I really love color. I notice it everywhere and in everything. My family makes fun of me because I like to use colors with elusive-sounding names, like celadon ...
Eu adoro as cores. Reparo nelas em toda a parte e em todas as coisas. A minha família faz troça de mim porque eu gosto de usar cores com nomes indescritíveis, como "celadon"...
(Laughter)
(Risos)
ecru ... carmine. Now, if you haven't noticed, I am black, thank you --
caqui... carmim. Se ainda não repararam sou negra, obrigada.
(Laughter)
(Risos)
and when you grow up in a segregated city as I have, like Chicago, you're conditioned to believe that color and race can never be separate. There's hardly a day that goes by that somebody is not reminding you of your color. Racism is my city's vivid hue.
e quando crescemos numa cidade segregada, como eu cresci, como Chicago, somos condicionados a acreditar que a cor e a etnia nunca se podem separar. Dificilmente se passa um dia em que alguém não nos lembre da nossa cor. O racismo é a tonalidade vívida da minha cidade
Now, we can all agree that race is a socially constructed phenomenon, but it's often hard to see it in our everyday existence. Its pervasiveness is everywhere. The neighborhoods I grew up in were filled with a kind of culturally coded beauty. Major commercial corridors were lined with brightly painted storefronts that competed for black consumer dollars. The visual mash-ups of corner stores and beauty supply houses, currency exchanges, are where I actually, inadvertently learned the foundational principles of something I would later come to know is called color theory. I can remember being pretty intimidated by this term in college -- color theory. All these stuffy old white guys with their treatises and obscure terminologies. I'd mastered each one of their color palettes and associated principles. Color theory essentially boils down to the art and science of using color to form compositions and spaces. It's not so complicated.
Todos concordamos que o racismo é um fenómeno criado socialmente mas é difícil vê-lo na nossa existência quotidiana. Invade todos os locais. Os bairros onde cresci estavam impregnados duma beleza culturalmente codificada. As principais galerias comerciais tinham fachadas de cores vivas que competiam pelos dólares dos clientes negros. A mistura visual das lojas de esquina e os bonitos armazéns, as casas de câmbio, foram onde eu, inconscientemente, aprendi os princípios fundamentais duma coisa que, mais tarde, vim a saber que se chama a teoria da cor. Lembro-me de me sentir intimidada, na faculdade, por esta expressão — teoria da cor. Todos aqueles tipos brancos, sufocantes, com os seus tratados e terminologias obscuras. Eu tinha de dominar cada uma daquelas paletas de cores e princípios associados. A teoria da cor reduz-se, essencialmente, à arte e à ciência de usar a cor para formar composições e espaços. Não é muito complicado.
This was my bible in college. Josef Albers posited a theory about the color red, and it always has stuck with me. He argues that the iconic color of a cola can is red, and that in fact all of us can agree that it's red but the kinds of reds that we imagine are as varied as the number of people in this room. So imagine that. This color that we've all been taught since kindergarten is primary -- red, yellow, blue -- in fact is not primary, is not irreducible, is not objective but quite subjective. What?
Foi esta a minha bíblia na faculdade. Josef Albers postulou uma teoria sobre a cor vermelha que nunca esqueci. Defende que a cor icónica duma lata de Cola é o vermelho e que, de facto, todos nós concordamos que é o vermelho mas os tipos de vermelho que imaginamos são tão variados como o número de pessoas nesta sala. Imaginem uma coisa assim. Esta cor que, conforme nos ensinaram no pré-escolar, é primária — vermelho, amarelo, azul — na verdade, não é primária, não é irredutível, não é objetiva, é muito subjetiva. O quê?
(Laughter)
(Risos)
Albers called this "relational." Relational. And so it was the first time that I was able to see my own neighborhood as a relational context. Each color is affected by its neighbor. Each other is affected by its neighbor.
Albers chama-lhe "relacional". Relacional? Foi a primeira vez que eu pude ver o meu bairro como um contexto relacional. Cada cor é afetada pela cor sua vizinha. A outra cor é afetada pela cor sua vizinha.
