I'm Chetan Bhatt and when I give my name, I'm often asked, "Where are you from?" And I normally say London.
Sou Chetan Bhatt e, quando digo meu nome, sempre perguntam: "De onde você é?" Normalmente falo: "Londres".
(Laughter)
(Risos)
But of course, I know what they're really asking, so I say something like, "Well, my grandparents and my mum were born in India, my dad and I were born in Kenya, and I was brought up in London. And then they've got me mapped. "Ah, you're a Kenyan Asian. I've worked with one of those."
Mas, é claro, sei bem o que estão querendo perguntar, daí digo mais ou menos o seguinte: "Bem, meus avós e minha mãe nasceram na Índia, meu pai e eu nascemos no Quênia, e fui criado em Londres". Aí então me "mapeiam": "Então você é um asiático-queniano. Trabalhei com um assim".
(Laughter)
(Risos)
And from my name they probably assume that I'm a Hindu. And this sort of fixes me for them.
E, pelo meu nome, provavelmente supõem que eu seja hindu. E dão o assunto por encerrado.
But what about the Christians and the Muslims and the atheists that I grew up with? Or the socialists and the liberals, even the occasional Tory?
Mas o que dizer dos cristãos, dos muçulmanos e dos ateus com quem cresci? Ou os socialistas e os liberais, até mesmo os conservadores ocasionais?
(Laughter)
(Risos)
Indeed, all kinds of women and men -- vegetable sellers, factory workers, cooks, car mechanics -- living in my working class area, in some profoundly important way, they are also a part of me and are here with me. Maybe that's why I find it hard to respond to questions about identity and about origin. And it's not just a sort of teenage refusal to be labeled. It's about our own most identities, the ones that we put our hands up to, the ones that we cheer for, the ones that we fight for, the ones that we love or hate. And it's about how we apprehend ourselves as well as others. And it's about identities we just assume that we have without thinking too much about them.
De fato, todos homens e mulheres -- verdureiros, operários, cozinheiros, mecânicos -- que vivem no meu bairro operário também são, de uma forma bem marcante, parte de mim. e estão aqui comigo. Talvez por isso eu considere difícil responder a questões sobre identidade e sobre origem. E não é só uma birra adolescente de não querer ser rotulado. Tem a ver com nossas próprias identidades, aquelas que assumimos, aquelas pelas quais torcemos, aquelas pelas quais lutamos, aquelas que amamos ou odiamos. E tem a ver com a forma como nos percebemos e como percebemos os outros. Tem a ver com as identidades que supomos ter sem pensar muito sobre elas.
But our responses to questions of identity and origin have substantial social and political importance. We see the wars, the rages of identity going on all around us. We see violent religious, national and ethnic disputes. And often the conflict is based on old stories of identity and belonging and origins. And these identities are based on myths, typically about ancient, primordial origins. And these could be about Adam and Eve or about the supremacy of a caste or gender or about the vitality of a supposed race or about the past glories of an empire or civilization or about a piece of land that some imagined deity has gifted.
Mas nossas respostas a perguntas sobre identidade e origem possuem grande importância social e política. Vemos as guerras, as lutas de identidade acontecendo ao nosso redor. Vemos violentas disputas religiosas, nacionalistas e étnicas. E geralmente o conflito é baseado em antigas histórias de identidade, de pertencimento e de origem. E essas identidades se baseiam em mitos, normalmente sobre origens antigas e primitivas. E tanto podem ser sobre Adão e Eva, sobre a supremacia de uma casta ou um gênero, sobre a vitalidade de uma suposta raça, sobre as glórias passadas de um império ou uma civilização quanto sobre um pedaço de terra concedido por alguma suposta divindade.
Now, people say that origin stories and identity myths make us feel secure. What's wrong with that? They give us a sense of belonging. Identity is your cultural clothing, and it can make you feel warm and fuzzy inside. But does it really? Do we really need identity myths to feel safe? Because I see religious, national, ethnic disputes as adding to human misery.
