What if I told you that time has a race, a race in the contemporary way that we understand race in the United States? Typically, we talk about race in terms of black and white issues. In the African-American communities from which I come, we have a long-standing multi-generational joke about what we call "CP time," or "colored people's time." Now, we no longer refer to African-Americans as "colored," but this long-standing joke about our perpetual lateness to church, to cookouts, to family events and even to our own funerals, remains.
E se eu vos dissesse que o tempo tem raça, uma raça no modo contemporâneo como entendemos a raça nos EUA? Normalmente, falamos de raça em termos de negros e brancos. Nas comunidades afro-americanas das quais eu venho, temos uma velha piada que atravessa gerações sobre o que chamamos "tempo das PC", ou "tempo das pessoas de cor". Agora, já não nos referimos aos afro-americanos como "pessoas de cor", mas esta velha piada sobre o nosso contínuo atraso à igreja, aos churrascos, aos eventos de família e mesmo aos nossos próprios funerais, continua.
I personally am a stickler for time. It's almost as if my mother, when I was growing up, said, "We will not be those black people." So we typically arrive to events 30 minutes early.
Eu própria sou uma defensora do tempo. É quase como se a minha mãe, quando eu era miúda, me tivesse dito: "Nós não vamos ser como esses negros". Então, normalmente chegamos aos eventos 30 minutos antes.
But today, I want to talk to you more about the political nature of time, for if time had a race, it would be white. White people own time.
Mas hoje, quero falar com vocês sobre a natureza política do tempo, porque, se o tempo tivesse raça, seria branco. As pessoas brancas mandam no tempo.
I know, I know. Making such "incendiary statements" makes us uncomfortable: Haven't we moved past the point where race really matters? Isn't race a heavy-handed concept? Shouldn't we go ahead with our enlightened, progressive selves and relegate useless concepts like race to the dustbins of history? How will we ever get over racism if we keep on talking about race? Perhaps we should lock up our concepts of race in a time capsule, bury them and dig them up in a thousand years, peer at them with the clearly more enlightened, raceless versions of ourselves that belong to the future. But you see there, that desire to mitigate the impact of race and racism shows up in how we attempt to manage time, in the ways we narrate history, in the ways we attempt to shove the negative truths of the present into the past, in the ways we attempt to argue that the future that we hope for is the present in which we're currently living.
Eu sei, eu sei. Fazer este tipo de "afirmações controversas" deixa-nos desconfortáveis: Já não passámos o tempo em que a raça era importante? Não é a raça um conceito incómodo? Não devíamos seguir em frente com os nossos "eu" esclarecidos e informados e deitar no lixo da história os conceitos inúteis como a raça? Como é que vamos ultrapassar o racismo se continuamos a falar de raça? Talvez tenhamos de fechar os nossos conceitos de raça numa cápsula do tempo, enterrá-los e desenterrá-los daqui a mil anos, olhá-los com uma versão de nós próprios mais esclarecida que pertence ao futuro. Mas aí se vê, o desejo de atenuar o impacto da raça e o racismo aparece na forma como tentamos gerir o tempo, na forma como narramos a história, na forma como tentamos empurrar as verdades negativas do presente para o passado, na forma como tentamos discutir que o futuro que esperamos é o presente em que vivemos actualmente.
Now, when Barack Obama became President of the US in 2008, many Americans declared that we were post-racial. I'm from the academy where we're enamored with being post-everything. We're postmodern, we're post-structural, we're post-feminist. "Post" has become a simple academic appendage that we apply to a range of terms to mark the way we were. But prefixes alone don't have the power to make race and racism a thing of the past. The US was never "pre-race." So to claim that we're post-race when we have yet to grapple with the impact of race on black people, Latinos or the indigenous is disingenuous. Just about the moment we were preparing to celebrate our post-racial future, our political conditions became the most racial they've been in the last 50 years.
Quando Barack Obama se tornou presidente dos EUA em 2008, muitos americanos declararam que éramos pós-raciais. Sou da academia onde somos cativados como sendo pós-tudo. Somos pós-modernos, pós-estruturais, pós-feministas. "Pós" tornou-se num simples apêndice académico que usamos numa variedade de termos para marcar a forma como éramos. Mas os prefixos por si só, não têm poder para fazer a raça e o racismo uma coisa do passado. Os EUA nunca foram "pré-raça". Então, dizer que somos pós-raça quando ainda temos de lidar com o impacto da raça em pessoas negras, latinas ou indígenas não é sincero. No momento em que nos preparávamos para celebrar o nosso futuro pós-racial, as condições políticas tornaram-se as mais raciais dos últimos 50 anos.
