquitecto. Na altura, isso era impossível, no meu país. Não havia escolas de arquitectura. Então, quando ganhei uma bolsa para estudar na China, deixei a minha vida e a minha família para trás e mudei-me para Xangai.
It was an amazing time. This country was going through a major building boom. Shanghai, my new home, was quickly turning into a skyscraper city. China was changing. World-class projects were built to convey a new image of development. Modern, striking engineering marvels were going up literally everywhere. But behind these facades, exploitation of huge numbers of migrant workers, massive displacement of thousands of people made these projects possible. And this fast-paced development also contributed significantly to the pollution that is haunting China today.
Foi uma época incrível. Este país estava a passar por um grande crescimento de construção. Xangai, o meu novo lar, estava a transformar-se rapidamente numa cidade de arranha-céus. A China estava a mudar. Faziam-se projectos de classe mundial para transmitir uma imagem de desenvolvimento. Havia maravilhas modernas e notáveis de engenharia em toda a parte. Mas, por detrás dessas fachadas, só a exploração de um grande número de trabalhadores imigrantes e a deslocação maciça de milhares de pessoas tornavam possível esse trabalho. Esse desenvolvimento a passo rápido também contribuía significativamente para a poluição que assombra a China hoje em dia.
Fast-forward to 2010, when I went back home to Rwanda. There, I found development patterns similar to what I saw in China. The country was and still is experiencing its own population and economic growth. The pressure to build cities, infrastructure and buildings is at its peak, and as a result, there is a massive building boom as well.
Avançando para 2010, quando retornei ao Ruanda encontrei padrões de desenvolvimento iguais aos que vira na China. O país estava, e ainda está a experimentar um crescimento económico e populacional. A pressão para construir cidades, infraestruturas e edifícios está no auge. Como resultado, também há um crescimento maciço de construções.
This is the reality across the entire continent of Africa, and here's why. By 2050, Africa's population will double, reaching 2.5 billion people. At this point, the African population will be slightly less than the current population of China and India combined. The infrastructure and buildings needed to accommodate this many people is unprecedented in the history of humankind. We have estimated that by 2050, we have to build 700,000,000 more housing units, more than 300,000 schools and nearly 100,000 health centers.
Esta é a realidade em todo o continente africano, e aqui está o porquê. Em 2050, a população de África duplicará, chegando a 2500 milhões de pessoas. Nessa altura, a população africana será ligeiramente inferior à população actual da China e da Índia combinadas. As infraestruturas e construções necessárias para acomodar essas pessoas não têm precedente na história da humanidade. Nós estimamos que em 2050, temos que construir mais 700 milhões de unidades de alojamento, mais de 300 mil escolas e perto de 100 mil centros de saúde.
Let me put that into perspective for you. Every day for the next 35 years, we have to build seven health centers, 25 schools and nearly 60,000 housing units each day, every day.
Vou colocar isso em perspectiva. Todos os dias, nos próximos 35 anos, temos de construir 7 centros de saúde, 25 escolas e quase 60 mil unidades de alojamento por dia, todos os dias.
How are we going to build all of this? Are we going to follow a model of unsustainable building and construction similar to what I witnessed in China? Or can we develop a uniquely African model of sustainable and equitable development? I'm optimistic we can. I know Africans who are already doing it. Take Nigerian architect Kunlé Adeyemi for instance, and his work in slums of coastal megacities. Places like Makoko in Lagos, where hundreds of thousands of people live in makeshift structures on stilts on water, without government infrastructure or services. A community at great risk of rising sea levels and climate change. And yet, people who live here are examples of great ingenuity and the will to survive. Kunlé and his team have designed a prototype school that is resilient to rising sea levels. This is Makoko School. It's a floating prototype structure that can be adapted to clinics, to housing, to markets and other vital infrastructure this community needs. It's an ingenious solution that can ensure this community lives safely on the waters of Lagos.