In the 1930s, the United States government created the Federal Housing Administration, which in turn created a series of maps which were using a color-coding system to determine which neighborhoods should and should not receive federal housing loans. Their residential security map was its own kind of color palette, and in fact was more influential than all of those color palettes that I had been studying in college combined. Banks would not lend to people who lived in neighborhoods like mine. That's me in D86. Their cartographers were literally coloring in these maps and labeling that color "hazardous." Red was the new black, and black neighborhoods were colored.
Nos anos 30, o governo dos EUA criou a Administração Federal da Habitação que, por sua vez, criou uma série de mapas que usavam um sistema de codificação por cores para determinar que bairros deviam ou não deviam receber empréstimos federais para habitação. O mapa de segurança de habitação era um tipo de paleta de cores, e, com efeito, foi mais influente do que todas as paletas de cores que eu tinha estudado na faculdade. Os bancos não emprestavam a pessoas que viviam em bairros como o meu. Esta sou eu em D86. Os cartógrafos estavam a colorir estes mapas e a rotular aquela cor "perigosa". O vermelho era o novo negro, e os bairros de negros eram "de cor".
The problem persists today, and we've seen it most recently in the foreclosure crisis. In Chicago, this is best symbolized by these Xs that are emblazoned on the fronts of vacated houses on the South and West Side. The reality is that someone else's color palettes were determining my physical and artistic existence. Ridiculous.
O problema continua ainda hoje e vimo-lo mais recentemente na crise das penhoras. Em Chicago, isso ficou mais bem simbolizado com estes X que estão gravados nas fachadas das casas vagas no South Side e no West Side. A realidade é que as paletas de cor de não sei quem estavam a determinar a minha existência física e artística. Ridículo.
I decided that I'd create my own color palette and speak to the people who live where I do and alter the way that color had been defined for us. It was a palette that I didn't have to search far for and look for in a treatise, because I already knew it. What kind of painter emerges from this reality? What color is urban? What color is ghetto? What color is privilege? What color is gang-related? What color is gentrification? What color is Freddie Gray? What color is Mike Brown? Finally, I'd found a way to connect my racialized understanding of color with my theoretical understanding of color. And I gave birth to my third baby: "Color(ed) Theory."
Decidi que ia criar a minha paleta de cores e falar com as pessoas que vivem onde eu vivo e alterar a forma como a cor tinha sido definida para nós. Não tive de procurar muito para essa paleta nem precisei de consultar nenhum tratado porque eu já a conhecia. Que tipo de pintura surge desta realidade? Qual é a cor que é urbana? Qual é a cor de um gueto? Qual é a cor do privilégio? Qual é a cor indicadora de um gangue? Qual é a cor da gentrificação? Qual é a cor de Freddie Gray? Qual é a cor de Mike Brown? Por fim, encontrei uma forma de ligar a minha compreensão racial da cor com a minha compreensão teórica da cor. E dei à luz o meu terceiro bebé: "Teoria Colorida".
(Laughter)
(Risos)
"Color(ed) Theory" was a two-year artistic project in which I applied my own color palette to my own neighborhoods in my own way. Now, if I walked down 79th Street right now and I asked 50 people for the name of the slightly greener shade of cyan, they would look at me sideways.
A "Teoria Colorida" foi um projeto artístico de dois anos em que apliquei a minha paleta de cores aos meus bairros, à minha maneira. Se eu agora, descesse a 79.ª Street e perguntasse a 50 pessoas qual o nome do tom levemente mais verde do azul turquesa, olhariam para mim de esguelha.
(Laughter)
(Risos)
But if I say, "What color is Ultra Sheen?" -- oh, a smile emerges, stories about their grandmother's bathroom ensue. I mean, who needs turquoise when you have Ultra Sheen? Who needs teal when you have Ultra Sheen? Who needs ultramarine when you have ...
Mas se eu disser: "De que cor é o Ultra Sheen?" aparece logo um sorriso, seguem-se histórias da casa de banho das avós. Ou seja, quem precisa de turquesa se temos Ultra Sheen? Quem precisa de azul turquesa se temos Ultra Sheen? Quem precisa de azul ultramar se temos...
(Audience) Ultra Sheen.
(Audiência): Ultra Sheen.
(Laughter)
(Risos)
This is exactly how I derived my palette. I would ask friends and family and people with backgrounds that were similar to mine for those stories and memories. The stories weren't always happy but the colors always resonated more than the product itself. I took those theories to the street. "Ultra Sheen." "Pink Oil Moisturizer." If you're from Chicago, "Harold's Chicken Shack."