So today, I want to offer to you three observations, about the past, the present and the future of time, as it relates to the combating of racism and white dominance.
Então hoje, quero dar-vos três observações, sobre o passado, o presente e o futuro do tempo, pois está relacionado com o combate do racismo e o domínio dos brancos.
First: the past. Time has a history, and so do black people. But we treat time as though it is timeless, as though it has always been this way, as though it doesn't have a political history bound up with the plunder of indigenous lands, the genocide of indigenous people and the stealing of Africans from their homeland. When white male European philosophers first thought to conceptualize time and history, one famously declared, "[Africa] is no historical part of the World." He was essentially saying that Africans were people outside of history who had had no impact on time or the march of progress.
Primeiro: o passado. O tempo tem uma história, e as pessoas negras também. Mas lidamos com o tempo como se este fosse intemporal, como se sempre tivesse sido assim, como se não tivesse uma história política ligada ao roubo de terras indígenas, ao genocídio de pessoas indígenas e ao roubo da terra natal dos africanos. Quando os filósofos brancos europeus pensaram em conceptualizar o tempo e a história, um deles declarou, "A África não é uma parte histórica do Mundo". Basicamente, ele estava a dizer que os africanos eram pessoas fora da história que não tiveram impacto no tempo ou no avanço do progresso.
This idea, that black people have had no impact on history, is one of the foundational ideas of white supremacy. It's the reason that Carter G. Woodson created "Negro History Week" in 1926. It's the reason that we continue to celebrate Black History Month in the US every February.
Esta ideia de que os negros não tiveram impacto na história, é uma das ideias fundamentais da supremacia branca. É a razão por que Carter G. Woodson criou a "Semana da História Negra" em 1926. É a razão pela qual continuamos a celebrar o Mês da História Negra, nos EUA, todos os meses de Fevereiro.
Now, we also see this idea that black people are people either alternately outside of the bounds of time or stuck in the past, in a scenario where, much as I'm doing right now, a black person stands up and insists that racism still matters, and a person, usually white, says to them, "Why are you stuck in the past? Why can't you move on? We have a black president. We're past all that."
Agora, também temos esta ideia de que os negros são pessoas ou fora dos limites do tempo ou presas no passado, num cenário onde, como o que estou a fazer agora, uma pessoa negra levanta-se e insiste que o racismo ainda importa, e uma pessoa, normalmente branca, diz-lhe: "Porque estás presa no passado? "Porque não consegues seguir em frente? "Nós temos um presidente negro. "Já ultrapassámos isso tudo."
William Faulkner famously said, "The past is never dead. It's not even past." But my good friend Professor Kristie Dotson says, "Our memory is longer than our lifespan." We carry, all of us, family and communal hopes and dreams with us. We don't have the luxury of letting go of the past. But sometimes, our political conditions are so troubling that we don't know if we're living in the past or we're living in the present. Take, for instance, when Black Lives Matter protesters go out to protest unjust killings of black citizens by police, and the pictures that emerge from the protest look like they could have been taken 50 years ago. The past won't let us go. But still, let us press our way into the present.
William Faulkner disse: "O passado nunca está morto. "Nem sequer é passado". Mas a minha amiga Professora Kristie Dotson diz: "A nossa memória é maior que a duração da nossa vida". Temos, todos nós, família, esperanças e sonhos em comum . Nós não nos damos ao luxo de deixar o passado. Mas, às vezes, as nossas condições políticas são tão preocupantes que não sabemos se estamos a viver no passado ou se estamos a viver no presente. Por exemplo, quando os protestantes do movimento Black Lives Matter saem para protestar mortes injustas de cidadãos negros pela polícia, e as imagens que saem do protesto parecem ter sido tiradas há 50 anos. O passado não nos abandona. Mas mesmo assim, temos que chegar ao presente.
At present, I would argue that the racial struggles we are experiencing are clashes over time and space. What do I mean? Well, I've already told you that white people own time. Those in power dictate the pace of the workday. They dictate how much money our time is actually worth. And Professor George Lipsitz argues that white people even dictate the pace of social inclusion. They dictate how long it will actually take for minority groups to receive the rights that they have been fighting for.
No presente, eu diria que as lutas raciais que existem são confrontos em relação ao tempo e ao espaço. O que é que eu quero dizer? Bem, já vos disse que as pessoas brancas mandam no tempo. Os que estão no poder ditam o ritmo do dia de trabalho. Ditam quanto dinheiro vale realmente o nosso tempo. E o Professor George Lipsitz diz que as pessoas brancas até ditam o ritmo da inclusão social. Ditam quanto tempo os grupos minoritários levam para receber os direitos pelos quais têm lutado.