Como é que vamos construir tudo isso? Vamos seguir um modelo insustentável de construção e de edifícios similar ao que testemunhei na China? Ou podemos desenvolver um modelo exclusivamente africano de desenvolvimento sustentável e equitativo? Estou optimista de que podemos. Conheço africanos que já estão a fazê-lo. Vejam o arquitecto nigeriano Kunlé Adeyemi, por exemplo, e o seu trabalho nos bairros de lata das megacidades costeiras. Lugares como Makoko em Lagos, onde milhares de pessoas vivem em estruturas improvisadas em palafitas sobre a água, sem infraestruturas nem serviços públicos. Uma comunidade em grande risco da subida do nível do mar e da alteração climática. Mesmo assim, as pessoas que ali vivem são exemplos de grande engenho e vontade de sobreviver. Kunlé e a sua equipa projectaram um protótipo de escola que é resistente à subida do nível do mar. Esta é a Escola Makoko. É uma estrutura protótipo flutuante que pode ser adaptada para clínicas, para habitações, para mercados e outras infraestruturas vitais de que esta comunidade precisa. É uma solução engenhosa que pode garantir a segurança da vida desta comunidade nas águas de Lagos.
This is Francis Kéré. He works in the country where he comes from, Burkina Faso. Kéré and his team have designed projects that use traditional building techniques. Kéré and his team working in the communities have developed prototype schools that the whole community, similar to every project in the villages of this country, comes together to build. Children bring stones for the foundation, women bring water for the brick manufacturing, and everybody works together to pound the clay floors. Working with the community, Kéré and his team have created projects that function better, with adequate lighting and adequate ventilation. They're appropriate for this particular context and really, really beautiful as well.
Este é Francis Kéré. Ele trabalha no seu país de origem, Burkina Faso. Kéré e a sua equipa têm desenhado projectos que usam técnicas de construção tradicionais. Kéré e a sua equipa trabalhando nas comunidades desenvolveram protótipos de escolas em que toda a comunidade — tal como em todos os projetos nas aldeias deste país — se reúne para construir. As crianças trazem pedras para os alicerces, as mulheres trazem água para o fabrico de tijolos, e todos trabalham juntos para bater o chão de barro. Trabalhando com a comunidade Kéré e a sua equipa criaram projectos que funcionam melhor, com iluminação adequada e ventilação adequada, projetos apropriados para este contexto em particular e também muito bonitos.
For the past seven years, I have been working as an architect at MASS Design Group. It's a design firm that began in Rwanda. We have worked in several countries in Africa, focusing on this more equitable and sustainable model of architectural practice, and Malawi is one of those countries. It's a country with beautiful, remote landscapes with high-peak mountains and fertile valleys. But it also has one of the worst maternal mortality rates in the world. A pregnant woman in Malawi either gives birth at home, or she has to walk a really long journey to the nearest clinic. And one out of 36 of these mothers dies during childbirth.
Nos últimos 7 anos, tenho trabalhado como arquitecto na MASS Design Group. É uma firma de "design" que começou em Ruanda. Nós trabalhamos em vários países em África, focando-nos neste modelo mais equitativo e sustentável de prática arquitectónica. Maláui é um desses países. É um país com paisagens lindas e remotas com montanhas de pico alto e vales férteis. Mas também tem uma das piores taxas de mortalidade materna no mundo. Uma mulher grávida em Maláui ou dá à luz em casa ou tem de fazer uma viagem muito longa até à clínica mais próxima. Uma entre 36 destas mães morre durante o parto.
In Malawi, with our team at MASS Design Group, we designed the Kasungu Maternity Waiting Village. This is a place women come to six weeks before their due dates. Here they receive prenatal care and train in nutrition and family planning. At the same time, they form a community with other expectant mothers and their families. The design of the of Kasungu Maternity Waiting Village borrows from the vernacular typologies of Malawi villages and is built using really simple materials and techniques. The earth blocks that we used were made from the same soil of this site. This reduces the carbon footprint of this building, but first and foremost, it provides a safe and dignified space for these expectant mothers.