Foi exatamente assim que eu constituí a minha paleta. Perguntei a amigos e família e a pessoas com origens semelhantes à minha essas histórias e memórias. As histórias nem sempre eram felizes mas as cores sempre soavam melhor do que o produto. Levei essas teorias para a rua. turquesa "Ultra Sheen". "Óleo Hidratante Rosa". Se são de Chicago, vermelhão "Frango Frito do Harold".
(Laughter)
(Risos)
"Currency Exchange + Safe Passage." "Flamin' Red Hots." "Loose Squares" ... and "Crown Royal Bag."
amarelo "Passagem de Peões". "Pipocas cor de flamingo" azul "Loose Squares" sacos azuis de uísque Crown Royal.
I painted soon-to-be-demolished homes in a much-maligned area called Englewood. We'd gather up as much paint as I could fit in my trunk, I'd call my most trusted art homies, my amazing husband always by my side, and we'd paint every inch of the exteriors in monochromatic fashion. I wanted to understand scale in a way that I hadn't before. I wanted to apply the colors to the biggest canvas I could imagine ... houses. So I'd obsessively drive up and down familiar streets that I'd grown up on, I'd cross-reference these houses with the city's data portal to make sure that they'd been tagged for demolition -- unsalvageable, left for dead. I really wanted to understand what it meant to just let color rule, to trust my instincts, to stop asking for permission. No meetings with city officials, no community buy-in, just let color rule in my desire to paint different pictures about the South Side.
Pintei casas em vias de demolição numa área muito degradada chamada Englewood. Juntávamos tanta tinta quanto podíamos enfiar na minha carrinha, chamava os meus companheiros mais fiéis, o meu querido marido sempre ao meu lado, e pintávamos cada centímetro do exterior de modo monocromático. Eu queria perceber a escala de um modo que não tinha percebido, queria aplicar as cores à maior tela que podia imaginar. Casas. Percorri obcecadamente ruas familiares onde eu tinha crescido. Cruzava referências dessas casas com o portal de dados da cidade para assegurar que estavam destinadas a demolição, sem salvação, entregues à morte. Eu queria perceber o que significava deixar que a cor dominasse, confiar nos meus instintos, deixar de pedir autorização. Nada de reuniões com funcionários, nada de aquisição pela comunidade deixar apenas a cor dominar no meu desejo de pintar imagens diferentes para o South Side.
These houses sit in stark contrast to their fully lined counterparts. We'd paint to make them stand out like Monopoly pieces in these environments. And we'd go on these early Sunday mornings and keep going until we ran out of that paint or until someone complained.
Estas casas faziam um contraste gritante com as suas homólogas ao lado. Pintámo-las para elas sobressaírem como peças do Monopólio naqueles ambientes. Íamos aos domingos, de manhã cedo e continuávamos até ficarmos sem tinta ou até alguém se queixar.
"Hey, did you paint that?" a driver asked as I was taking this image one day.
"Ei, foram vocês que pintaram aquilo?" perguntou-nos um condutor quando eu estava a tirar esta foto.
Me, nervously: "Yes?"
E eu, nervosa: "Sim?"
His face changed. "Aw, I thought Prince was coming."
A cara dele mudou. "Oh, julgava que vinha aí o Prince".
(Laughter)
(Risos)
He had grown up on this block, and so you could imagine when he drove past and saw one of its last remaining houses mysteriously change colors overnight, it was clearly not a Crown Royal bag involved, it was a secret beacon from Prince.
Ele tinha nascido naquele quarteirão e, como imaginam, quando ele por ali passou, e viu uma das últimas casas mudar de cor misteriosamente durante a noite viu que, obviamente, não estava envolvida nenhuma garrafa de "whiskey".
(Laughter)
Devia ser um sinal secreto do Prince.
(Risos)
And though that block was almost all but erased, it was the idea that Prince could pop up in unexpected places and give free concerts in areas that the music industry and society had deemed were not valuable anymore. For him, the idea that just the image of this house was enough to bring Prince there meant that it was possible. In that moment, that little patch of Eggleston had become synonymous with royalty. And for however briefly, Eric Bennett's neighborhood had regained its value. So we traded stories despite being strangers about which high school we'd gone to and where we'd grown up, and Mrs. So-and-so's candy store -- of being kids on the South Side. And once I revealed that in fact this project had absolutely nothing to do with Prince, Eric nodded in seeming agreement, and as we parted ways and he drove off, he said, "But he could still come!"