As pessoas costumam dizer que as histórias de origem e os mitos de identidade nos fazem sentir seguros. Que mal há nisso? Elas nos dão um senso de pertencimento. A identidade é nossa roupa cultural e pode nos alegrar e animar. Mas será que é assim mesmo? Precisamos realmente de mitos de identidade para nos sentir seguros? Pois o que vejo são conflitos religiosos, nacionalistas e étnicos aumentando a miséria humana.
Can I dare you to refuse every origin myth that claims you? What if we reject every single primordial origin myth and develop a deeper sense of personhood, one responsible to humanity as a whole rather than to a particular tribe, a radically different idea of humanity that exposes how origin myths mystify, disguise global power, rapacious exploitation, poverty, the worldwide oppression of women and girls, and of course massive, accelerating inequalities?
Será que posso desafiá-los a rejeitar todo e qualquer mito de origem que supostamente os definam? E se rejeitássemos todos os mitos de origem primitivos e desenvolvêssemos um senso mais profundo de pessoalidade que se responsabilizasse pela humanidade como um todo, em vez de uma tribo em particular, uma ideia de humanidade radicalmente diferente, que expusesse a forma como os mitos de origem mistificam, escamoteiam o poder global, a exploração gananciosa, a pobreza, a opressão de mulheres e meninas pelo mundo todo e, claro, as enormes e crescentes desigualdades?
Now, origin myths are closely linked to tradition, and the word tradition points to something old and permanent, almost natural, and people assume tradition is just history, simply the past condensed into a nice story. But let's not confuse tradition with history. The two are often in severe conflict. Origin stories are usually recently created fictions of ancient belonging, and they're absurd given the complexity of humanity and our vastly interconnected, even if very unequal world. And today we see claims to tradition that claim to be ancient changing rapidly in front of our eyes.
Os mitos de origem estão intimamente ligados à tradição, e a palavra tradição aponta para algo antigo e permanente, quase natural, e as pessoas acham que a tradição é apenas história, simplesmente o passado condensado numa história legal. Mas não vamos confundir tradição com história. Normalmente as duas estão presentes em graves conflitos. Histórias de origem são ficções recentes de pertencimento ancestral, e elas são absurdas, dada a complexidade da humanidade e de um mundo que, apesar de tão interconectado, é tão desigual. E hoje vemos alegações de tradições que se dizem antigas mudarem rapidamente diante dos nossos olhos.
I was brought up in the 1970s near Wembley with Asian, English, Caribbean, Irish families living in our street, and the neo-Nazi National Front was massive then with regular marches and attacks on us and a permanent threat and often a frequent reality of violence against us on the streets, in our homes, typically by neo-Nazis and other racists. And I remember during a general election a leaflet came through our letter box with a picture of the National Front candidate for our area. And the picture was of our next-door neighbor. He threatened to shoot me once when I played in the garden as a kid, and many weekends, shaven-headed National Front activists arrived at his house and emerged with scores of placards screaming that they wanted us to go back home. But today he's one of my mum's best mates. He's a very lovely, gentle and kind man, and at some point in his political journey out of fascism he embraced a broader idea of humanity.
Cresci na década de 1970 perto de Wembley tendo como vizinhos famílias asiáticas, caribenhas e irlandesas, e a neo-Nazi National Front bem atuante na época, com passeatas regulares, ataques contra nós, uma ameaça permanente e uma realidade frequente de violência contra nós nas ruas, em nossos lares, normalmente vindo de neonazistas e outros racistas. E me lembro, numa eleição, de um santinho colocado em nossa caixa de correio com uma foto de um candidato da National Front para nossa área. E a foto era do nosso vizinho de porta. Certa vez, ele ameaçou atirar em mim, quando ainda criança brincando no jardim, e, em muitos finais de semana, ativistas de cabeças raspadas da National Front iam à casa dele, para saírem de lá com cartazes, gritando que queriam que voltássemos para casa. No entanto hoje ele é um dos melhores amigos da minha mãe. É um homem amável, gentil e bondoso que, numa certa altura de sua jornada política para largar o fascismo, abraçou uma ideia mais ampla de humanidade.