Em Maláui, com a nossa equipa em MASS Design Group, criámos a Maternidade de Espera da Aldeia Kasungo. É um lugar onde as mulheres vêm 6 semanas antes da data do parto. Aqui elas recebem cuidados pré-natais e formação em nutrição e planeamento familiar. Ao mesmo tempo, formam uma comunidade com outras futuras mães e as suas famílias. O projecto da Maternidade de Espera da Aldeia Kasungo imita as tipologias vernáculas das aldeias de Maláui e é construído com materiais e técnicas muito simples. Os blocos de terra que usámos foram feitos a partir do solo do local. Isso reduz a pegada de carbono do edifício, mas principalmente, fornece um espaço seguro e digno para essas futuras mães.
These examples show that architecture and design have the power and the agency to address complex problems. But more to point, that we can develop a model of effective solutions for our communities. But these three examples are not enough. 300 more examples will not be enough. We need a whole community of African architects and designers to lead with thousands more examples.
Estes exemplos mostram que arquitectura e "design" têm o poder e a capacidade de abordar problemas complexos. Mas, mais a propósito, podemos desenvolver um modelo de soluções eficazes para as nossas comunidades. Mas estes exemplos não são suficientes. Mais 300 exemplos não serão suficientes. Precisamos de uma comunidade inteira de arquitectos e projectistas africanos para continuar com mais milhares de exemplos.
In May of this year, we convened a symposium on African architecture, in Kigali, and we invited many of the leading African designers and architectural educators working across the continent. We all had one thing in common. Every single one of us went to school abroad and outside of Africa. This has to change. If we are to develop solutions unique to us, rather than attempting to turn Kigali into Beijing, or Lagos into Shenzhen, we need a community that will build the design confidence of the next generation of African architects and designers.
Em Maio deste ano, convocámos um simpósio sobre arquitectura africana em Quigali, e convidámos muitos dos principais projectistas líderes africanos e professores de arquitectura que trabalham em todo continente. Todos tínhamos uma coisa em comum. Cada um de nós estudou no estrangeiro e fora de África. Isto tem de mudar. Se queremos desenvolver soluções únicas para nós, em vez de tentar transformar Quigali em Beijing, ou Lagos em Shenzhen, precisamos de uma comunidade que irá construir o "design" de confiança da próxima geração de arquitectos e projectistas africanos.
(Applause)
(Aplausos)
In September last year, we launched the African Design Centre to start building this community. We admitted 11 fellows from across the continent. It's a 20-month-long, design-build fellowship program. Here, they are learning to tackle big challenges such as urbanism and climate change, as Kunlé and his team have. They're working with communities to develop innovative building solutions and processes, as Kéré and his team have. They're learning to understand the health impact of better buildings as we at MASS Design Group have been researching for the past several years. The crowning moment of the fellowship is a real project that they designed and built.
Em Setembro do ano passado, lançámos o Centro Africano de "Design" para começar a construir essa comunidade. Admitimos 11 associados de todo o continente. É um programa de bolsas de "design" de 20 meses. Aqui, eles estão a aprender a lidar com grandes desafios tais como urbanismo e alteração climática, como o Kunlé e a sua equipa têm feito. Estão a trabalhar com comunidades para desenvolver soluções e processos de construção inovadores, como o Kéré e a sua equipa têm feito. Estão a aprender a entender o impacto para a saúde de melhores construções como nós, no MASS Design Group, temos investigado nos últimos anos. O momento glorioso destas bolsas é um projecto real que eles planeiam e constroem.
This is Ruhehe Primary School, the project they designed. They immersed themselves in the community to understand the challenges but also uncover opportunities, like using a wall made of local volcanic stone to turn the entire campus into a space of play and active learning. They evaluated the environmental conditions and developed a roof system that maximizes daylight and improves acoustic performance. The construction at Ruhehe Primary School will begin this year.