Embora aquele quarteirão estivesse quase todo arrasado, era a ideia de que o Prince pudesse surgir em locais inesperados e dar concertos gratuitos em áreas que a indústria musical e a sociedade tinham considerado que já não tinham interesse. Para ele, a ideia de que a imagem daquela casa era suficiente para atrair o Prince significava que isso era possível. Naquele momento, aquele pedaço de Eggleston tinha-se tornado sinónimo de realeza. E, embora brevemente, o bairro de Eric Bennett tinha reconquistado o seu valor. Então, trocámos histórias, apesar de sermos estranhos, sobre os liceus onde tínhamos andado e onde tínhamos crescido e a confeitaria de sicrano e beltrano — quando éramos miúdos em South Side, Depois de eu revelar que este projeto não tinha nada a ver com o Prince, Eric abanou a cabeça, parecendo concordar e, quando nos separámos e ele seguiu caminho, disse: "Mesmo assim, ele podia vir!"
(Laughter)
(Risos)
He had assumed full ownership of this project and was not willing to relinquish it, even to me, its author. That, for me, was success.
Tinha assumido total posse deste projeto e não estava disposto a abdicar dele, mesmo sendo eu a autora. Para mim, isso foi um êxito.
I wish I could tell you that this project transformed the neighborhood and all the indices that we like to rely on: increased jobs, reduced crime, no alcoholism -- but in fact it's more gray than that. "Color(ed) Theory" catalyzed new conversations about the value of blackness. "Color(ed) Theory" made unmistakably visible the uncomfortable questions that institutions and governments have to ask themselves about why they do what they do. They ask equally difficult questions of myself and my neighborhood counterparts about our value systems and what our path to collective agency needs to be. Color gave me freedom in a way that didn't wait for permission or affirmation or inclusion. Color was something that I could rule now. One of the neighborhood members and paint crew members said it best when he said, "This didn't change the neighborhood, it changed people's perceptions about what's possible for their neighborhood," in big and small ways.
Gostava de poder dizer que este projeto transformou o bairro e todos os indícios em que gostamos de nos apoiar: — mais empregos, menos crimes, fim do alcoolismo — mas, na verdade, o panorama é mais sombrio. A "Teoria Colorida" catalisou novas conversas sobre o valor da negritude. A "Teoria Colorida" tornou visível, de forma inconfundível, as perguntas desconfortáveis que as instituições e os governos têm de fazer a si mesmos sobre porque é que fazem o que fazem. Também levantam perguntas difíceis sobre mim mesma e os meus vizinhos, sobre os nossos sistemas de valores e qual deve ser o nosso caminho para uma ação coletiva. A cor deu-me liberdade duma forma que não precisou de esperar autorização nem afirmação, nem inclusão. A cor era uma coisa que eu podia dominar. Um dos membros do bairro e da equipa de pintura disse-o melhor: "Isto não alterou o bairro, "alterou a perceção das pessoas quanto ao que é possível para o bairro". De formas pequenas e grandes.
Passersby would ask me, "Why are you painting that house when you know the city's just going to come and tear it down?" At the time, I had no idea, I just knew that I had to do something. I would give anything to better understand color as both a medium and as an inescapable way that I am identified in society. If I have any hope of making the world better, I have to love and leverage both of these ways that I'm understood, and therein lies the value and the hue.
Quem passava perguntava-me: "Porque é que estão a pintar aquela casa "se sabem que a cidade vai deitá-la abaixo?" Na altura, eu não tinha a mínima ideia, só sabia que tinha de fazer qualquer coisa. Eu daria tudo para compreender melhor a cor, enquanto um meio e enquanto uma forma inevitável de que eu me identificava na sociedade. Se eu tenho esperança de tornar o mundo melhor, tenho de amar e influenciar estas formas de ser entendida, e é aí que reside o valor e o tom.
Thank you.
Obrigada.
(Applause and cheers)
(Aplausos)