There was a Hindu family that we got to know well -- and you have to understand that life in our street was a little bit like the setting for an Asian soap opera. Everyone knew everyone else's business, even if they didn't want it to be known by anyone at all. You really had no choice in this matter. But in this family, there was a quiet little boy who went to the same school as I did, and after I left school, I didn't hear much more about him, except that he'd gone off to India. Now around 2000, I remember seeing this short book. The book was unusual because it was written by a British supporter of Al Qaeda, and in it the author calls for attacks in Britain. This is in 1999, so 9/11 and the invasion of Iraq was still in the future, and he helped scout New York bombing targets. He taught others how to make a dirty bomb to use on the London Underground, and he plotted a massive bombing campaign in London's shopping areas. He's a very high-risk security prisoner in the UK and one of the most important Al Qaeda figures to be arrested in Britain.
E havia uma família hindu que conhecíamos bem, e é preciso explicar que nossa rua era um pouco como uma novela asiática: todo mundo sabia da vida de todo mundo, mesmo se não quisessem que os outros soubessem. Realmente não havia escolha nesse quesito. Mas, nessa família, havia um menino quietinho, que frequentava a mesma escola que eu e, depois que saí da escola, não soube mais dele, exceto que tinha ido embora pra Índia. Bem, por volta do ano 2000, me lembro de ver um livreto. O livro era incomum, pois foi escrito por um seguidor britânico da Al-Qaeda, e nele o autor incitava ataques na Inglaterra. Isso foi em 1999, antes, portanto, do "11 de setembro" e da invasão do Iraque, e o autor ajudou a escolher alvos do ataque de Nova Iorque. Ele ensinou pessoas a fazer uma bomba suja para usar no metrô de Londres, e tramou enormes bombardeios em centros comerciais de Londres. Ele é um prisioneiro de alto risco no Reino Unido e uma das mais importantes figuras da Al-Qaeda presa na Inglaterra.
The author of that book was the very same quiet little boy who went to my school. So a Hindu boy from Britain became an Al Qaeda fighter and a most-wanted international terrorist, and he rejected what people would call his Hindu or Indian or British identity, and he became someone else. He refused to be who he was. He recreated himself, and this kind of journey is very common for young men and women who become involved in Al Qaeda or Islamic State or other transnational armed groups. Al Qaeda's media spokesman is a white American from a Jewish and Catholic mixed background, and neither he nor the boy from my school were from Muslim backgrounds. There's no point in asking them where are they from. A more important question is where they're going.
O autor daquele livro era o mesmo menino quietinho que frequentou minha escola. Assim, um menino hindu inglês se tornou um lutador da Al-Qaeda e um procurado terrorista internacional, e rejeitou a sua chamada identidade hindu, indiana ou britânica, e se tornou uma outra pessoa. Ele se recusou a ser quem ele era. Ele se recriou, e esse tipo de jornada é muito comum para jovens homens e mulheres que se envolvem com a Al-Qaeda ou com o Estado Islâmico ou outros grupos armados transnacionais. O porta-voz da Al-Qaeda é um norte-americano branco de origem judia e católica, e nem ele nem o menino da minha escola eram de origem muçulmana. Não faz sentido perguntar a eles de onde são. Uma pergunta mais importante é para onde eles estão indo.
And I would also put it to you that exactly the same journey occurs for those young men and women who were brought up in Muslim family backgrounds. Most of those who join Al Qaeda and other Salafi jihadi groups from Europe, Asia, North America, even in many cases the Middle East are those who have comprehensively rejected their backgrounds to become, in essence, new people. They spend an enormous amount of time attacking their parents' backgrounds as profane, impure, blasphemous, the wrong type of Islam, and their vision instead is a fantastical view of cosmic apocalypse. It's a born again vision. Discard your past, your society, your family and friends since they're all impure. Instead, become someone else, your true self, your authentic self. Now, this isn't about a return to the past. It's about using a forgery of the past to envision an appalling future which begins today at year zero. This is why over 80 percent of the victims of Al Qaeda and Islamic State are people from Muslim backgrounds. The first act by Salafi jihadi groups when they take over an area is to destroy existing Muslim institutions including mosques, shrines, preachers, practices. Their main purpose is to control and punish people internally, to dictate the spaces that women may go, their clothing, family relations, beliefs, even the minute detail of how one prays. And you get the impression in the news that they are after us in the West, but they are actually mainly after people from other Muslim backgrounds. In their view, no other Muslim can ever be pure enough, so ordinary beliefs and practices that have existed for centuries are attacked as impure by teenagers from Birmingham or London who know nothing about the histories that they so joyously obliterate.