Esta é a Escola Primária Ruhehe, o projecto que conceberam. Inseriram-se na comunidade para entender os problemas mas também para descobrirem oportunidades, como usar uma parede feita de pedra vulcânica local transformar o campus inteiro num espaço de jogos e aprendizagem. Avaliaram as condições ambientais e desenvolveram um sistema de telhado que maximiza a luz do dia e melhora o desempenho acústico. As construções na Escola Primária de Ruhehe começarão este ano.
(Applause)
(Aplausos)
And over the coming months, the African Design Centre fellows are going to work hand-in-hand with the Ruhehe community to build it.
Nos próximos meses, os bolseiros do Centro Africano de "Design" irão trabalhar de mãos dadas com a comunidade de Ruhehe para construí-la.
When we asked the fellows what they want to do after their African Design Centre fellowship, Tshepo from South Africa said he wants to introduce this new way of building into his country, so he plans to open a private practice in Johannesburg. Zani wants to expand opportunities for women to become engineers. Before joining the African Design Centre, she helped start, in Nairobi, an organization to bridge the gender gaps for women in engineering fields, and she hopes to take this movement across Africa, eventually the whole world. Moses, from South Sudan, the world's newest country, wants to open the first polytechnic school that will teach people how to build using local materials from his country. Moses had to be determined to become an architect. The civil war in his country frequently interrupted his architectural education. At the time he was applying to join the African Design Centre, we could hear gunshots going off in the background of his interview call. But even in the middle of this civil war, Moses hangs on to this idea that architecture can be a way to bridge communities back together. You have to be inspired by this fellow's belief that great architecture can make a difference on how the future of Africa is built.
Quando perguntámos aos bolseiros o que queriam fazer depois do seu programa no Centro, Tshepo da África do Sul disse que quer iniciar esta nova forma de construção no seu país, por isso, planeia abrir uma clínica privada em Joanesburgo. Zani quer expandir oportunidades para as mulheres se tornarem engenheiras. Antes de juntar-se ao Centro, ela ajudou a iniciar, em Nairobi, uma organização para preencher as lacunas para as mulheres em campos de engenharia, e espera levar esse movimento para toda a África, eventualmente, para o mundo inteiro. Moses, do Sudão do Sul, o país mais novo do mundo, quer abrir a primeira escola politécnica que irá ensinar as pessoas como construir usando materiais locais do seu país. Moses teve de ser determinado para se tornar um arquitecto. A guerra civil no seu país interrompeu frequentemente a sua formação de arquitectura. Na altura em que se candidatou para o Centro de Design Africano, nós podíamos ouvir o tiroteio como ruído de fundo da chamada de entrevista. Mas mesmo no meio desta guerra civil, Moses persegue esta ideia de que a arquitectura pode ser o caminho para voltar a reunir comunidades. Vocês têm de inspirar-se na fé destes bolseiros que arquitecturas distintas podem fazer a diferença em como se constrói o futuro de África.
The unprecedented growth of Africa cannot be ignored. Imagine Africa's future cities, but not as vast slums, but the most resilient and the most socially inclusive places on earth. This is achievable. And we have the talent to make it a reality. But the journey to ready that talent for the task ahead, like my own journey, is far too long. For the next generation of African creative leaders, we have to shorten and streamline that journey. But most importantly -- and I cannot stress this enough -- we have to build their design confidence and empower them to develop solutions that are truly African but globally inspiring.
Não se pode ignorar o crescimento sem precedentes de África. Imaginem as futuras cidades de África, não como favelas grandes, mas como os locais mais resistentes e mais socialmente inclusivos na terra. Isto é alcançável. Nós temos o talento para tornar isso uma realidade. Mas a viajem para preparar esse talento para a tarefa à nossa frente, tal como a minha própria jornada, é demasiado longa. Para a próxima geração de líderes africanos criativos, temos de reduzir e simplificar essa viajem. Mas, mais importante — nunca me canso de sublinhar — temos de construir o seu "design" de confiança e habilitá-los para desenvolver soluções que sejam verdadeiramente africanas mas inspiradas globalmente.
Thank you very much.
Muito obrigado.
(Applause)
(Aplausos)