Let me loop back to the past quickly to give you an example. If you think about the Civil Rights Movement and the cries of its leaders for "Freedom Now," they were challenging the slow pace of white social inclusion. By 1965, the year the Voting Rights Act was passed, there had been a full 100 years between the end of the Civil War and the conferral of voting rights on African-American communities. Despite the urgency of a war, it still took a full 100 years for actual social inclusion to occur.
Deixem-me voltar ao passado rapidamente para vos dar um exemplo. Se pensarmos no Movimento dos Direitos Civis e os gritos dos seus líderes por "liberdade já", eles estavam a desafiar o ritmo lento da inclusão social branca. Em 1965, o ano em que se deu a Lei dos Direitos de Voto passaram-se 100 anos entre o fim da Guerra Civil e a conferência dos direitos de voto das comunidades afro-americanas. Apesar da urgência de uma guerra, ainda demorou 100 anos para acontecer a inclusão social.
Since 2012, conservative state legislatures across the US have ramped up attempts to roll back African-American voting rights by passing restrictive voter ID laws and curtailing early voting opportunities. This past July, a federal court struck down North Carolina's voter ID law saying it "... targeted African-Americans with surgical precision."
A partir de 2012, as legislaturas conservadoras dos estados dos EUA aumentaram as tentativas de inverter os direitos de voto dos afro-americanos aprovando leis com identificações restritas de voto e limitando as oportunidades da votação antecipada. Julho passado, um tribunal federal anulou a lei de identificações de voto na Carolina do Norte dizendo que "... visava os afro-americanos com uma precisão cirúrgica".
Restricting African-American inclusion in the body politic is a primary way that we attempt to manage and control people by managing and controlling time. But another place that we see these time-space clashes is in gentrifying cities like Atlanta, Brooklyn, Philadelphia, New Orleans and Washington, DC -- places that have had black populations for generations. But now, in the name of urban renewal and progress, these communities are pushed out, in service of bringing them into the 21st century.
Restringir a inclusão dos afro-americanos no corpo político é uma forma primária para orientar e controlar as pessoas através da orientação e controlo do tempo. Onde também vemos estes confrontos tempo-espaço é na urbanização de cidades como Atlanta, Brooklyn, Filadélfia, Nova Orleães e Washington, D.C. — sítios que têm populações negras há gerações. Mas agora, em nome da renovação urbana e do progresso, estas comunidades estão a ser afastadas, para as trazer para o século XXI.
Professor Sharon Holland asked: What happens when a person who exists in time meets someone who only occupies space? These racial struggles are battles over those who are perceived to be space-takers and those who are perceived to be world-makers. Those who control the flow and thrust of history are considered world-makers who own and master time. In other words: white people. But when Hegel famously said that Africa was no historical part of the world, he implied that it was merely a voluminous land mass taking up space at the bottom of the globe. Africans were space-takers. So today, white people continue to control the flow and thrust of history, while too often treating black people as though we are merely taking up space to which we are not entitled. Time and the march of progress is used to justify a stunning degree of violence towards our most vulnerable populations, who, being perceived as space-takers rather than world-makers, are moved out of the places where they live, in service of bringing them into the 21st century.
A professora Sharon Holland perguntou: "O que acontece quando uma pessoa que existe no tempo "conhece alguém que apenas ocupa espaço?" Estas lutas raciais são batalhas sobre aqueles que são vistas como ocupantes de espaço e aqueles que são criadores do mundo. Aqueles que controlam o fluxo e o impulso da história são considerados criadores do mundo que mandam e controlam o tempo. Por outras palavras: pessoas brancas. Mas quando Hegel disse que a África não era parte histórica do mundo, ele insinuou que era apenas um grande volume de terra a ocupar espaço no fundo do globo. Os africanos eram ocupantes de espaço. Então hoje, as pessoas brancas continuam a controlar o fluxo e o impulso da história, enquanto muitas vezes tratam os negros como se estivéssemos apenas a ocupar espaço a que não temos direito. O tempo e o progresso são usados para justificar o nível elevado de violência para com as populações mais vulneráveis, que, sendo reconhecidas como ocupantes de espaço e não criadores do mundo, são mudadas do sítio onde vivem, para as trazer para o século XXI.
Shortened life span according to zip code is just one example of the ways that time and space cohere in an unjust manner in the lives of black people. Children who are born in New Orleans zip code 70124, which is 93 percent white, can expect to live a full 25 years longer than children born in New Orleans zip code 70112, which is 60 percent black. Children born in Washington, DC's wealthy Maryland suburbs can expect to live a full 20 years longer than children born in its downtown neighborhoods.