E eu também diria que essa mesma jornada vale para jovens homens e mulheres que cresceram em famílias de origem muçulmana. A maioria dos que se juntaram à Al-Qaeda e a outros grupos jihadistas Salafi, da Europa, da Ásia e da América do Norte, em muitos casos do Oriente Médio, são pessoas que rejeitaram completamente sua origem para se tornarem, essencialmente, novas pessoas. Elas passam muito tempo atacando a origem de seus pais como profana, impura, blasfema, como o tipo errado de Islã, e, em seu lugar, abraçam a visão fantástica do apocalipse cósmico. É uma visão renascida. Abandone seu passado, sua sociedade, sua família e seus amigos, pois eles são todos impuros. Em vez disso, torne-se outra pessoa, seu verdadeiro "eu", seu "eu" autêntico. E isso não tem a ver com um retorno ao passado. É como falsificar o passado para visualizar um futuro terrível que começa hoje no ano zero. É por isso que mais de 80% das vítimas da Al-Qaeda e do Estado Islâmico são pessoas de origem muçulmana. O primeiro ato dos grupos de Salafi quando eles tomam uma área é destruir as instituições muçulmanas existentes, incluindo mesquitas, santuários, pregadores e rituais. Seu principal objetivo é controlar e punir pessoas internamente, para ditar os espaços a que as mulheres podem ir, suas roupas, relações familiares, crenças, até o mínimo detalhe de como devem orar. E, pelos jornais, temos a impressão de que eles estão atrás de nós, ocidentais, mas, na verdade, estão atrás de pessoas de outras origens muçulmanas. Na visão deles, nenhum outro muçulmano é puro o suficiente, assim crenças e práticas comuns que estão aí há séculos são atacadas como impuras por adolescentes de Birmingham ou Londres que não sabem nada sobre as histórias que eles estão alegremente destruindo.
Now here, their claim to tradition is at war with history, but they're nevertheless very certain about their purity and about the impurity of others. Purity, certainty, the return to authentic tradition, the quest for these can lead to lethal visions of perfect societies and perfected people.
Aqui, sua ideia de tradição está em conflito com a história, no entanto, eles estão bem certos de sua pureza e da impureza dos outros. Pureza, certeza, a volta para a tradição autêntica, essa busca pode levar a visões letais de sociedades e pessoas perfeitas.
This is what the main Hindu fundamentalist organization in India looks like today at its mass rally. Maybe it reminds you of the 1930s in Italy or Germany, and the movement's roots are indeed in fascism. It was a member of the same Hindu fundamentalist movement who shot dead Mahatma Gandhi. Hindu fundamentalists today view this murderer as a national hero, and they want to put up statues of him throughout India. They've been involved for decades in large-scale mass violence against minorities. They ban books, art, films. They attack romantic couples on Valentine's Day, Christians on Christmas Day. They don't like others talking critically about what they see as their ancient culture or using its images or caricaturing it or drawing cartoons about it. But the people making the strongest possible claims about ancient, timeless Hindu religion are dressed in brown shorts and white shirts while claiming, oddly, to be the original Aryan race, just like the violent Salafi jihadis who make their claims about their primordial religion while dressed in black military uniforms and wearing balaclavas.
Esta é hoje a principal organização fundamentalista hindu na Índia em sua crescente ascensão. Talvez isso lembre a vocês a década de 1930 na Itália e na Alemanha, e as raízes do movimento estão de fato no fascismo. E foi um membro desse mesmo movimento fundamentalista hindu quem matou a tiros Mahatma Gandhi. Os fundamentalistas hindus hoje veem esse assassino como um herói nacional e querem espalhar estátuas dele pela Índia. Por décadas, eles estiveram envolvidos em violência em larga escala contra minorais. Baniram livros, arte, filmes. Atacam casais no Dia dos Namorados e cristãos no Natal. Eles não gostam que os outros critiquem o que eles veem como sua cultura antiga, ou que usem suas imagens ou façam caricaturas ou cartuns sobre elas. Mas as pessoas que fazem as alegações mais contundentes sobre a religião hindu antiga, atemporal, se vestem com "short" marrom e camisa branca, enquanto estranhamente reivindicam serem a raça ariana original, exatamente como os violentos jihadistas Salafi, que alegam ser sua religião a primitiva, enquanto vestem uniformes militares pretos e usam balaclavas.
These people are manufacturing pure, pristine identities of conviction and of certainty. Fundamentalists see religion and culture as their sole property, a property. But religions and cultures are processes. They're not things. They're impermanent. They're messy. They're impure. Look at any religion and you'll see disputes and arguments going all the way down.
Essas pessoas estão fabricando identidades de convicção e de certeza puras e imaculadas. Os fundamentalistas veem a religião e a cultura como propriedade sua. Mas religiões e culturas são processos. Elas não são coisas, são impermanentes, são confusas, são impuras. Em qualquer religião, vamos ver disputas e brigas acontecendo o tempo todo.
Any criticism of religion in any form has to therefore be part of the expansive sense of humanity we should aspire to. I respect your right to have and to express your religion or your culture or your opinion, but I don't necessarily have to respect the content. I might like some of it. I might like how an old church looks, for example, but this isn't the same thing. Similarly, I have a human right to say something that you may find offensive, but you do not have a human right not to be offended. In a genuine democracy, we're constantly offended since people express different views all the time. They also change their views, so their views are impermanent. You cannot fix someone's political views based on their religious or national or cultural background.
Qualquer forma de crítica às religiões deveria ser, portanto, parte do sentido amplo de humanidade que deveríamos buscar. Respeito seu direito de ter e expressar sua religião ou sua cultura ou sua opinião, mas não tenho, necessariamente, de respeitar o conteúdo. Posso gostar de algo, posso gostar da aparência de uma igreja antiga, por exemplo, mas são coisas diferentes. Analogamente, tenho o direito humano de dizer algo que você considere ofensivo, mas você não tem um direito humano de não ser ofendido. Numa genuína democracia, somos constantemente ofendidos, já que as pessoas expressam visões diferentes o tempo todo. Também mudamos nossa visão, assim, as visões são impermanentes. Não conseguimos mudar a visão política de alguém baseados em sua origem religiosa, nacional ou cultural.
Now, these points about religious purity also apply to nationalism and to racism. I'm always puzzled to have pride in your national or ethnic identity, pride in the accident of birth from a warm and cozy womb, belief in your superiority because of the accident of birth.
Bem, esses pontos sobre pureza religiosa também se aplicam ao nacionalismo e ao racismo. Sempre fico abismado com o sentimento de orgulho gerado pela identidade nacional ou étnica, orgulho pelo acidente de ter nascido de um útero aconchegante e quente, crença na sua superioridade por causa desse acidente de nascimento.
These people have very firm ideas about what belongs and what doesn't belong inside the cozy national cultures that they imagine. And I'm going to caricature a bit here, but only a little bit. I want you to imagine the supporter of some Little Englander or British nationalist political party, and he's sitting at home and he's screaming about foreigners invading his country while watching Fox News, an American cable channel owned by an Australian on his South Korean television set which was bought by his Spanish credit card which is paid off monthly by his high-street British bank which has its headquarters in Hong Kong. He supports a British football team owned by a Russian. His favorite brand of fish and chips is owned by a Swedish venture capitalist firm. The church he sometimes goes to has its creed decided in meetings in Ghana. His Union Jack underpants were made in India.