A vida útil reduzida de acordo com o código postal é apenas um dos exemplos de como o tempo e o espaço se fundem injustamente nas vidas das pessoas negras. As crianças que nascem em Nova Orleães como o código postal 70124 — em que 93% são brancas — têm a perspetiva de viver mais 25 anos do que as crianças nascidas em Nova Orleães, com o código postal 70112 — em que 60% são negras. As crianças nascidas em Washington, D.C., nos subúrbios de Maryland têm a perspetiva de viver mais 20 anos do que as crianças que vivem na vizinhança.
Ta-Nehisi Coates argues that, "The defining feature of being drafted into the Black race is the inescapable robbery of time." We experience time discrimination, he tells us, not just as structural, but as personal: in lost moments of joy, lost moments of connection, lost quality of time with loved ones and lost years of healthy quality of life.
Ta-Nehisi Coates diz que "a característica que define a raça negra "é o inevitável roubo de tempo". "Testemunhamos discriminação no tempo", diz ele, não só estrutural, mas pessoal: em momentos de felicidade perdidos, momentos de ligação perdidos, perda de qualidade de vida com entes queridos e perda de qualidade de vida saudável.
In the future, do you see black people? Do black people have a future? What if you belong to the very race of people who have always been pitted against time? What if your group is the group for whom a future was never imagined? These time-space clashes -- between protesters and police, between gentrifiers and residents -- don't paint a very pretty picture of what America hopes for black people's future. If the present is any indicator, our children will be under-educated, health maladies will take their toll and housing will continue to be unaffordable.
No futuro, vêem as pessoas negras? As pessoas negras têm um futuro? E se pertencessem à mesma raça que tem sido confrontada com o tempo? E se o vosso grupo fosse o grupo para o qual nunca foi imaginado um futuro? Estes confrontos tempo-espaço — entre protestantes e polícia, entre urbanizadores e residentes — não pintam um quadro muito bonito do que a a América espera para o futuro das pessoas negras. Se o presente é algum indicador, as nossas crianças serão educadas inadequadamente. as doenças cobrarão a sua parte e a habitação continuará a ser inacessível.
So if we're really ready to talk about the future, perhaps we should begin by admitting that we're out of time. We black people have always been out of time. Time does not belong to us. Our lives are lives of perpetual urgency. Time is used to displace us, or conversely, we are urged into complacency through endless calls to just be patient. But if past is prologue, let us seize upon the ways in which we're always out of time anyway to demand with urgency freedom now.
Então, se estamos mesmo prontos para falar sobre o futuro, talvez devêssemos começar por reconhecer que estamos a ficar sem tempo. Nós, as pessoas negras, sempre estivemos sem tempo. O tempo não nos pertence. As nossas vidas são de uma urgência contínua. O tempo é usado para nos afastar, ou inversamente, somos encorajados a sermos complacentes através de inúmeros pedidos para sermos pacientes. Mas se o passado é o prólogo, deixem-nos aproveitar as formas em que estamos sempre sem tempo, para exigirmos com urgência "liberdade já".
I believe the future is what we make it. But first, we have to decide that time belongs to all of us. No, we don't all get equal time, but we can decide that the time we do get is just and free. We can stop making your zip code the primary determinant of your lifespan. We can stop stealing learning time from black children through excessive use of suspensions and expulsions. We can stop stealing time from black people through long periods of incarceration for nonviolent crimes. The police can stop stealing time and black lives through use of excessive force.
Acredito que o futuro somos nós que o fazemos. Mas primeiro, temos de decidir que o tempo pertence a todos nós. Não, nem todos temos o mesmo tempo, mas podemos decidir que o tempo que temos é justo e gratuito. Podemos deixar de fazer com que o código postal seja um factor determinante do tempo de vida. Podemos deixar de roubar tempo de aprendizagem às crianças negras através do uso excessivo de suspensões e expulsões. Podemos deixar de roubar tempo às pessoas negras através de longos períodos de encarceração por crimes não violentos. A polícia pode deixar de roubar o tempo e as vidas dos negros através do uso excessivo da força.
I believe the future is what we make it. But we can't get there on colored people's time or white time or your time or even my time. It's our time. Ours.
Acredito que o futuro somos nós que o fazemos. Mas não podemos chegar lá no tempo das pessoas de cor ou no tempo dos brancos ou no vosso tempo ou até no meu tempo. É no nosso tempo. Nosso.
Thank you.
Obrigada.
(Applause)
(Aplausos)