Essas pessoas têm opiniões fortes sobre o que faz parte ou não das culturas aconchegantes nacionais imaginadas por elas. E vou exagerar um pouco aqui, mas só um pouco. Quero que imaginem o seguidor de um partido político "Little Englander" ou nacionalista britânico, sentado em casa esbravejando contra a invasão de seu país por estrangeiros, enquanto assiste à Fox News, uma canal a cabo norte-americano que pertence a um australiano, no seu aparelho de TV sul-coreano, comprado com seu cartão de crédito espanhol, que é pago mensalmente ao seu banco inglês, cuja matriz fica em Hong Kong. Ele torce para um time de futebol inglês cujo dono é um russo. Sua marca favorita de "fish and chips" pertence a uma empresa capitalista sueca. A igreja que ele frequenta de vez em quando tem seu credo decidido em reuniões em Gana. Suas cuecas com a bandeira inglesa foram feitas na Índia.
(Laughter)
(Risos)
And --
E...
(Applause)
(Aplausos)
Thank you.
Obrigado.
And they're laundered regularly by a very nice Polish lady.
E são lavadas regularmente por uma senhora polonesa muito legal.
(Laughter)
(Risos)
There is no pure ethnicity, national culture, and the ethical choices we have today are far wider than being forced to choose between racist right and religious right visions, dismal visions of culture.
Não há etnia ou cultura nacional puras, e as escolhas éticas que temos hoje são bem mais amplas do que as que somos forçados a escolher entre a direita racista e as visões religiosas de direita, visões deploráveis da cultura.
Now, culture isn't just about language, food, clothing and music, but gender relations, ancient monuments, a heritage of sacred texts. But culture can also be what has been decided to be culture by those who have a political stake in pounding culture into the shape of a prison. Big political identity claims are elite bids for power. They're not answers to social or economic or political injustices. They often obscure them. And what about the large number of people across the globe who can't point to a monument from their past, who don't possess a sacred written text, who can't hark back to the past glories of a civilization or empire? Are these people less a part of humanity?
E a cultura não é apenas língua, comida, modo de vestir e música, mas relações entre gêneros, monumentos antigos, toda uma herança de textos sacros. Mas a cultura também pode ser o que se arbitrou como cultura por aqueles que têm como aposta política bitolar a cultura na forma de uma prisão. Reivindicar identidade política é uma jogada da elite pelo poder. Não é uma resposta a injustiças sociais, econômicas ou políticas, que, em geral, são acobertadas. E o que dizer do grande número de pessoas no mundo que não podem apontar para um monumento de seu passado, que não possuem um texto sagrado escrito, que não podem voltar às glórias do passado de uma civilização ou de um império? Fariam essas pessoas menos parte da humanidade?
What about you, now, listening to this? What about you and your identity, because you stitch your experiences and your thoughts into a continuous person moving forward in time. And this is what you are when you say, "I," "am," or "me." But this also includes all of your hopes and dreams, all of the you's that could have been, and it includes all the other people and the things that are in the biography of who you are. They, the others, are also a part of you, moving forward with you. Your authentic self, if such a thing exists, is a complex, messy and uncertain self, and that is a very good thing. Why not value those impurities and uncertainties? Maybe clinging to pure identities is a sign of immaturity, and ethnic, nationalist and religious traditions are bad for you. Why not be skeptical about every primordial origin claim made on your behalf? Why not reject the identity myths that call on you to belong, that politicians and community leaders, so-called community leaders, place on you? If we don't need origin stories and fixed identities, we can challenge ourselves to think creatively about each other and our future.
E você ouvindo isto aqui agora? E você e sua identidade, cujas experiências e pensamentos se unem numa pessoa contínua que avança no tempo? E é isso o que significa quando diz "eu", "sou" ou "mim". Mas isso também inclui todas suas esperanças e sonhos, tudo o que você poderia ter sido, e também inclui todas as outras pessoas e as coisas que estão na biografia de quem você é. Eles, os outros, também são parte de você, seguindo em frente com você. Seu "eu" autêntico, se é que existe tal coisa, é um eu complexo, confuso e indefinido, o que é ótimo. Por que não valorizar essas impurezas e incertezas? Talvez nos ligar a identidades puras seja um sinal de imaturidade, e tradições étnicas, nacionalistas e religiosas sejam ruins para nós. Por que não ser cético com histórias de origem primitiva feitas em seu nome? Por que não rejeitar mitos de identidade aos quais nos querem vincular, que os líderes políticos e comunitários, os chamados líderes comunitários, nos querem impor? Se não precisamos de histórias de origem e identidades fixas, podemos nos desafiar a pensar criativamente uns sobre os outros e nosso futuro.
And here culture always takes care of itself. I'm not worried about culture. Cultures are creative, dynamic processes, not imposed laws and boundaries.
E a cultura nem se abala; não estou preocupado com ela. As culturas são processos criativos e dinâmicos, não leis e limites impostos.
This is Abu al-Walid Muhammad ibn Ahmad ibn Rushd, a very senior Muslim judge and thinker in Cordoba in the 12th century, and his writings were considered deeply blasphemous, heretical and evil. Long after he died, followers of his work were ruthlessly hunted down, banished and killed over several centuries by the most powerful religious institution of the medieval period. That institution was the Roman Catholic Church. Why? Because ibn Rushd said that something true in religion may conflict with something that your reason finds to be true on earth, but the latter is still true. There are two distinct worlds of truth, one based on our reason and evidence, and one that is divine, and the state, political power, social law are in the realm of reason. Religious life is a different realm. They should be kept separated. Social and political life should be governed by our reason, not by religion. And you can see why the church was upset by his writings, as indeed were some Muslims during his lifetime, because he gives us a strong statement of secularism of a kind which is normal in Europe today.
Este é Abu al-Walid Muhammad ibn Ahmad ibn Rushd, um pensador e um juiz muçulmano experiente em Córdoba, no século 12, cujos escritos eram considerados blasfemos, heréticos e do mal. Muito tempo após sua morte, seus seguidores foram brutalmente perseguidos, banidos e mortos ao longo de diversos séculos pela instituição religiosa mais poderosa do período medieval. Essa instituição era a Igreja Católica Romana. Por quê? Porque ibn Rushd disse que algo que é verdade na religião pode conflitar com algo que nossa razão pense ser verdade na Terra, e ainda assim este último ser verdade. Há dois mundos da verdade distintos, um baseado em nossa razão e nas evidências, e um divino. E o Estado, o poder político e a lei social estão no reino da razão. A vida religiosa é um reino diferente. Eles deveriam permanecer separados. A vida social e política deveria ser governada por nossa razão, não pela religião. E dá pra ver por que a Igreja não gostava de seus escritos, assim como alguns muçulmanos de sua época, porque ele nos oferece uma poderosa declaração secularista, algo normal hoje na Europa.
Now, history plays many tricks on us. It undermines our fixed truths and what we believe to be our culture and their culture. Ibn Rushd, someone who happens to be a Muslim, is considered one of the key influences in the introduction and spread of secularism in Europe.
A história nos prega muitas peças. Ela mina nossas verdades e o que supomos ser nossa cultura e a cultura dos outros. Ibn Rushd, que por acaso é muçulmano, é considerado uma das influências-chave na introdução e disseminação do secularismo na Europa.
So against religious, nationalist and racial purists of all kinds, can you make his story a part of your own, not because he happened to be a Muslim, not because he happened to be an Arab, but because he was a human being with some very good ideas that shook his world and ours.
Assim, contra puristas religiosos, nacionalistas e raciais de todo tipo, podemos tornar a história dele parte da nossa própria, não por ele, por acaso, ser muçulmano, não por ele ser árabe, mas por ser um ser humano com ideias muito boas que sacudiram o mundo dele e o nosso.
Thank you.
Obrigado.
(Applause)
(Aplausos)